sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Medo incutido, obstáculo à personalidade



O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo, outras - acho que estou entre elas - aprendem a conviver com ele e o encaram não como uma coisa negativa, mas como um sentimento de autopreservação. AYRTON SENNA
.Irônica e infelizmente, o tricampeão teve a intuição, mas não lhe atendeu. No afã de superar o medo, como se ultrapassa um contendor, lá se foi junto a prudência, em troca da fatalidade. Minutos antes do start, um sério e indagativo AYRTON fixava o olhar, em pé, escorado no aerofólio. Era certo que algo mais lhe preocupava além da prova em si, como também pareceu óbvio que o receio se localizava no próprio carro. SENNA esqueceu o medo, que nunca demonstrou possuir, porém mais do que que isso, não atendeu seu próprio sentimento. Pelo medo, digo pelo desafio de superá-lo, ele embarcou à viagem fatídica. Faltou-lhe a prudência, num momento ultradifícil, é certo, dela prevalecer, esta que se diferencia do medo, que se refere à emoção, enquanto aquela é manifestação de inteligência; portanto, de personalidade.Engraçado é que antes de tudo Ayrton era inteligente, e personalidade, convenhamos, ele tinha de sobra, mas frente à uma escuderia inteira, e multicampeã, como se posicionar? Tem um agravante nessa história. Nosso campeão estranhou de cara a nova equipe.
Admito qualquer crítica, mas ouso sentenciar: o que faltou naquele instante ao grande campeão não foi propriamente algum medo, muito menos coragem, mas justamente personalidade, acreditar em seu instinto.O carro não estava confiável. Ele estava absolutamente só,concentrado, mas olhando o aerofólio, parecendo  na procura de algum defeito,  empenhado na resolução de um enigma, para desfazê-lo.  Cadê a equipe? Algo era muito diferente na Williams. Infelizmente sua genialidade não podia detectar a inconcebível falha na barra de direção.. O inesquecível piloto embarcou no carro-fúnebre. Para mim, sabotado.
* * *
Não há nenhuma ilusão maior do que o medo,
Nenhum erro maior do que armar-se
Nenhum infortúnio maior do que ter um inimigo.
Quem compreender qualquer tipo de medo,
Estará sempre em segurança
TAO TE KING: 46
“O medo é aprendido. A criança pequena não teme nada. Ela aprende com os pais, ou na prática, que não pode botar a mão no fogo.”
Abordemos, pois, este fenômeno incutido.
Não é mister um conhecimento mais aprofundado para se conceber que o medo tende a produzir efeitos mais devastadores do que preservativos em qualquer personalidade.
O fenômeno estraçalha os nervos, e provoca todo o tipo de reação. Gagueira se faz comum. Uns se põem a rezar. Ajoelham-se implorando clemência. Outros preferem sair correndo. O que foge da raia, produz forfait. Mulheres costumam gritar. Há quem petrefique. Com ele vem tremedeira, o desarranjo, até xixi nas calças. Muitos amarelam; outros ficam brancos. Depois, vermelho-de-raiva.
O medo da derrota condiciona o player; mas a esperança de vitória subestima o adversário. Engraçado acontece com o corrupto, o mentiroso, o bandido: na hora do ato, toma a vítima por trouxa. Em seguida, a fúria retaliadora do remorso lhe persegue, e torna seu medo agigantado. Então tenta se esconder, mas a eloqüência de seu sumiço demonstra a pouca-vergonha, e assim cai na própria armadilha.
A ponte sobre o abismo da refrega é curta, e nada une. Ambas cabeceiras terminam no mesmo precipício. Alguns não medem esforços - não poupam ninguém, muito menos munição para combater o que dizem temer. Qualquer miragem já leva chumbo. Pobre dos animais, dos índios, dos comunistas e barbudos tomados terroristas.
São incontáveis as histórias de profissionais talentosos que estragaram a carreira por causa do medo, assim como são inúmeros os exemplos de pessoas não tão brilhantes que, por saberem administrar bem seus medos, alcançaram posições de destaque na sociedade.
O fóbico tem dificuldade de se relacionar. Não consegue olhar nos olhos do seu interlocutor, paquerar, conversar naturalmente com seus superiores, falar em público, apresentar idéias ou sugestões em reuniões de trabalho, compartilhar tarefas. A característica mais marcante desse tipo de fobia é o medo que a pessoa tem do julgamento dos outros. “O que vão pensar de mim?” Eis o perfeccionista. Como é impossível agradar todo mundo, ele prefere se omitir. Dessa forma, não se expõe em reuniões, não faz apresentações em público, não contesta a idéia dos outros. Isso vai prejudicando o desempenho no trabalho e pode comprometer seriamente sua carreira.
Ademais, o medo é contagiante. Departamentos inteiros podem alterar as expectativas e por conseguintes suas ações apenas em função de qualquer ameaça. Lembro da propalada crise americana, a qual frustrou milhares de investimentos e empregos, apenas pelo receio do colapso mundial. Sempre notei o tamanho da forja, e não me furtei em denunciá-la, mas quem sou eu para tirar uma fundação tão bem arquitetada, e espetacularmente difundida? Pois por falta de personalidade, não por excessso de prudência, vi uma diretoria de uma grande rede de magazines perder uma inédita oportunidade de expandir seus negócios, em plena SP.
Pode-se com segurança afirmar que o medo, tanto quanto a crença, é fruto da ignorância, mas o futuro todos ignoramos. O que nos difere é a capacidade de avaliarmos a tendência, as probalilidades dele colapsar o rumo.
E lá vem o medo da falência, de ser despedido, de tudo o mais, a turvar a mente, e por conseqüência, a personalidade de quem quer que seja.
Também é verdade que, para suplantar o dilema, alguns excedem a tal ponto que chegam às raias da insanidade.
O medo, pois, de qualquer forma tem papel preponderante, e para mim sempre nefasto, na mente do ser humano que lhe concebe, e conserva. Poderíamos traçar algum momento mais propício ao ingresso da anomalia?

Sabe-se muito bem do justo receio que comporta a grávida com a preciosidade que carrega. Não poucas vezes, todavia, este receio é aviltado pela imaginação, mas diz-se que é melhor excesso de zêlo do que sua falta.
Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer que as coisas não pareçam o que são.
MIGUEL DE CERVANTES

DOM QUIXOTE que o diga!
Twingly BlogRank

Ao nascer lá vem o medo da mãe a lhe acompanhar. A criança logo é cercada, literalmente, com cercadinhos. Nos primeiros passos, o coração da mãe pula no primeiro desequilíbrio, não raras vezes assustando a própria criança. Para nanar belas canções incitam-lhe sonhar com boi da cara-preta, lobo mau, bruxas, piratas com pernas-de-pau, fantasmas e outros alienígenas. Essas estórias visam criar no rebento motivos à obediência, e parecem até remontar ao modo como antigamente se adestravam animais. Depois, janelas com telas, como se a a insensatez da criança fosse de tal monta que ela a qualquer instante quisesse até voar. E cuidado com isso, cuidado com aquilo. Senta direito, o que as pessoas vão pensar de você?
Depois de uma atitude marôta, quantos ainda não apanham de cinta, ou vítimas de gritos e impropérios?
"São meus filhos, e meus bens",
Com isso o tolo se angustia.
Como? Nem nosso "eu" é nosso.

