domingo, 1 de abril de 2012

O maquiavelismo da macroeconomia keynesiana

Neste dia da mentira, homenagem  ao plano financeiro 
Formulo uma pergunta: após quatro séculos, o que resta de vivo no Príncipe? Podem os conselhos de Maquiavel ser ainda de alguma utilidade para aqueles que dirigem os Estados modernos? Circunscreve-se o valor do sistema político à época em que foi escrito e é, conseqüentemente, limitado e, em parte decrépito? Ou é, ao contrário, universal e atual, mais especialmente atual? Respondo a estas interrogações. Afirmo que a doutrina de Maquiavel vive hoje mais do que há quatro séculos, pois ainda que as formas exteriores de nossa existência tenham mudado consideravelmente, não se operaram modificações profundas, nem no espírito dos indivíduos, nem no dos povos. BENITO MUSSOLINI
"A escola maquiavelista considera fundamental e inelutável essa distinção entre o pequeno número de poderosos e a massa. " (SOREL, G., cits. SCHWARTZENBERG, R.-G., Sociologia Política: 226.) Mutatis mutandis o sofisma marxiano propiciou que todo tipo de gangster se agadanhasse do poder aliciando a gigantesca base popular:
Ora, a revolução que cabe melhor no esquema maquiavelista e pior no esquema marxista é a revolução soviética, típica tomada de poder por uma minoria que não era nem detentora dos meios de produção, nem representativa da massa da população, nem exprimia a classe socialmente dominante, mas que, organizada em partido, apoderou-se do Estado. ARON, Raymond, La lutte des classes, 1964, p. 194/195; cit. SCHWARTZENBERG, Roger-Gérard, idem: 233
A Bolchevique apavorara o mundo mostrando a capacidade obtida junto a classe operária. Como manter o capitalismo no meio das revoltas que se espalhavam pela Europa, e até no Eua? O fascismo apresentou a solução:
Il corporativismo supera il socialismo e supera il liberalismo: crea una nueva sintesi.
BENITO MUSSOLINI.
Dessarte o mundo era repartido entre o fascismo e o comunismo: 
Aos bolchevistas e socialistas se contrapunham, entre os inimigos da Velha República, as idéias fascistas, principalmente depois da Marcha sobre Roma e da ascensão de Mussolini ao poder na Itália. A partir daí, comunistas e socialistas de um lado, e fascistas e nazistas de outro, iriam disputar espaço na vida conturbada da República brasileira. ANDRADE, M. C., A Revolução de 30 - Da República Velha ao Estado Novo: 8
O Estado rooseveltiano ou a república da França apresentava, na época histórica do fascismo, características do Estado intervencionista (função econômica do Estado e fortalecimento do Executivo, por exemplo) que marcavam igualmente os fascismos alemão e italiano, sem que isto tenha significado o Estado de exceção. POULANTZAS, N.: 240
Ambos possuiam o "inimigo comum", "bode expiatório" de todas mazelas sociais: o liberalismo. O fito, entretanto, se fez óbvio. Ambos e principalmente Keynes visavam  dominar todo mundo. "Keynes, longe de ser o salvador do capitalismo, almejava substituir a livre iniciativa por uma economia controlada pelo estado - sendo que o estado seria gerido por 'especialistas' como ele." (LEWIS, Hunter, cit. ): Com o Crash de 1929 até mesmo os anglo-saxões se convenceram. John Locke e Adam Smith foram parar nas prateleiras empoeiradas da última stand. Marx, obviamente, tomou conta da sofrível biblioteca oriental, mas do lado de cá, quem colocar no tremendo hiato? Que modelo econômico poderia enfrentar o cientismo dialético-materialista, já que o próprio capital tem seu lastro na matéria? Pelo túnel surgiu o gladiador, em formulação artificial e mistificada,  like a seu famoso adversário: 
Em 1937, eu estive na Universidade de Cambridge em várias ocasiões para estudar John Maynard Keynes. Infelizmente, aquele foi o ano em que Keynes sofreu o primeiro ataque do coração, e ele não lecionou e nem chegou sequer a aparecer. Acabei finalmente encontrando-o em Washington durante a Segunda Guerra: certa vez, quando eu dirigia as operações de controle de preços, ele apareceu em meu escritório, como narro aqui, para me entregar um memorando que escrevera sobre a política de preços para os porcos. Este é um dos poucos documentos ausentes das suas obras completas. Após a publicação desta resenha, muitas pessoas me perguntaram se eu havia lido os vinte e nove volumes da coleção (na realidade trinta, pois um é dividido em duas partes). Respondo aqui que muitos deles eu havia lido antes de serem compilados; outros eu agora li com interesse, fascínio mesmo; alguns eu folheei, uma palavra repleta de ambigüidade; e houve outros ainda em que recorri a um processo de amostragem que, prefiro acreditar, foi bastante criterioso. Quando a verdade é inevitável, nem mesmo um rematado mentiroso (que estou certo não ser) deve esquivar-se dela. GALBRAITH, John Keneth 1989: 31
 A carta escrita a George Bernard Shaw (cit. ROSSETI: 99) mostra como a pretensão de Keynes só encontrava rival na precedência de Marx:
Para que você compreenda meu estado de espírito é necessário saber que julgo estar escrevendo um livro sobre Teoria Econômica, que revolucionará em grande parte - não imediatamente mas, creio, no curso dos próximos dez anos - o modo pelo qual o mundo vê este problemas. Não posso esperar que você ou qualquer outra pessoa acredite nisso, agora. Mas eu mesmo não tenho apenas esperança de que tal prognóstico seja verdadeiro - no íntimo.
