sábado, 27 de agosto de 2011

Marcha pelo Estado laico

Não é freqüente o caso em que a manipulação ideológica da religião com fins políticos é o catalisador real de tensões e divisões e, às vezes, da violência na sociedade? PAPA BENTO XVI, Folha de São Paulo, 9/5/2009 
Na devotada Espanha:dessa semana o próprio Papa causou comoção
Madri, 18 ago (Prensa Latina) Cerca de vinte feridos e detidos foi o saldo da manifestação que associações laicas protagonizaram aqui contra o financiamento público da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e a visita de Benedicto XVI. Momentos de grande tensão viveram-se até à meia-noite na praça citada, em pleno coração da capital, entre os participantes da marcha -uns cinco mil segundo fontes policiais- e peregrinos da JMJ.
O que acho interessante ainda é durante toda visita o Papa receberá pompas de chefe de estado. Fala sério! Desde quando um lugar do tamanho de uns quarteirões é um país? O que ele produz além de pedófilos? Como eles arrecadam impostos? Quem são os contribuintes? Nada, nada. O Vaticano não é um país, o Papa não é chefe de estado (não é merda nenhuma) e esses protestos são mais que justificáveis. Ninguém deve ser obrigado a contribuir com eventos puramente religiosos Da Marcha Laica na Espanha e a visita inconveniente do Papa ...
Exceto os árabes, ainda em revolução, e os períodos que antecederam as revoluções Gloriosa e Francesa,  não me consta outro momento de revolta da população contra a milenar instituição. Não pesquisei a ocorrência em outras partes do globo, mas por aqui a centelha se espalhou. "A Marcha pelo Estado Laico será realizada em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis e Brasília, de acordo com este calendário.",
Era um frio no domingo, um tempo fechado pronto para o desânimo. Mas tinha algo de importante em São Paulo e no Recife, a tal Marcha pelo Estado Laico. Talvez, sem menosprezar outras passeatas que tem ocorrido, foi a mais importante de todas elas. E naquela tarde fria, eu um pouco doente, até me senti saudável naquela Marcha. Acho que foi o milagre da laicidade.
No abre-alas vem o a oração de Bakunin: 
Estamos convencidos de que o pior mal, tanto para a humanidade quanto para a verdade e o progresso, é a Igreja. Poderia ser de outra forma? Pois não cabe à Igreja a tarefa de perverter as gerações mais novas e especialmente as mulheres? Não é ela que, através de seus dogmas, suas mentiras, sua estupidez e sua ignomínia tenta destruir o pensamento lógico e a ciência? Não é ela que ameaça a dignidade do homem, pervertendo suas idéias sobre o que é bom e o que é justo? Não é ela que transforma os vivos em cadáveres, despreza a liberdade e prega a eterna escravidão das massas em benefício dos tiranos e dos exploradores? Não é essa mesma Igreja implacável que procura perpetuar o reino das sombras, da ignorância, da pobreza e do crime? Se não quisermos que o progresso seja, em nosso século, um sonho mentiroso, devemos acabar com a Igreja.
"Se até a cachorra é laica, por que o Estado não?"
Contemporaneamente o mito vai se identificando com a ideologia política: é que o processo mitológico sempre coloca suas crenças a serviço de uma ideologia. Barthes, coincidindo com este entendimento, afirma que através do mito consegue-se transformar a história em ideologia. WARAT, Luiz Alberto, Mitos e Teorias na Interpretação da Lei: 128
Conseqüentemente, a permanente necessidade da ideologia persuasiva sempre levou o Estado a utilizar os intelectuais formadores da opinião nacional. Em épocas remotas, os intelectuais eram invariavelmente os sacerdotes, e, por conseguinte, conforme indicamos, tínhamos a antiga aliança entre a Igreja e o Estado, o Trono e o Altar.. ROTHBARD, Murray, A Ética da Liberdade
A famosa Igreja Universal, (por certo deve congregar até em Júpiter) na Terra dona de incontáveis imóveis, também de poderosas cadeias de rádio, tvs e de empresas jornalísticas, com assento em quase centena de cadeiras do Congresso Nacional, dona de partido político, capaz de eleger até mesmo o vice-presidente recém passado, fruto de uma negociação direta por meio de mensalão, seria mesmo esta multinacional inventada pelo malandro carioca sem fins lucrativos? Partido ligado à Universal fez campanha com equipe da Record  Pois ela e seu partideco parecem estar com os dias contados:  MPF denuncia Edir Macedo por evasão de divisas e estelionato Líder da Igreja Universal e três dirigentes também foram denunciados por formação de quadrilha.
E o que dizer desta outra, mais "modesta", com os pés e os olhos em nosso mundo?:
Toda essa intensa atividade é movida pelo amor ao povo, ao patriotismo?  Digo não pela pátria, mas pela humanidade?
Culto religioso agita o Palácio do Planalto
Religião não assunto pertinente ao Estado. São  excludentes.  "É que a Comunidade dos Santos não é deste mundo, embora aqui tenha dado origem a cidadãos através dos quais se realiza sua peregrinação até que chegue o tempo de seu reino, quando todos se congregarão".(Santo Agostinho: De Civitae Dei, Livro XV, cap. I.) O professor de Física Quântica  Moacir Lima (Afinal, quem somos nós? : 116) concorda: "Se acreditamos em um Deus justo, acima de qualquer outro atributo, só podemos vislumbrar essa justiça via reencarnação. Se não, como explicar essa justiça divina dentro de um mundo de contrastes e desigualdades abismais? Como entender o gênio e a besta criados ao acaso, por mero capricho, e conciliar sua existência com a justiça do Criador?" Eis um bom motivo para o Estado não se meter.
Quando se coloca o centro da gravidade da vida não na vida, mas no além - no nada -, então se priva a vida de qualquer centro de gravidade. NIETZSCHE, F., O anticristo: maldição contra o cristianismo:78
Sócrates resolveu antecipar sua partida. por acreditar na "reportagem" de Orfeu. "Aos segundos diz imaginar que a morte deva ser um grande bem, seja ela um sono tranquilo ou o convívio no Hades com os grandes homens que lá habitam". (PLATÃO, Apologia de Sócrates. LPM, 2009: 16) 
A alma . . . se ela partir pura, não arrastando consigo nada do corpo, . . . parte para o que é como ela mesma, para o invisível, divino, imortal e sábio, e quando chega ali, ela é feliz, liberta do erro, e da tolice, e do medo . . . e de todos os outros males humanos, e . . . vive em verdade por todo o porvir com os deuses. PLATÃO. Phaedo (Fédon), 80, D, E; 81, A.
Mas que outras razões recomendam ao Estado  Democrático de Direito não se ligar em religiões? Seria apenas para atender o princípio da neiutralidade na contenda dos proselistas? Não poucos entendem que isso já seria o suficiente:  
Um Estado secular ou estado laico é uma nação ou país que é oficialmente neutro em relação às questões religiosas, não apoiando nem se opondo a nenhuma religião. Um estado secular trata todos seus cidadãos igualmentes independentes de sua escolha religiosa e não deve dar preferência a indivíduos de certa religião. Estado teocrático ou teocracia é o contrário de um estado secular, ou seja, é um estado onde há uma única religião oficial (como é o caso do Vaticano e do Irã).
Existe, contudo, razões mais profundas para o Estado se manter afastado da religião.
Para falar a verdade, olhando a religião como um modo de acorrentamento da caverna de Platão, não se pode deixar de pensar que a humanidade como um todo tem uma certa tendência a gostar de ser mantida acorrentada na ignorância. BELLI, M. O Mito da Caverna de Platão e o Paradigma da Representatividade 
Ela  é escravagista par excellence.“Na concepção cristã, o trabalho representa o pagamento do pecado, um ato de expiação que sugere necessidade, aflição e miséria.” (ROHMANN, C: 122)
Em virtude dessa estreita associação entre o poder do Estado e a autoridade religiosa, o catolicismo, em toda a parte em que predominava, opunha-se a liberdade de consciência e as liberdades democráticas, com o apoio do braço secular do poder civil.  GUSDORF :80.
Depois saborear o laudo banquete que lhe foi oferecido na formosa Florença, seu mais moderno inspirador afiançou: "Os fins justificam os meios",
Temos uma grande dívida para com Maquiavel e alguns outros, que descreveram o que os homens fazem e o que não deveriam fazer, pois não é possível unir a duplicidade da serpente e a inocência da pomba, quando não se conhecem exatamente todos os recursos da serpente: sua baixeza rasteira, sua flexibilidade pérfida, o ódio que afia o dardo. BACON, Francis, Advencement of Learning, 1629, II, XXXI.
"A corrupção endêmica nas entidades estatais, nos tempos modernos, é tão velha quanto a dos primeiros tempos. Apenas mais sofisticada. Carl Schmitt (“O Conceito do Político”) e Maquiavel (“O Príncipe”) continuam atualíssimos." A velhice dos tempos modernos
Isso tudo é apenas amostra-grátis dos malefícios causados pela religião, aimda mais contundentes quando na carona do Estado, como sói acontecer.