DARMAPADA: 55
A doutrinação consiste em incutir medo da culpa, pelo castigo. Ao aterrorizá-lo, enfraquecem-no e retiram de seu coração a condução de suas emoções. Pois tão aprimorada estratégia é popular até mesmo entre especialistas:
"Todos sabemos que o
medo é uma reação protetora e saudável do ser humano. O medo 'normal' vem de estímulos reais de ameaça à vida. A cada situação nova, inesperada, que representa um perigo, surge o medo." (Uma Psicóloga)
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Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que,
com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.
WILLIAM SHAKESPEARE
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Cada dia que nasce é diferente do anterior. Navegar tem que ser preciso; mas viver em precisão, é simplesmente impossível! A vida é uma experiência cotidiana, uma descoberta a cada instante, ligada diretamente à consciência. Se formos calcar nossa vida correndo de tudo que se apresenta, sequer o amor poderíamos abraçar.
Quando chega a idade escolar, advém outra série infindável de impregnações. Falhas correspondem aos piores castigos. Há pouco tempo, o aluno que errasse alguma questão levava uma reguada nas mãos, ou era colocado de castigo com chapéu de burro. Não me chegue atrasado, não converse, não tire notas más - serás um repetente, condenado no mundo dos infernos dos mais atrasados. Não saia da linha, marche com o passo de todos, não tente ser diferente. Você tem medo de quê?
,

A vida é maravilhosa se não se tem medo dela.
CHARLES CHAPLIN

A superação da cadência de rebanho tende a vir na adolescência, quando o jovem nota ter sido vítima de total manipulação, dessas que não medem fantasias nem artimanhas para conduzi-lo, e então puxa a espada da bainha. Mais nenhum terror parece atemorizá-lo, e assim muitos conseguem se livrar do carma incrustrado. Tragédias ficam iminentes. Os que se safam apenas arranhados não se livram do trauma, das lembranças dos duros enfrentamentos, riscos e preço que teve que pagar,

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O nome como obstáculo à personalidade



Qual a importância do nome? Poderia chamar uma rosa por um outro nome e ela ainda teria o perfume.
SHAKESPEARE, Romeo and Juliet
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O nome para a criança é muito mais importante do que se pensa. Na minha experiencia bizarra de vida, cheguei à conclusão que o nome de uma pessoa irá determinar o seu futuro.
Uma abordagem sobre personalidade, ainda mais começando pelo nome da pessoa, restrita em artigo de blog, e desprovida de maior fonte de pesquisa, sendo mais uma interpretação empírica, e subjetiva, e pior, interpretando o fenômeno por viés inusitado, como um obstáculo, não como facilitador, ou identificador, bem pode ser alvo de procedentes críticas. E ainda que paulatinamente alcance extensão, e que se juntem provas às hipóteses elencadas, sempre será suscetível de reparos, podendo mesmo ser falseada por inúmeros elementos que venham a desqualificá-la. Não me acanho. A pretensão não ultrapassa o mero exercício especulativo, modo curioso. O que me move, isto sim, é tentar colher e demonstrar nexos sociais que podem impedir a livre desenvoltura individual, ao prejuízo da própria sociedade que supõe formatá-la. Para tanto não trabalho com clichês, tampouco estou para glorificar teorias já consagradas. Elas não precisam de microondas. Tal qual  NIETZSCHE, também moro em minha própria morada, e nada imito de ninguém. Se minha choupana um alísio derrubar, terei prazer em erguer outra em seu lugar. Porém, vá que antes bem sirva de abrigo a um viandante mais fiel à programação, por isso um tanto automatizado, mas nem tanto a ponto de  desprezar algum conforto na dura jornada, especialmente quando lhe faltar lubrificante, e engripar suas velhas roldanas,.
Dito isso, saio de plano afirmando: o primeiro obstáculo à livre formação do ser humano é a designação de seu próprio nome. Seja  bonita ou feia, homenagem ou lembrança, fácil, ou complicada, esta marca lhe acompanha com efeitos internos e externos, virtuosos,  perversos, ou ambos,  vias pelas quais interage com todo ambiente. E como dificilmente um nome pode ser original, a marca do genuíno sobrepõe à novata, que terá que fazer um esforço extra para evitar o mal-entendido até mesmo por ela própria. .
"Que se chame Diana, Joana, Pedro, ou Alexandre, a verdade é que por trás do seu nome está escondida a sua verdadeira personalidade. Saiba, por isso, que nada acontece por acaso!" (www.mulherportuguesa.com/saude-a-bem-estar/comportamento/2527)
Para alguns, bastam apenas as iniciais:
Com que letra começa o seu nome? Cada letra tem um som e cada som transmite uma energia que influencia, e muito, a personalidade de uma pessoa. Procure a inicial de seu nome ou de seus amigos e descubra o que ela tem a dizer. (www.conselhonet.com.br/mistico/nomes.htm)
Seríamos, assim, tão robotizados, previsíveis como requer a identificação pela letra? A Onomástica e a Antroponímia se ocupam em dimensionar os padrões. A taropia busca identificar o liame através das aproximações pitagóricas::
Um dos estudos mais fascinantes dentro do Tarot é o que combina a Numerologia (Gematria), a análise do nome e as lâminas do Tarot. Esse estudo tem estreita relação com a Kabbalah e aponta para aspectos muito importantes na prática com o Tarot. Um trabalho que acho fascinante é a TABELA MEDIEVAL DE BONGO que tem relação com a Kabbalah. www.taroterapia.com.br/arcano/cap.html
A marca, o nome perfaz uma espécie de mantra, uma vibração especial, coadunado com a nossa monâda de origem, mas raramente coincide com o intuito ou objetivo da pessoa; e na maioria das vezes, sequer com quem lhe batiza. E a criança parece incorporar o que dela se espera, tanto quando veste uma camiseta de futebol de seu ídolo, e presume dele se aproximar.
É quase impossível o pai e a mãe escolherem o mesmo nome sem prévia combinação, apenas por coincidência. Deste modo, prevalecerá o gosto, afinidade ou a vontade mais candente de um, com a natural concordância do outro. Se o rebento no decorrer da vida tiver maior proximidade com o voto vencido, temos aí o paradoxo como eterno companheiro, tal qual corrimão de escada-rolante.
Os orientais tentavam definir o destino já a partir do nascimento de modo coerente com a função que lhe se esperaria. Esta designação cabia a um monge, através de ideogramas, e muitas designações que para nós soaria muito estranho, tanto quanto aquelas dadas aos índios, para eles significava um destino traçado, portanto, livre de sobressaltos. Quase do mesmo modo praticavam os alemães, mas restritos aos sobrenomes. Lembro SCHUMACHER, que significa sapateiro. Fosse segui-lo mais à risca, quem sabe não teria arriscado ser campeão de salto alto!