A receita se mostrava de simplicidade acaciana, apropriada à mediocridade reinante:
Qualquer gasto é preferível a nenhum gasto. Abra buracos e os tape de novo. Ou pinte a Floresta Negra. Se não puder pagar aos indivíduos um salário para que façam alguma coisa de útil, pague-lhes para que façam algo de idiota. Gastando-se assim a poupança, elevam-se os salários, o que aumenta o consumo que, por sua vez, aumenta a produção de bens e serviços.  KEYNES, J.M., cit. MISES, Ludwig von, As Seis Lições, p. 527
Cousas ainda mais idiotas do que pintar Floresta Negra foram a burocracia instalada, e o preparo de grandes exércitos rumo à guerra. Todavia, se a estultice era deplorável, muito pior seria a estupidez comunista. "O medo atingira o povo e a liderança seria entregue àqueles que oferecessem uma saída fácil, a qualquer preço. A época estava madura para a da economia a serviço de um novo sonho americano...a solução fascista. (POLANYI: 275). Dessarte, Eua, Alemanha, Itália,  a rigor todo o lado de cá  assumiu  por completo a panacéia:. "A recuperação econômica da Alemanha depende de um enorme fluxo circular de papéis, com os Estados Unidos dando empréstimos à Alemanha, que usa os recursos para reparações de guerra feitas à Inglaterra e à França, que por sua vez pagam suas dívidas com os Estados Unidos." (KEYNES, J.M., cit. GUEDES, P.Pontes de papel e alicerces do futuro.)  "Em adição, na esteira do que é hoje chamado deevolução Keynesiana, o Estado encarrega-se de regular a renda total disponível na economia para a compra de bens e serviços." (GALBRAITH, 1968:9)
Desde a publicação, em 1936, da primeira edição da Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, de John Maynard Keynes, a quase totalidade dos economistas passou a acreditar nas chamadas políticas de ‘sintonia fina’, isto é, em uma pretensa capacidade dos governos de, mediante intervenções na ordem espontânea de mercado, evitar flutuações ‘indesejáveis’ no emprego dos fatores de produção e, assim, impedir as oscilações na produção. SKIDELSKI: 5
“Keynes não respondeu por escrito a nenhum dos comentários críticos ao TP - (Russel, Sanger, Nicod, Jeffreys)” (Schwartz: 145).
Mesmo na década de 1940 não faltaram críticas a Keynes, mas os governos gostavam da natureza prática de sua mensagem. Nos Estados Unidos da década de 1930, (o ardil do New Deal) foi uma inspiração acerca daquilo que os governos pareciam estar aptos a fazer para salvar a economia nos casos de depressões profundas. ORMEROD, P., 1996: 131
Para aqueles raros desafiantes, incrédulos e céticos que duvidavam da capacidade do Estado produzir ou incentivar a busca pela riqueza através do expediente, uma vez que o castelo de areia projetado não resistiria maior prazo, o maquiavélico realista preferia ser lacônico: "A longo prazo estaremos todos mortos."  O gay de Bloomsbury se deu bem como pitonisa. Muito antes de vencer o longo prazo  Roosevelt morreu, o próprio Keynes se foi em 1946,  Hitler e Getúlio Vargas se suicidaram e Mussolini foi trucidado. E até chegar a fatalidade, todos gozaram as delícias do capital. "A despeito de três grandes reveses - em 1920, 1928 e 1937-8 - Keynes aumentou seu ativo líquido de 16.315 libras em 1919 para 411.238 - equivalentes a 10 milhões de libras em valores atuais - quando morreu." (SKIDELSKI: 35) 
Aquinhoados com uma montanha de migalhas trabalhistas por meio de emissão de papel-moeda, latu sensu tal qual cheque-predatado, todavia, a classe operária não se deu conta que estava sendo empacotada para presente.