terça-feira, 23 de agosto de 2011

A oportunidade da Líbia

"'São meus filhos, e meus bens'.
Com isso o tolo se angustia.
Como? Nem nosso 'eu' é nosso.
DARMAPADA: 55 
Ao longo dos séculos a enorme região foi palco de lutas sangrentas. Sua posição geográfica é estratégica, de passagem, interface entre o exótico continente africano e a glamourosa Europa. .Nas águas mediterrâneas  emergiu a civilização; , e com ela, disputas sem fim. .Por temor do risco, de perder a hegemonia,  do norte veio a ordem: Delenda Cartago! A Itália  deixou a Líbia ao cabo da II Grande Guerra, não sem reformar considerável estirpe.
O território abriga diversas etnias, espalhadas pelo imenso deserto. Comunicações viajam de camelo. Exceto a restrita casta dominante, ninguém mais tem noção de sistema político, que dirá democracia. Teoricamente ela oferece a liberdade, mas na Rússia  pouco se vê democrático, por exemplo. A razão é a mesma: não há cultura da democracia, em primeiro plano. E no segundo, a inviabilidade da democracia prosperar em países de grande extensão territorial. Contorna-se a restrição de Montesquieu se o país for dividido em estados federados, tipo reforma-agrária do poder, quando então as popúlações podem participar com afinco, sem perderem suas respectivas tradições.
Vejam com que arte, na comuna americana, tomou-se o cuidado, se assim posso me exprimir, de espalhar o poder, a fim de interessar mais gente pela coisa pública. O poder administrativo nos Estados Unidos não oferece em sua constituição nada central nem hierárquico; é isso que o faz não ser percebido. O poder existe, mas não se sabe onde encontrar seu representante. TOCQUEVILLE, 1998: 79
Somente através da união federativa a república, que durante os séculos posteriores à República Romana foi considerada uma forma de governo adequada aos pequenos Estados, pode tornar-se a forma de governo de um grande Estado como os Estados Unidos da América. MABLY, cit. BOBBIO, 1987: 103) reconheceu a eficácia da solução Observações sobre o Governo e as Leis dos Estados Unidos da América (1784):
Vencida a Secessão os EUA poderiam ter enfeixado radicalmente o poder, como fariam italianos e germânicos. “Se a Alemanha não tivesse sido vitoriosa em 1870, que tragédia para a raça humana teria sido evitada!”(EINSTEIN, A. New York Times, 23/6/1946; cit. PAIS, ABRAHAM, Einstein viveu aqui: 276).  Grosso modo os norteamericanos mantiveram a sabedoria dos bisavós. O Reino Unido se criou respeitando as peculiaridades dos locais onde estendeu o manto, a ponto até de se retirar pacificamente, como no caso da Índia, que preferiu enfrentar a miséria com a esperança oferecida pelo asceta Gandhi. Pela insensatez, de cara perderam um território imenso, chamado Paquistão. A Alemanha retornou ao seu princípio de regiões autônomas graças ao feliz gerenciamento que a tornou República Federal da Alemanha incomparavelmengte mais exitosa do que a vizinha tocada soviética - a  RDA - a República Democrática Alemã. Os germânicos ocidentais, e agora os próprios vizinhos, depois, então, de passadas todas as consequências trazidas pelo estupendo vendaval napoleônico, aquela valorosa gente pode retornar a viver  em paz. “Quem ler a admirável obra de Tácito sobre os costumes dos Germanos verá que é deles que os ingleses extraíram a idéia do governo político. Este belo sistema foi encontrado na floresta”. (MONTESQUIEU, Esprit des Lois, Livro XI, cap. 5) "As cidades da Alemanha são absolutamente livres: cercadas por pequenas campanhas, elas obedecem ao Imperador quando bom lhes parece, não o temem, como não temem nenhum de seus poderosos vizinhos.” (MAQUIAVEL O Príncipe, Quomodo omniun principatuum vires perpendi debeant, De que modo devemos medir as forças de todos os principados: 61)
Gorbatchev bem conhecia os percalços acarretados às nações pelos aventureiros messiânicos que se agadanham do Estado para escravizar o povo inteiro. Da Perestroika emergiu a Rússia federativa. O intento todavia  se frustrou diante do inesperado, da tocaia dos príncipes, sempre à espreita de povo aculturado pelo velho padrão. Nada de novo no front ocidental:  Brasil conhece a artimanha desde a proclamação da República, instante também de Bismarck. Nós ainda alternamos períodos mais ou menos democráticos, mas o par de gigantes - a Rússia e a Líbia - não tem a menor tradição no sistema que a civilização consagrou. Quando a Itália se enredou no fascismo, daí irradiando o método ao globo inteiro, começando pela nazista que lhe aperfeiçoou, nenhum deles tinha alguma experiência ou tradição democrática. Com um sistema que ninguém sabe como é, um governo ao léo é presa fácil a qualquer populista - o Eua bem sabe quantas vezes foi ludibriado, se bem que outras tantas era isso mesmo que almejavam as negociatas internacionais. Deram razão a quem poucas vezes teve razão: "Fazemos lembrar que as partes confrontantes na Líbia lutam pelo controle sobre jazidas de petróleo. O ouro negro é única fonte do bem-estar do país e quem controla a sua extração praticamente governa o país." Quem possui o petróleo, governa a Líbia: Voz da Rússia 
O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, recebe em Milão o representante do Conselho de Transição da Líbia, Mahmud Jibril. A empresa petrolífera italiana - Eni - deve assinar um acordo com os rebeldes na segunda-feira de fornecimento de petróleo para suprir suas necessidades imediatas, sem pagamento imediato. A empresa vai receber em petróleo futuramente, segundo o presidente da companhia, Paolo Scaroni.
Muy amigo. Não é mesmo a hora do câmbio?
Por sua história e situação geopolítica, quase uma terra sem dono, a Líbia oferece grande oportunidade a qualquer aventureiro, porém igual chance para se tentar inovar um pouco além dos péssimos gerenciamentos encaminhados pelos norteamericanos no cenário internacional: Tem lá seus bons exemplos, mas o Eua parece sem paciência na função de professor. O antiquado Tio Sam  prefere atalhar caminho ao objetivo que persegue, mormente havendo algum  poço de petróleo para abastecer o gigantesco tanque do Leviathan yankee.  Deus-terreno conta com  presumível beneplácido  de boa parte do globo, porquanto age em nome da justiça, e enfrenta  a impostura, acrescido da elevada moral de restaurador. Desta vez, contudo, a Águia deverá ser no máximo coadjuvante. "Os desdobramentos aparentemente positivos da guerra na Líbia mostram que o envolvimento 'esperto' dos EUA pode ser mais eficiente do que as intervenções à moda antiga, das quais o governo Bush é o exemplo mais recente." Obama está levando a sério a teoria do 'poder esperto' Marcos Guterman, Estadão, 25/8/2011.
O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar. MIRANDA, Pontes de, cit. MOREIRA: 103
Para chegarmos até aqui, nesta proa do EspaçoTempo, já cruzamos intempéries inimagináveis. De tudo quanto já experimentado  não se sabe bem o que é certo, sempre conservamos dúvidas, mas colhemos a certeza do que é errado, prejudicial, desastroso.  Pode até levar um cartão cor-de-rosa pelo excessivo romantismo, ainda mais pelos formidáveis interesses materiais em jogo, e não poucas alcatéias, mas ou se adota os preceitos mais fundamentais da liberdade, ou veremos em seguida uma ditadura aviltada pelo espírito religioso, ou coisa que o valha. Esta possibilidade se minimiza se as cuturas divergentes conservarem suas divergências com o máximo de autonomia que puder ser oferecida sem risco de partir o país, claro,  para que cada região seja capaz de se auto-determinar..
O federalismo é o princípio mais profundamente inovador da era contemporânea... Quando se diz que o federalismo marca o rumo da história contemporânea, no sentido de uma efetiva ação de liberdade, significa dizer que o federalismo executa, no âmbito da sociedade civil, o acordo entre o poder central e os grupos periféricos, com um maior respeito às autonomias das partes individuais do que se refere ao todo, e com um menor fortalecimento do todo no que se refere às partes, levando-se em conta o que ocorreu nos sistemas históricos até aqui conhecidos. BOBBIO, N., 2001:16
Por esta estratégia de abrangente desenvolvimento  a Nação  distancia o risco de concentrar tudo em torno de uma paixão, evidentemente platônica, e por fim destruidora. A equipe da ONU encarregada da transição pode e deve organizar o povo dentro dos critérios do próprio povo. Ela tem a melhor equipe de costureiros constitucionais para uma vestimenta compatível com a época, aspirações, carências, e conhecimentos  dos habitantes das tres grandes regiões que compõem o país dos líbios.
"Cada qual tem seus próprios matizes, mas estão conectados por suas implicações gerais. O que se precisa é de uma economia nova, orgânica, com um toque leve, suficientemente sofisticado para permitir a interação - que, para os propósitos deste livro, chamo de 'O efeito borboleta'." (ORMEROD, Paul, 2000: 16)
."A superioridade dos sistemas auto-organizadores é ilustrada pelos sistemas biológicos, em que produtos complexos são formados com uma precisão, uma eficiência, uma velocidade sem iguais." (Biebracher, C., Nicolis, G.; Schuster; Self Organizations in the Physico-Chemical and Life Sciences; Relatório EUR 16546, European Commission, 1995; cit. Prigogine: 75).
Pela não-ação tudo pode ser feito
Lao-Tze 
Razão do Estado Mínimo. "Onde quer que vejamos vida, de bactérias a ecossistemas de grande escala, observamos redes com componentes que interagem uns com os outros de maneira tal que toda a rede regula e organiza a si mesma." (CAPRA, F.,  1996: 176) 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A desorientação do Eua