Feliz ou infelizmente, o nome acaba por se identificar connosco: sempre achei que certas pessoas deveriam ter cara de Pedro, outras de Miguel, outras ainda de Luís e alguns com o nome de Sócrates, o da Grécia antiga - que nos legou a Filosofia, a mãe de todas as ciências. http://macroscopio.blogspot.com/2006/01/importncia-do-nome.html
Ainda bem que jamais conheci algum Platão. Dar-lhe-ia uma sumanta de laço!
Elizabetes, Reginas, Bárbaras, tendem a ver o mundo a seus pés, tanto quanto os Césares, como eu próprio, Ricardos, Eduardos, meus filhos. E o que dizer dos Eugênios, Benjamins, Felisbertos, Ulisses, ou Salvadores? Benito não se tinha muito bonito, a reencarnação do Imperador Romano? Ou seja: é bastante freqüente o simples nome subir a cabeça e alterar toda a naturalidade da pessoa. É óbvia a tendência de muitos pais quererem que seus filhos logrem o máximo sucesso, mas um nome mais sugestivo, mais representativo, pode induzi-los à onipotência, ou às vezes até frustrá-los por não lograrem a performance esperada.
Os nomes bíblicos me parecem portadores de alta carga emocional. Dentre todos os demais, ainda que muito comum, podem condicionar a pessoa cumprir uma trilha apartada da realidade.
Os Jrs. são os mais afetados. Dificilmente algum consegue edificar uma personalidade qie lhe seja própria, pelas óbvias razões. É certo que um Jr. de pai famoso encontrará uma freeway já delineada, o que por certo facilitará principalmente sua vida profissional, mas ela será exercida mecanicamente, porque vocação não se impinge. Não obstante, corre o risco de ser sempre bebê, um dependente, pelo menos até se dar conta e superar o peso de portar o nome do pai, sendo apenas o filho.
Naturalmente podem ser apontados inúmeras personalidades que não incorporam as características que pressupõem seus nomes, porém me refiro em tese, não em determinaçao absoluta, insisto, para não ser tomado dogmático, ou de algum modo enfeitiçado por idéias criadas por si mesmo.
Igualmente muitas vezes o interlocutor à primeira vista apresenta seu preconceito, ligando o nome à personalidade, de maneira que é mais um obstáculo, a ser superado.
Quantas vezes não ouvi "A César o que é de César", ou mesmo o "Ave César!" Maldição! Se é meu, não precisa ninguém me endereçar. E Ave, em mim até pode ser aplicado, mas soaria pessimamente se meu interlocutor se chamasse Adão.
Não vou falar da importância de nomes ridículos, ou vexatórios, que per se diminuem o portador, pela obviedade do aspecto, ou da remessa.
Alguns preferem justamente o contrário do que seus nomes projetam, e neste caso lembro do Theodore. O presidente americano, cujo quadro ilustra este post, pautou-se completamente afastado da pressuposta ética do Theo que lhe serve de prefixo. O mesmo se deu com Napoleão, que de boa, virou uma péssima parte. Pior ainda quando sua designação se rendeu a outra perna metafísica, calcada em alguma coincidência empírica:
A Numerologia apelida estas três vertentes com designações distintas: a personalidade interior é considerada o 'Número de Alma'; a personalidade que transparecemos exteriormente denomina-se por 'Número de Personalidade'; e o motivo que nos prende aqui intitula-se por 'Número de Expressão'. www.mulherportuguesa.com/saude-a-bem-estar/comportamento/2527
A conselho de seu astrólogo, Napoleão alterou o sobrenome de Buonaparte para Bonaparte, com vistas a obter "um número de vibrações mais positivas". Não deu certo: ele acabou uivando em Santa Helena.
Igualmente não quero fazer referência à influência espírita, quando então os pais, mercê de algum ídolo, colocam o mesmo nome no filho na esperança da reencarnação, ou seja, imediata tentativa de despersonalização de seu próprio produto. Colocar nome de cantor, jogador e artista, e até de políticos se tornou epidemia no país.
Nomes com letras iniciais do alfabeto correm risco em chamadas de escola, o que também podem alterar a trajetória de qualquer vivente. Engraçada, esta.
Igualmente, não posso fazer dessa tendência uma norma efetiva porque não poucos logram escapar do estigma, e se conduzem, por muitas vezes, de modo diverso do que seu próprio nome quer expressar. Insisto sempre. Trata-se, pois, de apenas indícios, mas que por relevantes exigem uma vigilância do portador para não ser enredado pelo mito que o nome contém.
Em quase todos os casos, apelidos são redentores, e por eles sim, parece que a personalidade melhor se desenvolve, desde que, naturalmente, não sejam pejorativos, ou desqualificadores. Os apelidos geralmente contém uma carga afetuosa, amorosa, a partir da aparência efetiva, ou da ação do agente, e portanto, podem ser mais eficazes, e até mais expressivos do que o expresso na certidão de nascimento.
O engraçado é que um nome estranho pode ser ainda pior, desnorteando todo mundo.
O que me parece comum é que os nomes simples, correpondem a igual tipo de personalidade; e os pomposos, de acordo com esses propósitos. Assim é que, muito mais do que o momento do nascimento, que classifica pelo horóscopo a índole do rebento, coisa que de antemão já registro meu desacordo, seu nome por certo terá, sim,  influência decisiva em sua vida, como um sopro, um vento que carrega o veleiro. O que compete ao timoneiro é orientar sua vela para que tal intensidade o conduza ao porto que lhe parece mais compatível com seus próprios anseios e aspirações, e não aqueles pelos quais lhe presumiram. Não é fácil esta equação, bem sei.

Em busca de personalidade


Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de filosofias e de uma psicologia que pertencem ao século XIX. Somos os nossos próprios bisavós. BERGIER, Jacques e PAWELS, Louis, O despertar dos mágicos: 31
Personalidade é o conjunto de características psicológicas que determinam a individualidade de senso comum e não o conceito científico aqui tratado. Encontrar uma exata definição para termo personalidade não é uma tarefa simples. O termo é usado na linguagem comum - isto é, como parte da psicologia do senso comum - com diferentes significados, e esses significados costumam influenciar as definições científicas do termo.
Assim na literatura psicológica alemã persönlichkeit costuma ser usado de maneira ampla, incluindo temas como inteligência; o conceito anglófono de personality costuma ser aplicado de maneira mais restrita, referindo-se mais aos aspectos sociais e emocionais do conceito alemão[1]. pessoal e social de alguém. A formação da personalidade é processo gradual, complexo e único a cada indivíduo. O termo é usado em linguagem comum som o sentido de 'conjunto das características marcantes de uma pessoa', de forma que se pode dizer que uma pessoa 'não tem personalidade'; esse uso no entanto leva em conta um conceito do senso comum e não o conceito científico aqui tratado. Wikipédia
Trata-se de caráter genuíno, individual, não há dúvidas. E requer integridade. Todavia, considerando o ser humano como produto do meio, instruído de acordo com as crenças e tradições do reduto, sendo obrigado ao cumprimento dos ditames legais, morais e sociais, comunicando-se através dos mesmos códigos, sinais e idioma, clichês e convenções,  valendo-se dos métodos e conhecimentos em voga, e por fim dividido em gênero, idade, classe, afazer, e tudo o mais que se puder fatiar, de que modo podemos divisar alguém com personalidade?
Ao contemplar nas grandes cidades essas imensas aglomerações de seres humanos, que vão e vêm por suas ruas ou se concentram em festivais e manifestações políticas, não há como não dar razão ao antigo filósofo. Pode alguém manter aceso um projeto de vida mediante seus esforços particulares? Quase improvável. Não há espaço para alojá-lo, em que a pessoa possa se mover segundo o próprio ditame. A massa antipatiza com a discrepância. O desânimo o levará adaptar-se, a renunciar o desejo pessoal em troca da solução oposta: uma vida standard, composta de desiderata comum.
À parte as doutrinas particulares de pensadores individuais, existe no mundo uma forte e crescente inclinação a estender em forma extrema o poder da sociedade sobre o indivíduo, tanto por meio da força da opinião como pela legislativa. Ora bem, como todas as mudanças que se operam no mundo têm por efeito o aumento da força social e a diminuição do poder individual, este desbordamento não é um mal que tenda a desaparecer espontaneamente, mas, ao contrário, tende a fazer-se cada vez mais formidável. A disposição dos homens, seja como soberanos, seja como concidadãos, a impor aos demais como regra de conduta sua opinião e seus gostos, se acha tão energicamente sustentada por alguns dos melhores e alguns dos piores sentimentos inerentes à natureza humana, que quase nunca se reprime senão quando lhe falta poder. E como o poder não parece achar-se em via de declinar, mas de crescer, devemos esperar, a menos que uma forte barreira de convicção moral não se eleve contra o mal, devemos esperar, digo, que nas condições presentes do mundo esta disposição nada fará senão aumentar  MILL, John S. La liberté, trad. Dupont-White: 131.
Uma vez que a mediocridade tomou conta do salão, convido-lhe a um day-escape diversionista. Vá que encontremos algum instrumento cibernético capaz de produzir alguma personalidade  já que pelos meios corriqueiros há décadas só assistimos clones, arremedos, falta de imaginação, estereotipados, psicopatas e esquizofrênicos, estes aos borbotões.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Brasília à deriva