Foi o próprio Estado que criou a necessidade política do estado de bem-estar. Quanto mais bem-estar é criado por tributação (em parte rebatizada como contribuições de seguridade social), mais se enfraquece o financiamento privado. Quanto mais o bem-estar privado foi inibido, tanto mais bem-estar público foi necessário criar. ARTHUR SELDON
A artimanha possibilitou a criação de departamentos nacionais de agricultura, de interior, de administração, de previdência e bem-estar social, controles - Trade Commission, Communications Commission e Interstate Commerce Commission, etc. Em 1954 os pesquisadores Umbreit, Hunt e Kinter levantaram o impressionante dado: "Mais de 115.000 diferentes entidades governamentais, da esfera federal aos órgãos distritais de combate aos mosquitos arrecadavam e aplicavam cerca de 100 bilhões de dólares por ano, aproximadamente 25% do Produto Nacional Bruto norte-americano." (Umbreit, Myron, Hunt, Elgin F. & Kinter, Charles V. Economics - an Introcuction to Principles and Problems, cit. Rosseti: 347). "A burocracia americana, que se contentava com 350.000 funcionários, saltou para 5 milhões hoje." (Revista Veja, 29/4/1992: 47)
O Estado comprovou ser um gastador insaciável, um desperdiçador incomparável. Na verdade, no século XX, ele revelou-se o mais assassino de todos os tempos. O político de massas oferecia o New Deal, grandes sociedades, e estados de bem-estar social; os fanáticos atravessaram décadas e décadas e hemisférios; charlatães, carismáticos, exaltados, assassinos de massas, unidos pela crença de que a política era a cura dos males. JOHNSON, P,  616.
Assim, por lá, na Europa, na Argentina, Venezuela, Brasil e alhures o primeiro de abril keynesiano vem sendo totalmente exitoso: "O período em que o welfare state se fortaleceu, de meados da década de 1970 até o presente, também foi aquele durante o qual os níveis de pobreza (relativa) aumentaram na maioria das sociedades industrializadas." (GIDDENS, 1996: 164).
Criadores de modelos macroeconômicos finalmente descobriram aquilo que Henry Hazlitt e John T. Flynn (entre outros) já sabiam desde os anos 1930: o New Deal de Franklin Delano Roosevelt (FDR) alongou e aprofundou a Grande Depressão. Não passa de mito a tese de que FDR 'nos tirou da Depressão' e 'salvou o capitalismo de si próprio', como tem sido ensinado a gerações de americanos (e, conseqüentemente, ao resto do mundo) em todas as instituições educacionais estatais. Thomas J. DiLorenzo
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa. SELDON: 60
No Eua, na Europa e alures é flagrante os graves danos causados por essa irresponsabilidade. 
A teoria macroeconômica não tem procurado superar seus outros defeitos mais sérios. Inspirada na errada crença de que deveria imitar os métodos das ciências naturais, especialmente os da física, acabou abstraindo-se das variáveis essenciais mas não quantificáveis, tratando uma série de eventos históricos como se fosse repetitiva, determinística e reversível. SIMPSON, D.: 6
O Brasil, dono de ginga e acostumado a jogar para a platéia,  consegue ludibriar não só o povo como grande parte dos segmentos empresariais e intelectuais, assim arrastando a insanidade até os limites somente alcançados pelo nazismo, pelo fascismo e pelo comunismo. "A corrupção endêmica nas entidades estatais, nos tempos modernos, é tão velha quanto a dos primeiros tempos. Apenas mais sofisticada. Carl Schmitt (“O Conceito do Político”) e Maquiavel (“O Príncipe”) continuam atualíssimos." (A velhice dos tempos modernos)
O que agora excita... é o efeito, considerado desastroso, das políticas keynesianas adotadas pelos Estados econômica e politicamente mais avançados, especialmente sob o impulso dos partidos social-democráticos ou trabalhistas. Nestes últimos anos lemos não sei quantas páginas sempre mais polêmicas e sempre mais documentadas sobre a crise deste Estado capitalista mascarado que é o Estado do bem-estar, sobre a hipócrita integração que levou o movimento operário à grande máquina do Estado das multinacionais. Agora estamos tendo outras tantas páginas não menos doutas e documentadas sobre a crise deste Estado socialista igualmente mascarado que, com o pretexto de realizar a justiça social (que Hayek declarou não saber exatamente o que seja), está destruindo a liberdade individual e reduzindo o indivíduo a um infante guiado do berço à tumba pela mão de um tutor tão solícito quanto sufocante BOBBIO, Norberto, O Futuro da Democracia: 132
A perda da compreensão dos fatores que determinam tanto o valor do dinheiro como os efeitos dos eventos monetários sobre o valor de bens específicos é um dos principais danos que a avalanche keynesiana causou ao entendimento do processo econômico. HAYEK, F., 1986: 73
É o que veremos no decurso, não mais como primeiro de abril, mas já rumando à gravidade de um Tiradentes, no 21, ou, quem sabe, pelas imediações do Dia das Mães.

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