"So help me God"
Cumulunimbus
Na época em que Weber visitou os Estados Unidos, a imagem do trabalho havia perdido o status e a ética do trabalho protestante havia desaparecido WEBER, Max, cit. DIGGINS, John Patrick: 24
O número de empresas americanas entre as  500 maiores listadas pela revista Fortune, é o mais baixo já consignado. . EUA e o risco de recessão (19/8/2011) A China, cujas empresas são cada vez mais poderosas, aparece pela primeira vez na lista das dez primeiras. O Japão vem em segundo. Veja: Amistoso de basquete entre EUA e China termina em briga  (18/8/2011) SorryNo point de Barack Obama convém  parar com as brama.
Ao se dedicar a um estudo do mundo contemporâneo, Weber concluiu ser inevitável que as sociedades caissem, cada vez mais, sob a influência de burocracias crescentes e potencialmente totalitárias. Reconhecendo o grau em que isso poderia ameacar a liberdade humana, Weber postulou a idéia da liderança 'carismática' como meio de fugir a mortífera tirania do controle estatal. O próprio Weber admitia os perigos, assim como as vantagens da autoridade carismática, perigos estes que as carreiras de Hitler e Mussolini logo tornariam gritantes. BURNS Edward McNall, LERNER Robert E. e STANDISH, Meacham: 710
A verdade insofismável é que Obama é ruim de doer; trata-se de uma dos mais vistosos fiascos da história política dos EUA. Ontem, irritados com a pressão, nada menos de 37 mil seguidores do presidente no Twitter resolveram desertar. Perceberam que estavam sendo vítimas de uma espécie de assédio — e que Obama, afinal, está molestando as instituições do país. Não por acaso, hoje seu governo é aprovado apenas por 40% dos americanos. Obama é um fiasco e está preparado para presidir o Findomundistão!; - 30/7/2011  
Mr. Obama é um gentleman. E chefe de uma família exemplar. Não creio que alguém possa colocar em xeque sua honestidade ou caráter. Muito inteligente (alguéem duvida),  inovador, marketeiro nato. É um sujeito alegre, otimista, carismático mesmo. Irradia confiança. S. Exa.  é produto de um blend ainda não experimentado pelo Eua - um tempero de cultura asiática com africana, sob a égide dos costumes norteamericanos. Tinha tudo para dar certo, mas... no que propriamente a cultura asiática ou africana poderia acrescentar ao país mais prospero do mundo, um dos criadores da democracia? Na África os ancestrais estão bem guardados, a Ásia ate´anda meio inimiga -  o perigo amarelo preocupa tanto que andam às rixas. Como não  se valer dos últimos e mais altos ensinamentos da excelente Universidade do país de maior tradição democrática ?
Graduou-se em Ciências Políticas pela Universidade Columbia em Nova Iorque, para depois cursar Direito na Universidade de Harvard, graduando-se em 1991. Foi o primeiro afro-americano a ser presidente da Harvard Law Review.
(Barack Obama – Wikipédia)
Quando o acadêmico ingressou na faculdade  Reagan levava ao auge o sentimento patriótico norteamericano.A Águia voava com inédita desenvoltura, período de crescimento hiperacelerado  ao natural, por espontaneidade. Na arena internacional o ator de Hollywood ganhava a Guerra nas Estrelas. O malvado capitulou baixando o muro sem receber nenhum tiro. A guerra era fria. O êxito de Reagan foi tão forte que pela esteira ainda ascendeu Bush pai, e depois o princepezinho, cada qual com dois mandatos. O que o artista fez de bom se desmanchou nas mãos visíveis dos novos proprietários. "A burocracia americana, que se contentava com 350.000 funcionários, saltou para 5 milhões hoje." (Veja, 29/4/1992: 47) Isso há uma geração. Ora periga o dobro. A mais cara tradição era novamente conspurgada, mas isso parece não vir bem ao caso o que interessa é ascender, manter, e sair do poder ileso.
O estranho mundo de Bin Laden, agora habitado por Obama. A falsidade e a hipocrisia viajam pelo mundo. Enquanto a CIA exalta e incentiva a tortura. Decididamente, esse Obama de agora, com as mais fantásticas invenções, mistificações e empulhações, não é o Obama no qual “votei” em 2008. Ficará mais 4 anos, não por causa da morte de Bin Laden, mas pela inexistência de adversários. Os Republicanos estão mais frágeis do que na derrota anterior.
A epistemologia presidencial
Constatamos durante a campanha que o talento de Obama para a oratória era uma vantagem enorme, e creio que será ainda também um de seus grandes atrativos como presidente. Na verdade, a política não mudou desde a sua invenção pelos gregos. Todo o jogo reside na capacidade de expor seus argumentos de maneira clara e convincente. Ter essa capacidade, para um discurso improvisado ou preparado, é uma vantagem com muito valor na política. GALSTON, William, analista da Brookings  Institution e ex-assessor da Casa Branca.
Sua atuação se prende a tres fatores preponderantes: 1. O quadro herdado 2- A tradição norteamericana. 3- Os conhecimentos adquiridos, especialmente os que lhe foram ministrados na Academia.
O quadro herdado não poderia ser pior.  Desnecessário elencar os prejúizos causados pelos antecessores, em acúmulos.
A tradição norteamericana é ultracompetitiva, e vitoriosa. Nacionalistas como poucos. As duas grandes guerras e  outras menores ensinaram-lhes  a amar sua bandeira.
Agora, a chave: que tipo de conhecimento poderia estar intrínseco na cabeça do grande líder mundial?
Desconfio o quase óbvio: S.Exa está amarrado nos critérios dos anos 30,  década de maior sucesso, quando o Eua saiu do zero para ganhar a II Grande Guerra, e tudo que é copa do mundo, desde então, apesar do péssimo gerenciamento da maioria de seus presidentes. Foi deste estádio que nosso santo-de-pau-oco contrabandeou os ingredientes da poção mágica compositora do Milagre Brasileiro.
O sucesso de Keynes foi tão devastador que a teoria econômica de Schumpeter foi pouco notada em sua época. Durante os anos 20 e 30, Keynes recebeu 200 citações em artigos publicados por outros cientistas, ficando em primeiro lugar. Já Schumpeter, no mesmo período, recebeu somente 22, ficando em 18º na classificação. GLEISER,  I: 171
Por essas épocas a Nação temia a sinistra previsão de Marx; Com o desgarrar do lastro em ouro,a grande solução podia ser simplemente imprimir dinheiro, por conta do futuro. Os despojos japoneses e alemães cobriram com folga o cheque-predatado, de modo que os destemidos yankees se livraram de uma inédita inflação no último minuto. O sucesso determinou o prosseguimento dessa "política social", cujo ápice encontramos em Kennedy, também início de seu declíneo, graças ao esperto Johnson. Nas universidades, obviamente, circulavam obras e autores que garantiam a cientificidade do New Deal, um contrato de maior solidariedade com os socialmente mais distantes.  O craque da grande-área chamava-se Keynes.
O que mais o brilhante legalista precisaria entender de Economia? 
Assim, a economia, a ciência social matemáticamente mais avançada, é também a ciência social e humanamente mais fechada, pois se abstrai das condições sociais, históricas, políticas, psicológicas, ecológicas, etc., inseparáveis das atividades econômicas. Por isso, os seus experts são cada vez mais incapazes de prever e de predizer o desenvolvimento econômico, mesmo a curto prazo. MORIN. Edgard, Compreender não é preciso; cit. MARTINS E SILVA: 30
O anacronismo das políticas sociais
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa. SELDON: 60
Porque deslocando-nos sobre sua superfície numa direção qualquer, temos a impressão de que viajamos em linha reta. A realidade, como se sabe, é outra; e a prova é que se nos continuássemos a viajar na mesma direção, acabaríamos fazendo o circuito da Terra e regressando ao ponto de partida. EINSTEIN, A., cit. TRATTNER, Einstein por ele mesmo - A vida do grande cientista: 43 
A situação é deprimente: termos técnicos da economia e o senso comum estão bloqueando todas as rotas de fuga para escaparmos desse declínio. E temo que os governantes permaneçam imóveis por anos e anos enquanto parabenizam a si mesmos pela solidez das medidas propostas. KRUGMAN, Paul, Motivos para se desesperar. - Estadão, 26/5/2010
O modelo de bem-estar social europeu está em xeque, ainda que Obama queira seguir no mesmo caminho. Por isso o Tea Party gera tanta revolta. Os social-democratas gostariam de crer que é possível viver eternamente no conto de fadas. Estão apavorados com a idéia de que finalmente a fatura dos anos de farra irresponsável chegou. Com juros. Agonizante social-democracia Rodrigo Constantino 25/8/2011.
A pauta econômica não era ensinada na época de Obama,.Talvez não seja do agrado de Krugman, porquanto não posso tributar o lapso à ignorância deste recentemente laureado Nobel de Economia. Como a maciça maioia desses acadêmicos, somente interessam números, e cada vez mais. Não há tempo nem, espaço para ocupação em filosofia, sempre discutível. Ela "bloqueia rotas de fuga." A pergunta que se impõe é a seguinte quem mais quer fugir além dos ladrões?
Coube ao Prêmio Nobel de 1974  F. Hayek reintroduzir a melhor tradição britânica àquela gente perturbada, há rigor, desde a Guerra da Secessão. Se antes da guerra eram os Estados Unidos da América, agora o mundo conheceria o Eua. Desde então, os estados perderam seus rumos, em prol do únco programa da totalidade ética - bélico, é claro  Foi apenas recentemente, então, no raiar dos '80 que a Escola de Chicago emparelhou com a Austríaca para oferecer um mapa de retorno à cabeceira perdida. As universidades norteamericanas tocaram seus pós-graduações para aprofundarem as pesquisas em alternativa aos procedimentos econômicos receitados por Marx & Keynes.
Com o descrédito de economias inflacionárias, o crédito internacional mudou. Keynes e seu vulgarizado keynesianismo, em moda em 45, foi desacreditado. F.A. Hayek e a Escola Austríaca, e Milton Friedmann e a Escola de Chicago viraram moda. Adam Smith, adaptado por Alfred Marshall, começou a parecer mais relevante que Marx, enquanto adaptado por Lênin. (JOHNSON: 615)
Em setembro de 1987, vinte cientistas se reuniram no Instituto Santa Fé para discutir A Economia como Sistema Complexo Adaptativo. Dez eram economistas teóricos, convidados por ninguém menos que Kenneth Arrow, um dos economistas mais importantes do século XX e que em 1972 dividiu o prêmio Nobel de economia com Sir John Hicks . Além de sua contribuição com Debreu para a prova matemática da existência do equilíbrio geral, Arrow também provou que a escolha social, ou de decisão social, não é necessariamente racional por poder transgredir o princípio da transitividade. Arrow percebeu que, antes dele, economistas como Adam Smith, Schumpeter, Hicks, Marshall, Friederich Hayek e outros haviam entendido as implicações de fenômenos complexos para a economia, mas não possuíam o instrumental necessário para estudá-los formalmente. Os bush colocaram tudo a perder. E lá se veio o Eua,  e os vagões rodopiando sem parar:na lisão vendida. 
Essa descrição se aplica à atual recessão econômica nos EUA e na Europa, bem como aos esforços de se revertê-la por meio do uso de "políticas fiscais" e de "pacotes de estímulos".  O significado desses termos é 'mais gastos governamentais" e 'menos impostos voltados especificamente para estimular o consumismo'.  Isso inclui dar dinheiro de restituição de imposto de renda para pessoas que não pagam imposto de renda e as quais compreensivelmente, justamente por causa de sua baixa renda, saíram correndo às compras, consumindo mais à medida que mais dinheiro foi lhes sendo repassado pelo governo Explicando alguns conceitos básicos de economia por ,  19/82011
Embora seja muito difícil para qualquer pessoa de bom senso entender como é possível que aumentos absurdos de gastos públicos ou endividamentos constantes e progressivos possam ser sadios ou benéficos, o que se vê atualmente é o mais absoluto desprezo às virtudes da prudência e da parcimônia, tão caras aos economistas clássicos. , O "Zeitgeist" Keynesiano  - 17/8/2011
A ciência econômica, no ultimo século, se entregou totalmente ao positivismo científico, ao utilitarismo; e, com a avalanche keynesiana, virou uma completa conversa de loucos travestida de ciência.  Um amontoado de equações (há quem diga que a economia hoje é apenas um braço da matemática) que não querem dizer coisa alguma, e que servem apenas para apresentar um verniz científico para respaldar políticos que querem gastar cada vez mais e mais.  No meio acadêmico, produz-se em massa teses que ninguém lê e que pessoas comuns jamais entenderiam.   Ciência Sombria? Ciência feliz! (artigo 20//8/2011)
Anima-nos constatar que líderes globais se chamem Cameron, Sarkozy, Obama, Berlusconi, Merkel, etc. etc.? ... Sim, o mundo é cada vez mais medíocre, para não dizer incompetente. Inepto em geral, e mesmo na inépcia, desigual.A desigualdade global ,28/8/2011
O estilo '30 reanimou o sobrevivete do dèbacle de 29, mas atualmente não se prende mais cachorro com linguiça:  
A alavanca das frustradas tentativas de manutenção de padrões de vida irrealistas em meio à guerra mundial por empregos é o evangelho do brilhante Keynes, o manual de combate às crises das sociedades em declínio, que imaginam ter apenas problemas de curto prazo. Paulo Guedes A linguagem do declínio.  23 de agosto de 2011
Poderiam os norteamericanos readotarem os preceitos elencados ainda antes, isto é, retomarem a velha e exitosa free-way lavrada pelos economistas clássicos, desta feita ainda super-sinalizada  no prêt-à-porter da Escola Austríaca de Economia? Outra alternativa? Ou  veremos novamente a simploriedade do Capitalismo condenado? 18/8/2011 Mas e daí? Já que o materialismo não tem objeto, muito menos em comunismo, quem sabe um tsunami hippie?
A macropolítica, a macrocultura, a macroeconomia dependem da micropolítica, da microcultura, da microeconomia (em termos de seu respectivo âmbito, quantitativo ou extensivo), e aquelas não podem absorver estas sem sofrer as conseqüências que, ao fazê-lo, provocaria. A vida é interação das partes no todo. GOYTISOLO: 74
As pesquisas apontam desconfiança geral. Obama saturado  largou tudo e se mandou às férias. Bem que faz. Na dúvida não se ultrapassa Deixa com a gente, vá tranquilo .Nossos Tripulantes são habituados  em salvar incautos. Até amanhã..