Há riqueza ostensiva em Brasília que não poderia ser construída honestamente. Casas suntuosas de servidores e ex-servidores que acumularam patrimônio incompatível com a realidade salarial... Parlamentares agradecem a Deus pela propina, numa cena inacreditável.
RABELLO, J.N., É só o começo. - Estadão de São Paulo, 30/11/2009
Após meses de flagrantes, depoimentos, provas de todos os gêneros, e intensos protestos populares, o procurador-geral da República, ROBERTO GURGEL assegura que as investigações apontam uma "falência das instituições no Distrito Federal".
Ninguém, todavia, parece disposto a assumir o imbroglio:
Ao Ministério da Justiça, neste momento, cabe aguardar. Estamos conversando com o secretário de Segurança Pública do DF e acompanhando de perto o desenrolar da segurança pública na capital. Não compete ao governo federal decidir pela intervenção ou não. Apenas em caso de alteração da 'ordem pública', o Ministério da Justiça poderá agir.
BARRETO, Luis Paulo, Ministro da Justiça do Brasil, 22/2/2010
Pois as alterações não são apenas de ordem pública, senão que institucionais, e até criminais!
É uma crise muito grave em que os poderes estão contaminados por atos de corrupção e infelizmente o sentimento é de que não há outro mecanismo a não ser a intervenção para tentar sanar a contaminação que tomou conta do executivo e da assembleia distrital aqui na capital da república
VALADARES, Mozart, Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Terra, 24/1/2010
No entanto, para o Ministério da Justiça cabe ao Supremo Tribunal Federal tomar a medida que julgar compatível. Este, todavia, reluta. Considera-se incompetente, mercê de pífia justificativa. O presidente STF, ministro Gilmar Mendes, afirmou nesta segunda-feira que não há precedentes de pedidos de intervenção federal que tenham sido acatados pela Corte. Então, por certo, não sabe como proceder. Prefere se distrair apreciando o pedido de habeas-corpus do governador afastado JOSÉ ROBERTO ARRUDA (sem partido, ex-PSDB e ex-DEM), já negado em caráter liminar pelo ministro MARCO AURÉLIO MELLO.
"Agora o fundamental para que se possa ter uma leitura mais tranquila é que o Superior Tribunal Federal (STF) julgue o pedido de intervenção, a fim de que aquele que assuma tenha a tranquilidade poder governar", diz OPHIR CAVALCANTE, presidente nacional da Ordem doa Advogados do Brasil, em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, em 24/2/2010.
Pois a insanidade parece ter tomado conta até mesmo desta entidade:
A OAB-DF anunciou na noite do dia 24 a criação de um movimento suprapartidário contra a intervenção federal no governo do Distrito Federal (GDF). A decisão representa uma mudança na campanha do órgão que defendia até ontem a intervenção no GDF.
Da UOL Notícias Em Brasília
Mas o que pretendem? Um concílio partidário? Uma administração ecumênica?
É impressionante a leniência, incapacidade, a incompetência das autoridades executivas, legislativas, judiciárias, eclesiásticas, militares, classistas, ou seja lá o que for, para colocar Brasília em ordem. A administração está virada em salve-se quem puder, e agarre o que puder. Se o Governo Federal não pode decretar uma imediata intervenção em seu próprio reduto, quem sabe chamamos as forças da ONU para organizar a Capital Federal?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A busca pela felicidade


Felicidade é uma gama de emoções ou sentimentos que vai desde o contentamento ou satisfação até à alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem ainda o significado de bem-estar ou paz interna. O oposto da felicidade é a tristeza. Em linguagem comum, quando se diz 'estou feliz', está-se a utilizar o primeiro significado — o de emoção. Enquanto que se se diz 'sou feliz', se está a utilizar o significado de bem-estar.É difícil definir rigorosamente a felicidade,  e ainda mais difícil definir medidas desta.
Wikipédia
Se existe um porto pelo qual há preferência de escolha ele se localiza no Mar da Felicidade. O dilema é que ninguém sabe onde ele se localiza!
A ninguém é dado a capacidade de determinar o que faria alguém feliz. Costumamos apenas dizer que alguém é “feliz” quando consegue atingir seus fins. Depende, contudo, dos meios que utiliza, e mais ainda, que esses fins, se não forem esportivos, não determinem o fim de outrem.
BENTHAM,
por exemplo, utilizou justamente a quimera para obter um cômodo no Palácio. Seu exitoso e singelo apelo incitou milhares de adeptos, e ainda forma interminável classe dirigente pelo mundo afora:
“O único objetivo do governo deve ser a maior felicidade do maior número possível de membros da comunidade.”
Eis a mais perfeita falácia, o sofisma campeão introjetado no meio social.
"O centralismo tira da sociedade a sua iniciativa e a transformava em eterno menor de idade perante o Estado todo-poderoso." (VÉLEZ-RODRIGUEZ, R., Tocqueville em tempos de populismo, 21/2/2010)
Esta teoria imagina uma espécie de espectador imparcial que, por dispor de todas as informações, seria capaz de determinar, por um balanço de perdas e ganhos, qual a regra de maior utilidade - total ou média - para o maior número. É claro que o utilitarismo pode servir para justificar - em nome da justiça e por uma espécie de ardil do 'bem-estar geral' - qualquer sistema de opressão geral.
HAYEK, F., Os erros do socialismo - A arrogância fatal: 78.
RUSSELL (2008:103) não lhe perdoou:
"Há cem anos, viveu um filósofo chamado Jeremy Bentham, universalmente conhecido como um homem muito perverso."
As noções de plena satisfação ou de felicidade geral são desprovidas de significado. É impossível encontrar um padrão para comparar os diferentes graus entre diversos indivíduos.
O que cabe aos governos, isso sim, é permitir que cada cidadão persiga a realização de acordo com a personalidade, conhecimento, e aptidão que lhes são próprias. Nenhum governo do mundo pode propiciar felicidade a ninguém, nem mesmo se ela for condensada na matéria, no dinheiro - é que para tanto, ele causa a maior infelicidade justamente a quem produz esta riqueza, de maneira que a distribuição será efêmera, até por exaurir o produtor. Foi o que aconteceu na U.R.S.S., e de certo modo vem acontecendo entre nós, diante dos escorchantes impostos, juros, e taxas de câmbio artificiais.
Felicidade não é lógica propriamente, porque é impossível ser feliz na forma. Felicidade é um fenômeno histórico, circunstanciado, ambientado, sem regras fixas, sem ritos inamovíveis. É surpresa. É só momento. Felicidade extensa é monotonia. Por isto, diz o poeta popular, o amor é eterno enquanto dura. Cientificamente isto é besteira, porque não cabe na lógica. Mesmo assim, é real, porque a eternidade do amor está na sua intensidade necessariamente momentânea e por isso de vibração avassaladora, por vezes paroxista, não na repetição monótona, chata, quadrada de algo que se torna rito. A ciência, por razões de método, apreciaria que a felicidade se debulhasse na monotonia repetitiva, porque nada mais mensurável é captável do que isto. Mas aí teríamos de preferir ciência à vida.
DEMO, Pedro, Ciência, Ideologia e Poder, Uma Sátira as Ciências Sociais: 58
Há quem eleja desenvolver as potencialidades de seu próprio ego. Outras preferem ter consciência dos problemas de seus semelhantes, e sua felicidade consiste em proporcionar o que lhes carece. Apenas substituem o dilema. Satisfeitas as primeiras necessidades, imediatamente surgem outras, e mais outras. Existem os que desejam apenas a satisfação de seus apetites para a relação sexual, comida, bebida, boas casas e outros bens materiais. Não poucos optam pela vida beata, reservando a perfeição para depois da morte.
O refrão assegura que o dinheiro não traz a felicidade, mas a maioria acredita que sim. Desta maneira, quem possua duas camas, duas escovas-de-dentes, e duas casas tem que usufruir, obrigatoriamente, o dobro da felicidade daquele que tem apenas unidades.
Não por acaso a ataraxia epicurista recomenda a desistência em atingi-la plenamente. Contenta-se apenas em aproximações instintivas, mas emoções perturbam corretas avaliações. Para quem age arrebatado pela paixão, o objetivo parece mais desejável; portanto, o preço a ser pago tende a ser mais oneroso, o que turva sua pureza. Ademais, o ser humano não pode ficar a mercê de impulsos que mais urgentemente lhes exijam satisfação, sob pena de se ver transformado num fantoche de seus apetites. Por causa disso, orientais aconselham a renúncia completa a qualquer ação. Para esta cultura, a felicidade só pode ser alcançada pela completa extinção da vontade, de certo modo renunciar a vida, quando se faz perfeitamente passivo, indiferente, inerte como as plantas. O bem supremo é o abandono do pensamento e da ação. "Pela não-ação tudo pode ser feito", assegura-nos Lao Tzé. De fato, muitas vezes colhemos bons resultados apenas aguardando o desdobramento das circunstâncias; contudo, a natureza, no caso budista, e mesmo o aclamado DEUS, entre nosotros, greco-romanos, são insensíveis em relação à nossa existência, à felicidade de qualquer pessoa. Ademais, se radicalizada, a não-ação, a anulação de todos os desejos leva à extinção da raça humana, pela não procriação.
Muitos se referem a ideal infrutífero, porque real - ele se aloja dentro do ser. Neste caso, tudo seria atingível sem nada procurar. Mas apenas a consciência seria capaz de assegurar uma existência feliz, portanto prazerosa, isenta de dissabores e nefastas surpresas? De fato, o bom coração arrefece a ansiedade, e com ele intacto a gente pode vivenciar uma trajetória menos traumática. Tal conforto, todavia, mostra-se insuficiente, apenas condição, prerequisito para quem almeja a glória suprema da plena felicidade. Aliás, um coração hígido pode ser a causa, mas também a conseqüência do usufruto da felicidade:
"Um novo estudo publicado nesta quinta-feira na "European Heart Journal" mostra que as pessoas que são mais felizes, contentes e otimistas têm menos risco de ter problemas no coração." (O Globo, Estudo inédito mostra que emoções positivas e felicidade previnem doenças do coração, 18/2/2010)
E assim a mola, a alavanca, o motor continua aceso à cata do estreito ao delta. O apelo é de tal monta que, por infeliz paradoxo, cada vez há mais gente, em especial na classe dirigente, que quer obter a felicidade retirando-a dos outros.
Sugestões de auto-ajuda nunca foram tão evidentes. Não poucas atingem best-sellers, e per se evidenciam a generalidade da preocupação. Até hoje, contudo, não houve cientista, filósofo ou santo capaz de dimensioná-la. Somos unânimes na ignorância. Eis um assunto que rende milhões de frases, textos, poesias; e milhares de obras, todas com enorme potencial de sucesso, mas bastará apenas um instante infeliz para colocar tudo por água abaixo. Quem supunha ser um feliz vivente esquece até mesmo a razão de sua existência.
Ao vasculharmos publicações concernentes, podemos tomar ciência de ações ou até omissões que nos causam prazer, satisfação. As relativas conseqüências são sensacionais; portanto, efêmeras, tanto quanto a própria vida, que igualmente é limitada. Então diz-se que ela, a felicidade plena, absoluta, é simplesmente impossível. Ainda assim, seja homem, mulher, ou derivado, comunista, fascista, desregrado ou pastor, até loucos de todo o gênero tem no alvo seu único propósito. Por paradoxo, constantemente nos tornamos desnorteados.
Se no fim do carnaval restam as cinzas, se depois de bebermos vem a ressaca, se perdoados incorremos em novos erros, neste eterno vai-e-vem como destacar um polo em detrimento do outro?
Poderíamos encerrar o tema afirmando que não existe felicidade plena, tanto quanto inexiste pessoas perfeitas, nem eterno bem-estar. Todavia, ainda que meio utópico, inalcançável, o assunto no momento me apraz mais do que ficar retratando a avalanche de infelicidade proporcionada pela elite dirigente, e pela massa que lhe acompanha. Afinal, se de nossa aventura nenhum de nós sairá vivo, de que vale tanta seriedade?
Cansado de rasantes pelos transatlânticos sociais, por ora dedicarei minhas atenções planando através desses alísios, descompromissado com rumos, e com velocidades, apenas retratando as paisagens que vão naturalmente se sucedendo em meu parco raio de visão.
A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros, diz-me CONFÚCIO, mas um sopro pode tanto representar um meio de ascenção, como um modo de apagar velas. Arrisco. Se algum quadro, pelo menos, propiciar satisfação, estarei plenamente gratificado. Se de nada servir, e até o contrário, tomar seu tempo, desculpe, mas nem isso será em vão - confirmará que você já possui a chave de seu paraíso.
Dois dias de navegação, pela proa surge uma caravela por demais acostumada com o trajeto. A felicidade lhe é companheira, porque não é chata, não é sempre a mesma. Diante da coincidência do encontro, e como a genialidade é irmã da simplicidade, encerro o período com a receita do seu comandante LUIS FERNANDO VERÍSSIMO, em Reabilitados, 21/1/2010:
Felicidade é quando o último canapé da bandeja sobra para você. É quando você sacode a lata — e ainda tem cerveja! É encontrar vaga no estacionamento depois de uma volta só. É o dentista telefonar para desmarcar a hora. E, ao contrário do que você sempre pensou, felicidade não é viver uma grande paixão, é ter alguém para coçar as suas costas.
__________
VELHO TEMA
Vicente de Carvalho