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Tempo & trabalho - 2/2

Uma coisa é certa, a hora uniforme do relógio não é mais pertinente para a medida do trabalho. Essa inadequação há muito era flagrante para a atividade dos artistas e dos intelectuais, mas hoje se estende progressivamente ao conjunto das atividades. Compreende-se porque a redução do tempo de trabalho não pode ser uma solução a longo prazo para o problema do desemprego: ela pereniza, com um sistema de medida, uma concepção de trabalho e uma organização da produção condenadas pela evolução da economia e da sociedade. Só se pode medir – e portanto remunerar – legitimamente um trabalho por hora quando se trata de uma força de trabalho-potencial (já determinado, pura execução) que se realiza. Um saber alimentado, uma competência virtual que se atualiza, é uma resolução inventiva de um problema numa situação nova. Como avaliar a reserva de inteligência? Certamente não pelo diploma. Como medir a qualidade em contexto? Não será usando um relógio. No domínio do trabalho, como alhures, a virtualização nos faz viver a passagem de uma economia das substâncias a uma economia dos acontecimentos. Quando irão as instituições e as mentalidades acolher conceitos adequados? Como aplicar os sistemas de medida que acompanham esta mutação? PIERRE LÈVY

Foi a tradição judaico-cristã que estabeleceu o tempo linear (irreversível) de uma vez por todas na cultura ocidental... O tempo irreversível influenciou profundamente o pensamento ocidental. Preparou a mente humana para a idéia de progresso, para o conceito de tempo profundo, para a surpreendente descoberta dos geólogos de que a evolução humana é apenas um episódio recente e curto na história da Terra. Preparou o caminho para a evolução de Darwin, que fala de nossa união com criaturas mais primitivas através dos tempos. Em resumo, o advento da idéia de tempo linear e da evolução intelectual desencadeada por essa idéia corroborou a ciência moderna e a promessa de melhoria da vida na Terra. COVENEY: 22
A premissa religiosa não requer maior explicação. De que modo contestar o óbvio? Qualquer aniversário define o inexorável decurso do tempo, e nós com ele. Foi trivial a Constantino e seu concílio estabelecer a estória do antes e depois de Cristo, ainda mais  passados uns quatrocentos anos do propalado nascimento. As estações  climáticas corroboram a  noção de gigantesco carrossel, no qual os passageiros vão embarcando no lugar de outros que cumpriram o périplo.
Nature and nature's laws lay hid in night;
God said 'Let Newton be' and all was light.