Só a leve esperança em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada,
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada,
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos,
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim, mas nós não a alcançamos,
Por que está sempre apenas onde a pomos,
E nunca a pomos onde nós estamos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A influência de Arruda na eleição presidencial



Ah, se o Arruda falasse...
Jorn. ELIO GASPARI, Folha de São Paulo: 2/12/2009

O Governador de Brasilia  não foi detido por causa de seus flagrantes desvios dos recursos públicos, mas por tentar obstaculizar a eterna instrução processual. Tal qual todos os precedentes, o processo seria arquivado, mas sua covardia, o medo da condenação lhe precipitou a continuar praticando os atos que vinham dando certo já por uns quinze anos. ARRUDA era dos principais negociadores de FHC para subornar os membros do Congresso Nacional, algo que vinha logrando êxito desde a aplicação do estupendo golpe bancário coberto pelo PROER, e posteriormente na alteração constitucional que permitiu a reeleição do chefe, ao infortúnio da Nação...
A negociata para a aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição de FHC foi o primeiro grande escândalo deste governo. Em maio de 97, a Folha de São Paulo apresentou gravação de conversa na qual os deputados Ronivon Santiago e João Maia, ambos do PFL do Acre, confessam ter recebido R$ 200 mil para votar a favor da emenda da reeleição. Segundo Ronivon e Maia, o filho de ACM, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) e o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM) eram os intermediários das negociações que eram acertadas diretamente com o então ministro das Comunicações Sérgio Motta. Ainda conforme a Folha, o pagamento era por conta dos governadores do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL-AM), e do Acre, Oleir Cameli (sem partido). Na gravação, Ronivon dizia que os deputados Osmir Lima (PFL-AC), Chicão Brígido (PMDB-AC) e Zilá Bezerra, também haviam vendido seus votos. A oposição se mobilizou para fazer a CPI da reeleição e o governo agiu como sempre: distribuiu verbas aos deputados e senadores para elidir o inquérito.
Para confirmar a lealdade o sistema sempre foi violado:
"ACM e José Roberto Arruda não foram santos, mas o painel eletrônico do Senado também não era virgem até a cassação de Luiz Estevão. Mais de uma votação secreta já teve antes seu resultado conhecido." (CRUVINEL, Tereza, Panorama Político)
O líder do governo pediu desculpas, renunciou, foi abandonado pela quadrilha como se abandona o assecla pego pela polícia, mas foi acolhido pela grei correlata, e assim retornou glorioso à testa de funções ainda mais elevadas, para executar o mais vil espetáculo.
O Poder Judiciário finalmente cumpriu alguma função, mas ela não se resumirá em instruir livremente o processo do escandaloso mensalão brasiliense. Talvez disso a Suprema Corte, que vem garantindo a corrupção desenfreada precisamente desde 1995, ainda não tenha se dado conta.
Já na época em que foi ameaçado pela violação do painel, o então Líder do Governo insinuou que seus atos e de ACM, do DEM, ambos partidos integrantes do Executivo, estavam à serviço do notável mandante. Imediatamente houve a negociação, e ARRUDA saiu arranhado, mas não abatido.
"Arruda também deverá ter, na medida do possível, um guarda-chuva político do partido. Precisará, porém, preservar o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governo de envolvimento com o escândalo." (KENNEDY ALENCAR, http://os.intocaveis.com.br/GS1/GestaoDaIndignidade.htm)
Como vemos, como prêmio ao seu silêncio, abiscoitou poucos anos depois nada menos do que o governo do Distrito Federal.
Desta feita, por envolver diretamente a Polícia Federal, por estar preso, sujeito à imediatos depoimentos, a uma inédita pressão popular e da imprensa, conquanto alvo de ataques e críticas até mesmo de seus "parceiros de negócios" não será surpresa se o acuado cidadão já se valha da delação premiada, dando a conhecer não só os procedimentos e os participantes das falcatruas que motivam seu cárcere, como o histórico geral de sua conduta política desde o início na sua vida pública.
Saliente-se que o distinto Governador seria designado como Vice-Presidente na chapa de JOSÉ SERRA, formando novamente a dobradinha PSDB/DEM. Coincidentemente vige estranheza pela preferência ao apático e quase anacrônico governador paulista na cabeça de chapa, em detrimento do correligionário governador de Minas Gerais, AÉCIO NEVES, notável pela descendência, desenvoltura e jovialidade. De uma hora para outra, sem nenhuma razão aparente, o mineiro desistiu de concorrer pela indicação do partido, sequer aceitando a composição da chamada chapa puro-sangue, para muitos imbatível. A desistência pode estar ligada diretamente ao incompetente ARRUDA, desmascarado nacionalmente, periclitando por isso, graças à sua fraqueza, vomitar o modus operandi das quadrilhas, fato que poderia se estender ao tempo em que articulava com MARCOS VALÉRIO, célebre introdutor do mensalão.
A revista IstoÉ publicou reportagem sobre aquele pioneiro "mensalão", o qual incriminava o senador EDUARDO AZEREDO (PSDB-MG), o ministro das Relações Institucionais de FHC, WALFRIDO DOS MARES GUIAS, e o governador de Minas Gerais, AÉCIO NEVES, em um esquema de arrecadação de dinheiro muito semelhante ao do aprimorado pelo PT, e descoberto em 2005. O ministro WALFRIDO DOS MARES GUIAS é acusado de ter movimentado mais de R$ 24 milhões para a campanha de AZEREDO, isto é, para seus bolsos; o PT também foi aquinhoado, com R$ 880 mil; e o governador AÉCIO NEVES, que na época lutava pela reeleição à Câmara, abistoitou R$ 110 mil do esquema.
O quadro, todavia, tende ficar ainda mais negro. A Polícia Federal, em função da delação premiada, pode estar reunindo elementos que também atingiriam SERRA, até agora incólume. Começou com o afiliado de SERRA ameaçado de perder o mandato da prefeitura paulistana, justamente por causa da descoberta de quem foram seus investidores de campanha, fornecedores oficiais. CBN - Lucia Hippolito Camargo Corrêa, OAS, Carioca Christiani Nielsen, Engeform e S/A Paulista doaram R$ 6,8 mi e já receberam R$ 243 mi da Prefeitura. Banco Itaú,como sempre, e a Associação Imobiliária Brasileira (AIB) complementam as doações consideradas ilegais pela Justiça Eleitoral à campanha do prefeito, com R$ 10 milhões. AIB é fechada do sindicato da habitação, Secovi.
O governador paulista na época também era Ministro de FHC, portanto colega de MARES GUIA, e de ELISEU PADILHA, gestor de monumental desfalque junto ao DNER, e responsável direto por permitir que as empreiteiras que lhe forraram pudessem arrancar seus lucros diretamente à beira da estrada, de todos os veículos que se obriguem a transitar. ELISEU PADILHA , por tudo, ficou conhecido nacionalmente como ELISMEU QUADRILHA. ARRUDA participou disso tudo, e conhece todos os meandros, filigranas, e personagens. Não obstante, SERRA também se imiscuiu em articular e captar recursos à campanha de FHC, em conjunto com SERJÃO e MÁRIO COVAS. (.A velha e a nova 'arte de furtar') Uma de suas maiores conquistas foi arrancar da FORD e da GM* uma cifra substancial, mas insignificante às multinacionais, frente à obstaculização de importações decretadas por FHC, sob a pecha de que o Brasil não tinha dinheiro para ficar importando automóvel. Na ocasião ainda ficou garantido aos queridos investidores terrenos e instalaçoes a fundo perdido, e impostos perdoados, para que montassem seus veículos, cujo escoamento o governo também garantiria diretamente, para integrar sua gigantesca frota, em todos os estados. Em seguida FHC importou um portaviões, e enorme quantidade de tanques usados, mas isso não vem ao caso.
Por fim, convém ainda considerar a precária situação da governadora do PSDB do Rio Grande do Sul, alvo de uma série impressionante de acusações que quase levaram ao impeachment. S.Exa. também foi correligionária de ARRUDA, e permanece ligada a SERRA, constantemente invocado a seu socorro. O ex-ministro TARSO GENRO, da Justiça, ministério que em última análise regula as ações da Polícia Federal, é candidato ao governo gaúcho.
Poder-se-ia alegar o estupendo mensalão do PT, campeão dos mensalões, mas neste caso houve maior competência. Os articuladores foram expurgados, caiu a diretório, TARSO GENRO assumiu o comando nacional, e de certo modo recuperou a casa. Ninguém mais deu bola, e LULA mantém uma taxa de aprovação nacional e internacional que nem mesmo JESUS CRISTO foi capaz.
Talvez tudo isso bem possa explicar a fisionomia preocupada, e a falta de mobilidade, chegando às raias da indecisão do governador paulista em ratificar seu interesse na disputa à Presidência da República. O povo não mais tolerará nenhuma denúncia.
LULA e sua secretária DILMA sorriem. Há quem aponte que ela nem terá adversário, ninguém aparecerá na raia. Por mais desprovida de carisma que seja, S. Exa. poderá levar com tranquilidade e fidelidade a tocha olímpica até o retorno triunfal do novo Pai-dos-pobres e Mãe-dos-ricos, a tempo das Olimpíadas.*
Passado mês, começam a chegar as concordâncias:
Lula voltará daqui a quatro anos à presidência. A previsão é do cientista político Lucio Rennó, do Instituto Giga (German Institut of Global and Area Studies), de Hamburgo, e foi lançada durante o seminário 'Brasil em ano eleitoral o que vem depois de Lula?', promovido em Berlim em11/3 pela Fundação Konrad Adenauer e a Sociedade Brasil-Alemanha, que comemora 50 anos de fundação.
___________
* S. Exa. teria sido informada sobre este rasante no futuro efetuado pela Nav's ALL?
Com certeza! Não por acaso já no dia seguinte se apressou em dissuadir:
"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ter escolhido a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) como candidata do PT à Presidência para apenas um mandato, com o objetivo de voltar em 2014."
(Estadão e Folha de São Paulo, 18/2/2010)
Decididamente, mais uma vez, S.Exa. falta com a verdade:

A base do governo tem na manga, pronta para ser apresentada, uma PEC (proposta de emenda constitucional) que prevê um referendo sobre a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrer a um terceiro mandato. Já há as 171 assinaturas necessárias para protocolar a emenda --a maioria vinda de PMDB, PT e outros partidos da base de Lula. Mas há apoios da oposição.
Folha de São Paulo, 17/5/2009

*Nav's ALL costuma voar na proa do tempo, e por isso adianta a virtual realidade com bastanta aproximação. Na mosca:
"Dilma diz que 'sem dúvida' Lula pode retornar em 2014
." (Folha de São Paulo, 21/1/2010)

No alvo, de novo:
Uma carta de cinco páginas do governador do DF, José Roberto Arruda estaria tirando o sono de figurões do DEM. Nela, Arruda faz um desabafo, alega inocência, acusa os adversários de “armação” para destruí-lo e aponta políticos – sobretudo do DEM, que praticamente o expulsou – que receberam dinheiro graças à influência de seu governo. Cópias da carta foram confiadas a pessoas da confiança de Arruda.
CLAUDIO HUMBERTO, 3/3/2010
O comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, coronel Alvaro Batista Camilo, comprou, por R$ 2,8 milhões, um Captiva para ele .O Estado flagrou o coronel em seu carro quando chegava a um encontro na zona norte de São Paulo. A seis quilômetros dali, Alckmin subia em um Vectra preto após uma solenidade na zona leste. O governador abriu mão dos Ômegas blindados contratados por seu antecessor, José Serra (PSDB).
O contrato de compra dos carros foi feito pela Diretoria de Logística da PM e publicado no Diário Oficial em 16 de outubro de 2010. incluindo 161 veículos da GM, sem especificar quantos eram viaturas oficiais e quantos eram carros sem identificação, para os coronéis. O valor total da compra foi de R$ 5,8 milhões. Foram adquiridos duas Montanas, 61 Vectras Expression, 92 Corsas Hatch, cinco Corsas Sedan e o Captiva. Cada Vectra saiu por R$ 44,9 mil - os 61 custaram R$ 2,73 milhões. Já os R$ 92 mil do Captiva equivalem ao preço de três Corsas - R$ 30 mil cada. 

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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cavalos do comissário

À parte as doutrinas particulares de pensadores individuais, existe no mundo uma forte e crescente inclinação a estender em forma extrema o poder da sociedade sobre o indivíduo, tanto por meio da força da opinião como pela legislativa. Ora bem, como todas as mudanças que se operam no mundo têm por efeito o aumento da força social e a diminuição do poder individual, este desbordamento não é um mal que tenda a desaparecer espontaneamente, mas, ao contrário, tende a fazer-se cada vez mais formidável. A disposição dos homens, seja como soberanos, seja como concidadãos, a impor aos demais como regra de conduta sua opinião e seus gostos, se acha tão energicamente sustentada por alguns dos melhores e alguns dos piores sentimentos inerentes à natureza humana, que quase nunca se reprime senão quando lhe falta poder. E como o poder não parece achar-se em via de declinar, mas de crescer, devemos esperar, a menos que uma forte barreira de convicção moral não se eleve contra o mal, devemos esperar, digo, que nas condições presentes do mundo esta disposição nada fará senão aumentar.
STUART MILL, J.,
La liberté, trad. Dupont-White: 131
O maior espetáculo da terra impressiona pela criatividade e riqueza dos detalhes, das fantasias, das musas despidas, dos carros alegóricos, ritmo e coreografias, da alegria espraiada por milhões de pessoas, de norte a sul do país. "Quem gosta de pobreza é intelectual", justificava o carnavalesco. No entanto, a tela é obrigada a dividir o efêmero multicolorido com paupérrimo preto-e-branco, mas nada intelectual, um dos mais deprimentes espetáculos da terra, totalmente despido, sim, mas de criatividade, cortesia dos dois candidatos mais citados à presidência da nossa res ex publica, ora privada, e muito fedorenta. Cosa Nostra. O cartaz proclama briga-de-galo.
A Charge do Jornal Após ataques de FH, tucanos sobem ao ringue e petistas reagem
Um contendor não é; e o outro, não canta: "Sou tímido e não me atreveria."
Cada partido compreende o que interessa à própria conservação não permitir que se esgote o partido concorrente. Tem mais necessidade de inimigos do que de amigos: só pelo contraste é que ele começa a se sentir necessário, a tornar-se necessário.
NIETZSCHE, F., Crepúsculo dos Ídolos: 39
"A comparação entre Serra e Dilma nos interessa. A Dilma tem projeto para o futuro, a oposição precisa apresentar o projeto dela. Em 2002, o povo queria mudança e ele [Serra] era o candidato da situação. Em 2010, o povo quer continuidade e ele é o candidato da mudança" (Líder do governo na Câmara, Dep. CÂNDIDO VACCAREZZA. - Folha de SP, 11/02/2010 )
"Se eles mostram o SERRA, que tem uma rica biografia, o PT mostra DILMA, que também tem." (BERZOINI, R., Presidente do PT, ao Estadão)
Então lá se foram os riquinhos atrás do Galo da Madrugada, este sim é galo.
Entre os trastes, porém, é difícil detectar contrastes:
O PSDB e o PT - e José Sarney, Collor de Mello, Democratas, you name it - simplesmente acabaram com qualquer espécie de oposição no debate político do país.
CUNHA, Martim Vasques da, As três soluções










Merecemos.
PT e PSDB não compartilham apenas a política econômica. Suas campanhas presidenciais compartilharam também os financiadores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. Dezenove empresas, a maioria delas com interesses no governo, investiram R$ 54,1 milhões na disputa eleitoral. O Banco Itaú, por exemplo, apostou igual em ambos os 'cavalos'.
www.claudiohumberto.com.br 6/4/2009
Os postulantes são velhos companheiros circenses. De mãos dadas entoavam o número das Diretas já, por eleições livres. O que apregoavam, todavia, não é possível - antes do povo, são seus partidários que lhes escolhem; e uma vez designados, buscam vedar a participação concorrencial. Vários partidos já foram cooptados, por certo não de graça.
Em 13 de agosto de 2005, a revista Época publicou entrevista com VALDEMAR DA COSTA NETO (PL-SP), o primeiro deputado a renunciar durante as investigações do escândalo do mensalão. Em foco, a reunião de 2002 que decidiu o apoio do PL (Partido Liberal) ao PT e a indicação de JOSÉ ALENCAR para vice de LULA.
O encontro se deu no apartamento do então deputado PAULO ROCHA (PT-PA), em Brasília. LULA estava presente. Depois de árdua negociação, durante a qual LULA discreto, se retirou a um aposento ao lado, fechou-se o acordo pelo qual o PT se prontificou a transferir R$ 10 milhões para o PL. em preço promocional. O PMDB deve alcançar melhor cotação. Relutantes e/ou nanicos, sofrem bombardeios, chantagens e sabotagens. É na cocheira que se decide o pleito. As eleições são indiretas. Candidatura avulsa, descompromissada com o corporativismo? Mas nem pensar!
"Se me fosse dado criar um sistema político do nada, faria um no qual a filiação a uma legenda não fosse quesito obrigatório para concorrer a um cargo proporcional ou majoritário. Só que a nossa realidade não é essa." (Hélio Schwartsman, Políticos em cana. Folha de S.Paulo, 18/2/2010)
Mas, dizia, ambos partidos de maior destaque se constituem por mútuas escoras.
O fato de eu, pessoalmente, gostar das críticas de FHC à candidata oficial e ao governo e de concordar com elas não me impede de reconhecer que o ex-presidente, queira ou não (e acho impossível que ele não reconheça isso), acaba colaborando com a estratégia petista.
AZEVEDO, Reinaldo,
FHC X LULA? NÃO! DILMA X CANDIDATO DA OPOSIÇÃO,12/2/2010.
Lembro do maquiavélico Pai-dos-pobres, e Mãe-dos ricos, o andrógeno parturiente do PTB e do PSD. A artimanha logrou espichar as falcatruas do Estado Novo por vinte anos além do colapso fascista. Foi preciso uma vassoura empunhada por um loquaz para varrer a enorme bandalheira. O que temos hoje? Desde a Nova República, malgrado curto lapso, quase os vinte anos de PT e PSDB se refastelando em mensalões. Nada mudou de lugar; exceto o prosaico "B'. *
Quando o PT assumiu o poder, seguiu ao pé da letra a receita de FHC - tanto nos acordos fisiológicos inevitáveis, quanto na tentativa de cooptação desses grupos barras-pesadas. A história ainda cobrará caro de FHC por ter institucionalizado o crime organizado no centro do jogo político brasileiro.
NASSIF, Luís, O sistema político brasileiro e o crime organizado. www.adital.com.br, 24/3/2009
De insignificante serventia, contudo, bem sei, é ventilar as falcatruas, que dirá tirar-lhes a máscara. Beira a ingenuidade lançar no rosto dos artífices a falta de moral. A imputação não lhes causa o menor impacto. Sentem-se até lisonjeados. O imoralismo chega a ser tão barato que qualquer um alardeia exercitá-lo, não titubeando demonstrar até mesmo o modus operandi.
Ora, concurso para garis tem milhares de candidatos, até mesmo doutores que buscam seu lugar ao Sol, na mais pura acepção. Não há certame com menos de três dígitos por vaga. No entanto, para um cargo que não exige sequer o nível médio, nem prática ou habilidade, e oferece um magnífico salário, cartão-corporativo sem limites, férias para onde quiser, levando a delegação que aprouver, sem estipulação de horário de trabalho, muito menos cartão-ponto, vale-transporte em transatlânticos voadores, moradia de graça no melhor palácio, assistência médica, hospitalar e dentária que preferir, sem nada pagar, naturalmente, vale-refeição com copa franca e vinho importado, viagens ilimitadas ao redor do mundo, entre 200 milhões apresentam-se apenas dois candidatos, sendo um ainda repetente, ex-exilado por conta própria, e a outra, neófita em política, ciência que pelos dotes que apresenta sequer passaria em vestibular, debutante em eleições, mera mandalete oficial? Algo me parece desconforme.
Boneca de ventríloquo? Nem sempre. Nenhum ventríloquo, a não ser por gozação, teria chamado Governador Valadares de Juiz de Fora duas vezes na mesma visita. Nem teria mencionado o ambiente como 'ameaça ao desenvolvimento', especialmente em Copenhague durante a conferência do clima. Também não teria respondido a uma repórter de forma truculenta, usando com ar de superioridade a expressão 'minha filha'.
KUNZ, Rolf, O show e o projeto de poder. - Estadão: 11/2/2010
N
Propala-se aos quatro ventos que vivemos numa democracia, que o povo pode escolher a cor que quiser, isto é, entre o preto e o branco. Na verdade o que está proposto é o cinza, a cor predileta, comum a esses pretensos digladiantes.
O falso contraste espelhado serve apenas para legitimar não um semi-plebiscito, mas na verdade um referendum, expresso que o eleitor ver-se-á diminuído, se não extinto, em favor do galo eleito e seus comissários.
Mas se a oposição se iguala ao governo petista nos métodos de rapina
do erário, como vai querer que o eleitor a escolha para o lugar deste?