(A natureza e suas  leis estavam imersas em trevas;  Deus disse 'Haja Newton' e tudo se iluminou.).
O espaço absoluto, em sua própria natureza, sem levar em conta qualquer coisa que lhe seja externa, permanece sempre inalterado e imóvel... O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, de si mesmo e por sua própria natureza, flui uniformemente, sem depender de qualquer coisa externa. (Sir NEWTON, Principia, II, art. 37)
"Se a sensação do tempo pode ser assim coisificada, porque não haverá de ser tudo o mais? Por que não inventarmos máquinas que coisifiquem o pensamento, a criatividade, a tomada de decisões, o julgamento moral?"   

As teorias de Newton lançaram-nos em um curso que desembocou no materialismo que ora domina a cultura ocidental. Esta visão realista materialista do mundo exilou-nos do mundo encantado em que vivíamos no passado e condenou-nos a um mundo alienígena. BERMAN, MORRIS, cit. GOSWAMI: 31
Shaftesbury (carta a THOMAS POOLE, cit. BRETT: 109) discordava frontalmente do grande Newton, algo que sequer  Locke ousou.  Ao médico empirista, de que modo rechaçar por completo uma formulação iniciada já há século, trancorrendo exitosa , comprovada, até mesmo na função cirúrgica que exercia? 
Newton era um mero materialista. Em seu sistema o espírito é sempre passivo, espectador ocioso de um mundo externo há motivos para suspeitar que qualquer sistema que se baseie na passividade de espírito deve ser falso como sistema.
Shaftesbury se deu conta que as doutrinas de Hobbes solapavam toda a interpretação espiritual do universo e convertiam a moral em simples conveniência. Deu-se conta, também, que estas doutrinas e outras parecidas destruíam os estímulos da arte e as grandes obras artísticas da humanidade. A filosofia de Shaftesbury foi planejada para combater a interpretação mecanicista da realidade, mas sobrepujou a filosofia daqueles em seus esforços para salvar as artes dos efeitos das idéias mecanicistas: aspirou fundar bases não só para a verdade e a bondade, como também para a beleza.
Os ingleses promoveram a Revolução Gloriosa, e demoveram  Leviathan, mas Newton em poucos anos ascendeu à presidência da Casa da Moeda, e acendou a inústria do dinheiro, ironia, chama-piloto da Revolução Industrial. Shaftesbury teve que aguardar tres séculos para ter sua alma lavada pela dupla germânica, faxineiros Plank e Einstein.
Há quem afirme fosse o fetiche do relógio insignificante  no  Tâmisa, não empolgava tanto assim,  mas o Big-Ben é cartão-postal e os britânicos primam pela pontualidade. O sucesso da empreitada newtoniana encorajou a vizinhança e daí o mundo inteiro
O homem ocidental civilizado vive num mundo que gira de acordo com os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelo relógio. É ele que vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O relógio transformou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas- de-uva. E pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria contnuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que qualquer outra máquina. WOODCOCK, A ditadura do relógio, In A rejeição da política, 197
Foi pela mesma coincidência elevada à potência matemática que os precursores se impuseram durante todos esses séculos.
Ptolomeu partiu do pressuposto de que a Terra era o corpo central e tratou as órbitas dos planetas como ciclos e epiciclos superpostos. Isso lhe permitiu prever eclipses do Sol e da Lua com muita precisão; tanta precisão que, durante 1500 anos, sua doutrina foi considerada a base segura da astronomia.  HEISENBERG, W., A parte e o todo: 43
O modernismo de Pierre Lèvy, todavia, mais parece um velho exercício retórico, modelito  daquele mesmo EspaçoTempo, chavão meio sofístico, meio esotérico, poético em ponto metafísico, a rigor utópico. No máximo, ideológico. Interessa-nos o tempo que podemos viver,  de modo que nem viria ao caso esmiuçar a obviedade. O tradicional conceito do tempo, e a medição de seu transcurso pautam as estipulações jurídicas, econômicas, sociais, políticas. O método métrico, geométrico,   fulgura tão absoluto que chega a ser uma temeridade tão formidável quanto colocar em xeque a existência de Deus. Aliás a denominação que informa sua passagem provém justamente da estratégia para conduzir o povo grego resignadamente ao mundo subterrâneo de Hades - o divino Chronos  Na verdade, era exatamente isto que também Shelley percebia, já nos primeiros dias da Revolução Industrial, expresso em proclamar a defesa da poesia invocando ‘luz e fogo àquelas regiões eternas onde a faculdade do cálculo, de vôo rasteiro, jamais se atrevam a guindar-se’
* * *
"A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la tornando-se matemáticos. (PITÁGORAS)  O fito mira convencer, para imediato exercício de poder sobre o convencido. "Na tradição intelectual do mundo ocidental, o misticismo matemático de Pitágoras transformou-se na ponte entre a razão humana e a inteligência divina." (GLEISER, M., 2010: 51)
Na hipótese pitagórica não há lugar à nenhuma razão humana, posto exclusivamente materialista; e tampouco espaço à "inteligência divina", evidentemente dela derivada. Surpreendentemente não é o  Sol nem o tempo que passam.  Nós é que circulamos ao redor do , Astro-Rei, e pelo Espaço-Tempo, em ascenção helicoidal. E nenhum de nós é suscetível de medição, exceto de tamanho, peso, ou coisa que o valha, ainda assim de modo  precário em função de mudarmos nossas estaturas e premências a cada instante.
Com efeito, hoje sabemos que o direito está imerso numa atmosfera ideológica e a teoria geral do direito, empenhando-se em abstrair este aspecto do direito, só pode falsear as perpectivas e, com isso, fica, por sua vez, sujeita à acusação de ser mais ideologia do que ciência. PERELMAN: 621
A diferencia de los otros, el movimiento justicialista era ideológicamente cristiano, y tanto lo era, que por diez años consecutivos el clero argentino, desde su más alta jerarquía, hasta el más humilde cura de campaña, apoyó al Peronismo, ta nto en sus campañas electorales como durante su gestión partidista en el gobierno
Infelizmente esta poderosa cultura associada, explorativa social par excellence, formada more exclusivo pelas circunstâncias impostas, ainda tem o dom de engolfar e solapar as melhores vocações, em prol do projeto meramente apolíneo. "Uma ilusão geral constitui uma força social, que serve potentemente para cimentar a unidade e a organização política de um povo, como de uma inteira civilização." (GAETANO MOSCA, Teorica dei governi-elementi di scienza política)
"As universidades brasileiras medem o seu sucesso em cima de quantos alunos conseguem se posicionar em bancos ou indústrias." (SCHENBERG,  38)
"Os bens são adquiridos com dedicação; porém, não há empenho algum pela pessoa que os vai possuir." (ERASMO DE ROTERDÃ, De Pueris: 27).  Como vimos, isso nem é nosso privilégio:
O que as 'escolas superiores' alemãs sabem fazer de fato é um adestramento brutal para tornar utilizável, explorável ao serviço do Estado uma legião de jovens com uma perda de tempo tão mínima quanto possível. 'Educação superior' e legião – aí está uma contradição primordial. NIETZSCHE F. Crepúsculo dos Idolos: 61
O que você diria hoje do grande número de estudantes que consideram o saber como meio utilitário, como um meio de se tornarem uma engrenagem na máquina econômica e social? Os estudantes da máquina de que você fala fazem o que lhes mandam fazer. Adultos construíram essa máquina, essa ratoeira, esse labirinto. Num labirinto onde os ratos se perdem, as pessoas não dizem, ao observá-los 'os ratos estão loucos'; dizem 'construiu-se um labirinto para deixar os ratos loucos'. Em muitos países, o ensino foi construído para deixar os estudantes não muito felizes. SERRES, Michel, De duas coisas, a outra; cit. DERRIDA, J.: 67
A mecânica social marxista obedece a mesma estrutura lógica da mecânica fascista, ambos tomam os homens como peões num tabuleiro de xadrez, peões que podem não só ser sacrificados, como também ter seu sacrifício 'racionalmente' defendido e justificado. PEREIRA, J.C.: 140
"Trata-se de uma educação que visa a domesticação, a criação de pessoas medíocres e úteis aos ditames de seu tempo." (NEUKAMP, E., www.consciencia.org/nietzsche_educacaoneukamp.shtml)
A razão da mazela é por demais sabida:   "Quase que invariavelmente, todas as modernas áreas do conhecimento tiveram lume na Grécia Antiga". (MEISTER, L.F., A evolução do pensamento
A partir de Platão e Aristóteles, a proclamada supremacia do Estado foi encontrada em suas visões nas quais 'moralidade não era separada da religião e nem a política da moral; e em religião, moralidade e política havia apenas um só legislador e uma única autoridade'. DALBERG-ACTON, John Edward Emerich, Essays on Freedom and Power (Glencoe, Ill.: Free Press, 16
A sociedade grega e romana se fundou baseada no princípio da subordinação do indivíduo à comunidade, do cidadão ao Estado. Como objetivo supremo, ela colocou a segurança da comunidade acima da segurança do indivíduo. Educados, desde a infância, nesse ideal desinteressado, os cidadãos consagravam suas vidas ao serviço público e estavam dispostos a sacrificá-las pelo bem comum; ou, se recuavam ante o supremo sacrifício, sempre o faziam conscientes da baixeza de seu ato, preferindo sua existência pessoal aos interesses do país. TOYNBEE, Arnold J.:196.
"Leia sobre Platão, Aristóteles e os matemáticos antigos e descobrirá como suas especulações e descobertas foram transformadas e ampliadas nos métodos e sistemas com que até hoje trabalhamos." (BARZUN, Jacques, A História, por FADIMAN, Clifton org: 4)  econômico - www.webartigos.com.br) 
O decurso do tempo a cada um se mostra complexo, tanto ou mais do que delinear a Eternidade, esta coisa propalada pelos religiosos sem ao menos saber o que ela significa, tanto que em suas rezas não esquecem de implorar misericórdia "agora e na hora de nossa morte amém."  A dificuldade, a ignorância se deve mais ao que se tem incutido ao longo do par de milênios do que enteder o fenômeno à luz da ciência moderna.  A maior dificuldade é a tarefa de limpar o cérebro de tanta poluição.
"Quando, porém, o mundo, ou uma determinada sociedade, vive uma crise de seu modelo, a universidade não pode se alienar desse fato. Ela tem de transgredir por redefinições da própria realidade. A universidade tem de estar engajada com o real, buscando entendê-lo e transformá-lo." (BUARQUE, Cristóvão, ex-Ministro de Estado da Educação)  
A tanto não basta mais ela formar um batalhão de contadores, advogados, construtores, como também de nada adianta um imenso exército de operários, como como se refere Daniel Pink, em O Cérebro do Futuro. A especialização leva o ser humano a esmiuçar  mais sobre cada vez menos. Faz-se mister buscar entender a vida  de modo mais integral possível, sem parti-la, para não mutilá-la. Foi justamente a primaz separação que resultou em corpo e  alma, depois as restantes, entre as quais patrão e empregado, ricos e pobres, direita e esquerda, etc., que levaram aos maiores descalabros já experimentados pelos descendentes supostamente evoluídos dos símios. 
É uma questão que atualmente deve ser reconsiderada, tendo em vista que a fragmentação já se espalhou completamente, não apenas na sociedade, mas especialmente em cada indivído; e isso conduz a um tipo de confusão generalizada da mente, que por sua vez cria uma série infinita de problemas, interferindo com a nossa clareza de percepção de maneira tão grave a ponto de bloquear nossa capacidade de resolver a maioria deles. BOHM, D., Totalidade e ordem implicada: 17
Sem craca o entendimento flui naturalmente, em fascinante passeio.  Inumeráveis brisas e correntes estão dispostas para estendermos assim, sem maior esforço,  o cruzeiro epistemológico para além-mar, certos de que o passageiro não sentirá nenhum fastio. Deliciar-se-á com tantos relêvos, a maioria encordoado nesses  palimpsestos, em versões  prêt-à-porter.
Dizem que se a regra do jogo é igual para todos, pouco importa  ser fruto de crença, mito, ou ideologia, posto  ela almejar somente a justiça. Em primeiro lugar não se trata de equilíbrio jurídico, mas de conveniência entre os partícipes. Se o ideal fosse justo, não teríamos as mesmas obrigações embutidas em cada pé-de-alface adquirido do feirante? Ademais, nenhuma vida é jogo - é experiênicia estritamente unilateral, subjetiva. Fechando com Bergson, Rosseli (p.121) define: "A justiça, a moral, o direito, a liberdade só se realizam na medida em que se realizam singularmente nos indivíduos,” Se levado a encará-los de modo fantasiado, orquestrado, social, como dizem, e sói acontecer, obtemos a renúncia das personalidades; e como consequência maior., o inverso do almejado - um raquítico  desenvolvimento social, na melhor das hipóteses, e na pior, um fanatismo destruidor..
A ideologia cria uma 'falsa consciência' sobre a realidade que visa a modo de suprir, morder e reforçar e perpetuar essa dominação. Wikipédia 
Como renunciar a si mesmo é praticamente impossível, exceto pela via socrática, em qualquer caso colhemos a esquizofrenia generalizada. 
Examinando a mim mesmo, ó Sêneca, aparecem alguns vícios expostos tão abertamente que poderia segurá-los com a mão, outros ainda que não são contínuos, mas que voltam em intervalos intermitentes, os quais afirmo serem mais incômodos, como inimigos escondidos que atacam nas ocasiões mais oportunas, contra os quais não se pode estar tão bem preparado como na guerra, nem tão seguro como na paz... Rogo-te, pois, se tens algum remédio que possas refrear essa flutuação, para que me consideres digno de dever a ti minha tranquilidade. SÊNECA, Da tranquilidade da alma: 35/40
"A marca da filosofia platônica é um dualismo radical. O mundo platônico não é um mundo de unidade, e o abismo que, de diversas formas, resulta dessa bifurcação, surge em inúmeras formas." (KELSEN, H., 2001: 81)
O ser humano tende a surtar, pirar ou nem sei que nome dar quando se sente desse jeito, afinal somos complexos, somos feitos a imagem e semelhança de Deus, somos trinos como Ele, não na exuberância de sua Santidade mas sim na composição de corpo, alma e espírito. Sandra Cajado, Ritmo interior
Não é curto o tempo que temos, mas dele muito que perdemos. A vida é suficientemente longa e com genorosidade nos foi dada, para a realização das maiores coisas, se a empregamos bem. Mas, quando ela se esvai no luxo e na indiferênça, quando não a empregamos em nada de bom, então, finalmente, constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela já passou por nós sem que tivéssemos percebido.  SÊNECA,  Sobre a Brevidade da Vida
O tempo flui em todas as direções, mas a vida de cada um percorre uma linha flechada. Quer queira ou não, compete ao indivíduo traçá-la, independentemente  de qualquer ideal coletivo. "Podemos dizer, portanto, que cada homem é seu primeiro legislador. Repetimos: a pessoa humana é o critério, o sistema de referência, a medida para a determinação de todos os valores. O ser humano, o ‘eu’ é razão do dever-se. Esta é a norma fundamental da ordem ética." (TELLES JR., Direito Quântico.: 213)  Eis a democracia, em  expressão par excellence.
Ainda que não faltem críticas, especialmente à Fukuyama, Japiassú (Um desafio à Filosofia : pensar-se nos dias de hoje: 10/11)  compreende o câmbio paradigmático. O fim da história´implica no fim da ideologia:
Pois o chamado ‘fim da história’ nada mais é do que a emancipação da multiplicidade dos horizontes de sentido. Um desses desafios é o de repensar o pensamento científico, libertando-o de sua ganga positivista, de sua mania contábil, a fim de instalar em seu seio a argumentação filosófica capaz de regular as relações do conhecimento científico com as demais modalidades de pensamento e ação. Outro, não menos importante, é o de pensar a modernidade. Porque esta não é um momento datado da história, definindo uma época. É o nome de uma ruptura, de uma crise relativamente à tradição. Estamos diante de uma nova episteme: da indeterminação, da descontinuidade, do deslocamento, do pluralismo (teórico e ético), da proliferação dos projetos e modelos, da ampliação de todas as perspectivas e do tempo da criatividade.
Para encerrar  o tempo de meu dia prorrogado em comemoração a meu jovem leitor, lavro a despedida ao sabor de Miefestófoles
O tempo esvai-se logo e deves bem gozá-lo.
A ordem e a disciplina ensinam a utilizá-lo.
Aconselho-te, então, meu muito caro amigo,
A primeiro estudar lógica comigo
Teu espírito estará por fim bem amestrado
Em botas espanholas muitíssimo ajustado;
E assim já poderá deslizar, num momento,
Nas estradas suaves de todo pensamento
Não andarás indeciso a torto e a direito,
Erradio, a vagar, sem o menor proveito

domingo, 14 de agosto de 2011

Tempo & trabalho - 1/2

Foi a tradição judaico-cristã que estabeleceu o tempo linear (irreversível) de uma vez por todas na cultura ocidental... O tempo irreversível influenciou profundamente o pensamento ocidental. Preparou a mente humana para a idéia de progresso, para o conceito de tempo profundo, para a surpreendente descoberta dos geólogos de que a evolução humana é apenas um episódio recente e curto na história da Terra. Preparou o caminho para a evolução de Darwin, que fala de nossa união com criaturas mais primitivas através dos tempos. Em resumo, o advento da idéia de tempo linear e da evolução intelectual desencadeada por essa idéia corroborou a ciência moderna e a promessa de melhoria da vida na Terra.  COVENEY: 22
Uma coisa é certa, a hora uniforme do relógio não é mais pertinente para a medida do trabalho. Essa inadequação há muito era flagrante para a atividade dos artistas e dos intelectuais, mas hoje se estende progressivamente ao conjunto das atividades. Compreende-se porque a redução do tempo de trabalho não pode ser uma solução a longo prazo para o problema do desemprego: ela pereniza, com um sistema de medida, uma concepção de trabalho e uma organização da produção condenadas pela evolução da economia e da sociedade. Só se pode medir – e portanto remunerar – legitimamente um trabalho por hora quando se trata de uma força de trabalho-potencial (já determinado, pura execução) que se realiza. Um saber alimentado, uma competência virtual que se atualiza, é uma resolução inventiva de um problema numa situação nova. Como avaliar a reserva de inteligência? Certamente não pelo diploma. Como medir a qualidade em contexto? Não será usando um relógio. No domínio do trabalho, como alhures, a virtualização nos faz viver a passagem de uma economia das substâncias a uma economia dos acontecimentos. Quando irão as instituições e as mentalidades acolher conceitos adequados? Como aplicar os sistemas de medida que acompanham esta mutação? PIERRE LÈVY
DEDICODia dos Pais em prol de meus filhos, consanguíneos ou meros seguidores. 
A civilização se entretem com o programa que lhe é oferecido, e assim se põe na arena ao gáudio do pastor. "Os bens são adquiridos com dedicação; porém, não há empenho algum pela pessoa que os vai possuir." (ERASMO DE ROTERDÃ, De Pueris: 27).  "A vantagem competitiva de uma sociedade não virá da eficiência com que a escola ensina a multiplicação e tabela periódica, mas do modo como estimula a imaginação e a criatividade." (EINSTEIN, A., cit. ISAACSON, W.: 26)   Ela se enxerga vitoriosa; de fato,  tende a ser: 
A consciência humana está transpondo um limiar tão importante como o que transpôs da Idade Média para a Renascença. O homem está faminto e sedento após tanto trabalho fazendo o levantamento de espaços externos do mundo físico começa a ganhar coragem para perguntar por aquilo que necessita: interligações dinâmicas, sentido de valor individual, oportunidades compartilhadas, efeitos. Nosso relacionamento com os símbolos de autoridade do passado está se modificando, porque estamos despertando para nós mesmos como seres, cada qual dotado de governo interior. Propriedades, credenciais e status não são mais intimidativos. Novos símbolos estão surgindo: imagens de unidade. A liberdade canta não só dentro de nós, como em nosso mundo exterior. Sábios e videntes previram esta segunda revolução. O homem não quer se sentir estagnado, o que deseja é ser capaz de mudar. RICHARDS, M. C., The Crossing Point, 1973; cit. FERGUNSON, M. 57
Como estímulo ofereço-lhes a experiência. "Este novo mundo pode ser mais seguro se for informado sobre os perigos das doenças dos antigos". (DONNE, John, An anatomic of the world - The first anniversary (1611). -cit. SAGAN, C., Bilhões e bilhões: 84).
O conhecimento, tal como o prazer, recai não somente a quem recebe, mas aumenta a quem propicia. Eis meu presente, neste Dia dos Pais.
Não puderam (os homens), com efeito, tendo considerado as coisas (da natureza), como meios, supor que elas tivessem sido produzidas por elas mesmas, mas, tirando a sua conclusão dos meios que se acostumaram a obter, tiveram que persuadir-se de que existiam um ou mais diretores da Natureza, dotados de liberdade humana, que tivessem provido todas as necessidades deles e tivessem feito tudo para seu uso (dos homens). Não tendo jamais recebido (a) respeito do propósito destes seres informação alguma, tiveram também de julgar segundo o seu próprio, e assim admitiram que os deuses dirigem todas as coisas para uso dos homens, a fim de que esses se lhes liguem e para que sejam tidos por esses na maior honra. Do que resulta que todos, referindo-se ao seu próprio propósito, inventaram diversos meios de render culto a Deus, a fim de que fossem amados por ele acima de todos, e para que obtivessem que dirigisse a Natureza inteira em proveito de seu desejo cego e de sua avidez insaciável. SPINOZA, B,, Ética, Prop. XXVI, Apêndice
No Paraíso não havia discordância, que dirá algum confronto. Depois da maçã, vestimos preto-e-branco, em listas horizontais e numerado. A pena imposta vem pelo mesmo latim, tripaliare, tortura através do instrumento chamado tripalium. “Na concepção cristã, o trabalho representava o pagamento do pecado, um ato de expiação que sugere necessidade, aflição e miséria.” (ROHMANN, C: 122) “Para os católicos, o trabalho é uma sentença condenatória, como reafirma a Rerum Novarum, em 1891.” (DE MASI, D.: 47) Eis porque o trabalho é considerado fardo, o trabalhador escravo, e segunda-feira dia que demora a passar.
Desde aquela espartana Atenas dos Trinta Tiranos o trabalho recai ao povo e aos escravos, enquanto as sumidades se deliciam em futilidades nos palácios. "Uma ilusão geral constitui uma força social, que serve potentemente para cimentar a unidade e a organização política de um povo, como de uma inteira civilização." GAETANO MOSCA, Teorica dei governi-elementi di scienza política)
Em nome da milenar tradição, da forjada moral, e do mais falso interesse social,  os pastores-do-pasto-verde  se dão as mãos, formando o brete pelo qual a gente vai se precipitando no rumo da ilusão. "É necessário que tal cidade não seja una, mas dupla, a dos pobres e a dos ricos, habitando no mesmo solo e conspirando incessantemente uns contra os outros." (PLATÃO, A República, livro VIII., cit. SAUTET, M.: 252)
Esse entrelaçamento simultâneo do direito com a política é possível porque o Estado dito de Direito utiliza as leis e os códigos não só como instrumentos de controle e direção social, porém igualmente como estratégias de fundamentação e justificação abertas a argumentações de caráter moral. HABERMAS, Jürgen in Doxa, n. 5, Alicante, Centro de Estudos Constitucionales Y Seminario de Filosofia del Derecho de la Universidad de Alicante, 1989; in FARIA, José Eduardo, Justica e Conflito, Os juizes em face dos novos movimentos sociais: 144
A tarefa de legislar, verbo originário de legere - leitura da natureza - pela pena ideológica vira facere, agere, no primo-canto positivista:"Pouco a pouco, os soberanos compreenderam que a justiça podia ser também pretexto para a extensão de seu poder e a afirmação de sua autoridade." (BOBBIO, N. e VIROLLI, M.: 130)
Para RENÈ KONIG (Soziologie heute, cit. GOLDMAN, L., Ciências Humanas e Filosofia - Que é a Sociologia: 40), professor das Universidades de Zurique e Colônia, isso nada mais é do que “elemento do processo de autodomesticação social da humanidade”. Em vez da "anarquia liberal", ou da malvadeza comunista, submetemo-nos à  égide do  Senhor. “O catolicismo considera a corporação um meio de assegurar a ordem sem matar a liberdade, escapando, a um tempo, da anarquia liberal e da coerção socialista”. (GAETAN PIROU, Introduction a l'etude de Economie Politique, Paris, : 280;   cit. HUGON, P., História das Idéias Econômicas: 352)   Colhermos as maravilhas:
Como sinal da sua estratégia de consolidação do poder fascista o duce ordena, em 1923, que o ensino religioso seja implantado nas escolas públicas de toda a Itália, bem como se agravaram as sanções judiciárias para quem ofender a religião e os padres. www. educaterra.terra.com.br/voltaire/seculo/2006/03/10/002.htm

As idéias corporativas tiveram grande aceitação: receberam apoio da Encíclica Papal Quadragésimo Anno, de 1931, influenciaram decisivamente a doutrina do partido nazista alemão e de inúmeros outros movimentos fascistas em diversos países. No Brasil, foi notória a sua influência na década de 30, durante a ditadura de Getúlio Vargas.
STEWART JR., D. O Que é Liberalismo: 24
“O direito canônico, a força pontificial e as burocracias patrióticas contemporâneas bebem - sob uma aparente diversidade - nos tesouros de uma liturgia de submissão.” ( LEGENDRE, P. cit. DESCAMPS, C. 55)
De todos os passos que foram dados rumo ao caminho da servidão, qual foi o pior? Em minha opinião, foi o de permitir que o estado educasse nossos filhos, seja diretamente por meio de escolas públicas, seja indiretamente por meio de escolas privadas reguladas integralmente pelo Ministério da Educação. Educação e liberdadepor , 12 de agosto de 2011

Para provar o amor aos mais humildes  Mussolini inventou as Leis do Trabalho. A inovação ganhou asas para descer no mundo inteiro em contraposição aos terríveis comunistas,  Certos de que suas famílias receberiam alguma pensão para compensar seus desaparecimentos,  os operários  embarcaram cantarolantes rumo aos campos talados de minas e canhões. A rigor, nem era assim tanta novidade. O proselitismo precedente da insanidade nazista se antecipou na astúcia:
A política do governo prussiano de reprimir ao invés de cooptar o movimento operário levou ao surgimento de um poderoso partido social-democrata revolucionário, que se tornou um modelo para os trabalhadores de toda a Europa. O PSD alemão foi imitado pelos franceses, belgas e italianos. Os movimentos trabalhistas holandês, escandinavo, suíço e americano seguiram os passos do movimento alemão. Oradores eram convidados de honra nos sindicatos que aconteciam em toda a Europa Ocidental e Estados Unidos. Os movimentos operários russo e eslavo também se inspiraram no alemão, e a segunda Internacional Comunista estava sob a liderança reconhecida do partido alemão. Suas filiações ultrapassavam 1 milhão em 1912; nos sindicatos, dois e meio milhões. SCHWARTZ, J. O Momento Criativo - Mito e Alienação na Ciência Moderna: 130
Como o governbo nada produz, e a produção assim carregada tende a se ajoelhar, para custear tudo isso Keynes pintou com a solução:o governo pode produzir dinheiro, sim senhor - basta mandar imprimi-lo. Quando alguém protestou contra o artifício. porquanto sua extensão iria inflacionando o meio até tornár tudo insuportável, o astuto de Bloonsbury lembrou que em prazo curto ninguém notaria a artimanha, e a longo prazo estaríamos todos mortos. De fato, mas ficou a bela lição, repetida por décadas. Atualmente há um monitoramento direto por causa do comércio internacional, de modo que não é à tôa que os estados ocidentais balançam pelo fio da insolvência, da moratória, do calote.
Ao se darem conta da armadilha os proletários italianos  trucidaram o protetor, mas  a maciça maioria de operários de todos países, especialmente os nossos fazem questão da cartilha trabalhista, não se dando conta que ela é fruto da idéia escravocrata que permeia a metafísica fascista e religiosa,
E, ainda que o fascismo e o nacional-socialismo tenham sido destruídos enquanto realidades políticas na Segunda Guerra Mundial, suas ideologias não desapareceram e, direta ou indiretamente, ainda se opõem ao credo democrático. KELSEN, H., A democracia: 140:
Pelo ditame di lavoro o trabalhador não vende o produto de seu trabalho, mas sua própria existência.
O verdadeiro tempo (o que Bergson chama de 'duração') consiste propriamente na experiência vivencial da própria vida, e, por conseguinte, radicalmente intuitiva. Entretanto, para a maioria de nós, esse tempo verdadeiro foi inapelavelmente deslocado pelo ritmo do tempo marcado pelo relógio. Aquilo que constitui fundamentalmente o fluxo vital de experiência torna-se então um gabarito externo, arbitrariamente graduado, a que nossa existência é subordinada - e sentir o tempo de qualquer outra maneira torna-se 'místico ou louco'. Se a sensação do tempo pode ser assim coisificada, porque não haverá de ser tudo o mais? Por que não inventarmos máquinas que coisifiquem o pensamento, a criatividade, a tomada de decisões, o julgamento moral? ROSZAK, T.:230
Por isso o empregado ganha em modo periódico, e regular.o mínimo de sal fixado pelo governo, como se coloca óleo para a máquina funcionar,  E para adulá-lo, incidem aditivos de variada função: salários-família, adicionais sobre algum perigo ou insalubridade, horários noturnos, horas-extras, obrigações previdenciárias aos contratantes,  fundos de garantia por tempo de serviço, férias mais remuneradas do que os dias de trabalho,  licenças-maternidades, domingos remunerados como se o trabalhador tivesse dado em troca sua produção,  convalecenças igualmente, "presente natalino" fixado em salário, vales-transporte-refeição-saúde, etc  Nada disso tem a ver com o objeto do contrato de trabalho, que  corresponde ao produto que o trabalho gera. Mas tem a ver com a pessoa do trabalhador, desse modo também se sujeitando a ser mero objeto  no contrato empregatício.  Do mesmo modo o Estado implícitamente reconhece a subversão que cria ao amenizar a dor da escravidão que ele próprio enseja e estimula desde a mais tenra idade.
Foi o próprio Estado que criou a necessidade política do estado de bem-estar. Quanto mais bem-estar é criado por tributação (em parte rebatizada como contribuições de seguridade social), mais se enfraquece o financiamento privado. Quanto mais o bem-estar privado foi inibido, tanto mais bem-estar público foi necessário criar. ARTHUR SELDON
"Os eruditos impedem com sua ação o surgimento do gênio, pois a cultura para eles é apenas utilitária e os grandes homens seriam uma ameaça à sua mesquinhez." (NEUKAMP, E., As críticas do Professor Nietzsche à educação de seu tempo. www.consciência.com) Admirável é o fato  das  entidades produtivas suportarem sem rebeldia o formidável achaque. O incauto supõe ter conquistado esses direitos. Os penduricalhos se avolumam paulatinamente, enquanto ele permanece atolado no sonho vil:
O principal erro do pessimismo tão alastrado é a crença de que as idéias e as políticas destrutivas de nossa era emergiram do proletariado e são uma 'revolta de massas'. Na verdade, as massas, precisamente por não serem criativas e não desenvolverem filosofias próprias, seguem líderes. As ideologias que produziram todos os danos e catástrofes de nosso século, não são uma façanha da turba. São proezas de pseudo-intelectuais e pseudo-estudiosos. Foram propagandas das cadeiras das universidades e dos púlpitos; foram disseminadas pela imprensa, pelos romances, pelo rádio. Os intelectuais são responsáveis pela conversão das massas ao socialismo e ao intervencionismo. Para reverter o processo, é preciso mudar a mentalidade dos intelectuais. Então as massas os seguirão. VON MISES, , L., cit. LEONI, B. , A liberdade e a lei, p. 167
O funcionário percebe os pagamentos não pelo produto que gera, mas à sua pessoa, ao seu tempo empregado à função. Ele vê tudo isso como grandes vantagens conquistadas pelo voto. Dá graças à mão visível do protetor eleito, mas não enxerga a que lhe toma mais da metade de seus parcos rendimentos, graças a imensa cadeia de tributária. .O Brasil ficou muito caro Carlos Alberto Sardenberg, Estadão, 15/8/2011
As leis dos negócios e do comércio, seja com respeito as relações entre indivíduos ou nações, são leis de interesses mútuos e recíprocos. Elas são seguidas e obedecidas porque é do interesse das partes agir assim e não devido a qualquer lei formal que seu governo possa impor ou interpor. Quantas vezes, porém, a tendência natural para a sociedade é perturbada ou destruída pela ação do governo! PAINE, T. (1737-1809 - Os direitos do homem: 57)
Proudhon zombava dessa distinção entre capital e trabalho. Ele acreditava que capital e trabalho não são dois tipos diferentes de riqueza; que toda a riqueza sofre um processo contínuo, passando de capital a trabalho e de trabalho a capital, ininterruptamente e que as mesmas leis de justiça que regulam a posse de um, deveriam regular a posse de outro. TUCKER, B., Socialismo Estatal e Anarquismo, 1888; cit. WOODCOCK: 135
O trabalhador aliena sua vida, paradoxalmente, em prol da subsistência.
Era uma questão tanto de sobrevivência quanto de política: uma panacéia que, pelo voto do trabalhador e pela transformação radical do Parlamento, proporcionaria ao trabalhador muitos assados, muito pudim de ameixas e cerveja forte, com três horas de trabalho diário. RUDÈ, G.: 196:
Resigna-se o incauto tal  escravo, e duplamente abatido- pelo patrão, o responsável por seu salário,  e pelo Estado, que lhe esbulha até o fígado  "para seu bem",  em nome da lei:  O derradeiro finório associado espera o desesperado para lhe vender a cadeira no céu por apenas dízimo do lhe sobrou no bolso, graças a Deus. 
Nossos contemporâneos imaginaram um poder único, tutelar, onipotente, mas eleito pelos cidadãos; combinam centralização e soberania popular. Isso lhes dá um pouco de alívio. Consolam-se do fato de estarem sob a tutela pensando que eles mesmo escolheram os tutores. Num sistema desse gênero, os cidadãos saem por um momento da dependência, para designar o seu patrão, e depois nela reingressam. CONSTANT, Benjamin Constant 1767-1830, cit. BOBBIO, N., 1993: 59...
Vê-se como, ao transferir para a vontade geral as funções cumpridas anteriormente pela vontade divina (vox populi vox Dei) o positivismo jurídico veio a fundamentar toda a regra jurídica positiva no poder legislativo do Estado e na sanção, que garante a obediência à lei. Recusando qualquer outro fundamento do direito, o positivismo jurídico negou a existência a de um direito que não fosse a expressão da vontade do soberano. PERELMAN, C., : 395
Leviathan promove a escravidão generalizada em suprema ironia.  Constantemente requerido é louvado quando se impõe frente aos cidadãos, os "lobos do homem". Foi o que aconteceu na Prússia, na Rússia, Alemanha e Itália, e nos seus clones mais ou menos fiéis pelo mundo afora, inclusive o Eua.,  em regimes vigentes não apenas  naquelas épocas mais belicosas, como até o presente: "Enquanto os direitos de liberdade nascem contra o superpoder do Estado - e, portanto, com o objetivo de limitar o poder - os direitos sociais exigem, para sua realização prática, precisamente o contrário, isto é, a ampliação dos poderes do Estado,". (BOBBIO N.,  A Era dos Direitos: 72)