PINTO, José Nêumanne, Do novo panetone à pizza de sempre?.
Ambos condenaram a ditadura, propugnando pela liberdade; porém, a desconsideram, em prol da interferência maciça do Estado. Dizem que é para o bem do próprio povo, e assim logram ressonância.
“Por isso, um príncipe cauteloso deve conceber um modo pelo qual os seus cidadãos, sempre e em qualquer situação, percebam que ele e o Estado lhes são indispensáveis. Só então aqueles ser-lhe-ão sempre fiéis.” (MAQUIAVEL, N., O Príncipe:15)
Primeiro, sangram a população; depois, apresentam os band-aids.
"Lula distribuiu recursos públicos a um amplo elenco de empresas, atraindo boa parte do empresariado, e a todo o movimento sindical. E fez isso com base nos inéditos ganhos de arrecadação, frutos da atividade econômica." (SARDENBERG, C.A., Juros estão caindo, 11/2/2010)
O estudo da sociedade é tão precioso porque o homem é
muito mais ingênuo como a sociedade do que como indivíduo.

NIETZSCHE, F., Vontade de Potência - Parte 2: 276
As taxações vem se avolumando gradualmente, sobrecarregando direta e subreticiamente os orçamentos comercial e familiar, conquanto aumenta o contingente improdutivo voltado a arrancar os reais de quem produz. Cada prato de comida custa o dobro a qualquer trabalhador; mas quando ele ganha um, apenas um, dá-se por satisfeito, e venera o dadivoso:
Algumas famílias deverão receber até R$ 1.900. Isso porque Serra lançou o programa Novo Começo, que, além do auxílio-moradia, destinará R$ 1.000 para que famílias atingidas pelas chuvas comprem móveis e outros objetos perdidos. 'Se depender de mim, ele será presidente', afirmou a dona de casa Alessandra Fernandes, 33, após receber seu cheque. Para Fernando Neves, ex-ministro do TSE, a entrega dos cheques não configura infração à legislação eleitoral 'desde que não haja pedido de voto'. A prática se configura como 'atividade de governo', diz ele.
Folha de São Paulo, 13/2/2010
O pior ainda acontece com aquelas empresas que se julgam privilegiadas em abiscoitar algum subsídio. Mercê da avalanche de gravames municipais, estaduais, e federais, e da maior taxa de juros do mundo, suas operações, e a comercialização de seus produtos são pelo dobro encarecidas. E por causa da atrofia monetária, do real sobrevalorizado pela escassez, pelo enxugamento através dos depósitos compulsórios em mais de 30% do que era para estar irrigando a produção e o mercado, os clientes aos poucos viram passantes.
"No acumulado dos últimos 12 meses, a produção industrial tem retração de 8,9%, o que configura o pior desempenho da série histórica. O setor de bens de capital foi o mais afetado... com redução de 25,7% na produção." (Folha de São Paulo, 2/10/2009)
Mas se o bondoso governo reduz um percentual de dígito sobre algum especial produto industrializado, o sindicato patronal lhe coroa o maioral.
Não conheço ditador, até mesmo os mais radicais, que não apele à demagogia, ao afago da massa que objetiva se impor; que dirá um travestido democrático. O povo aplaude, vibra só em imaginar a salvação. Na quase eterna desventura, ou com mais forte apetite, é da melhor conveniência esta permanente e segura possibilidade de ganhar aquele prato sem esforço, luta, dúvida nem risco. Cabe ao rebanho apenas escolher a mola que julga mais potente para fazer funcionar a portentosa máquina que lhe conduzirá ao prometido pasto-verde. O ideal se apresenta claro, e de graça; contudo, tal qual horizonte, ele jamais é atingido.
Um homem vota em um partido e permanece infeliz; ele conclui que era o outro partido que traria o período de felicidade e prosperidade. No momento em que estivesse desencantado com todos os partidos, já seria um homem idoso, à beira da morte. Seus filhos teriam a mesma crença de sua juventude, e a oscilação contínua.
RUSSELL, Bertrand, Ensaios céticos: 121.,
Letras pintadas até de vermelho e preto divulgam: Brasil, um país de todos. Portanto, não é de ninguém. Está à disposição. Quem chegar primeiro, se adona. O novo jockey poderá inovar ainda mais: em vez do "O Estado sou eu", O Estado é meu. Não perca: Quem manda neste país é o meu paiO mecanismo da representação política ardilosamente montado visa apenas a conquista, legimação, usufruto e manutenção do poder. Weasel, a doninha, é capaz de sugar o ovo sem quebrá-lo. A casca vai ficando oca, e ninguém nota.O eleitor sucumbe na massa, ao deleite do pizzaiollo. O resultado desta tendência será fatal. A sociedade continuará vivendo para o Estado? A espontaneidade social ficará violentada mais uma vez. E o homem, para a máquina do Governo? Novas sementes não podem frutificar no costumeiro mar-de-lama. E quanto ao próprio Leviathan, esta máquina que nada produz, mas apenas conduz, que torna o cidadão azeite de seu prato, depois de sugar a medula da sociedade, de saciar sua fome momentânea, um lapso não lhe tornará esquálido, enferrujado como toda a máquina, ainda mais cadavérica do que qualquer organismo vivo?
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários... Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa.
SELDON: 60
O que lhe restará a não ser devorado pelos vermes, sucumbindo como tantos gigantes?
Para quem ainda alimente alguma esperança, quem porventura tenha permanecido incólume aos desvairios que já ultrapassam em dobro os sete anos de vacas-magras, basta conferir a virtualidade do negro prenúncio nas performances paralelas e recém passadas, e outras tantas mais ou menos distantes.
Portugal é a bola da vez em termos de volume proporcional de déficit. Como isso será feito no regime democrático? Eu não tenho a mínima ideia. É certo que essas sociedades passarão por processo de empobrecimento rápido. O fracasso dessas experiências é o fracasso da social-democracia, ou seja, da promessa igualitarista, incompatível com a prosperidade econômica. Estamos chegando a um tempo em que a realidade econômica se imporá de forma inexorável sobre a alucinação política que assumiu a hipótese de que seria possível suprimir a lei da escassez e que parcela crescente da população poderia viver sem trabalhar.
CORDEIRO, Nivaldo, Valores invertidos
12/2/2010
“O Brasil é feito para nos matar e não para nos fazer viver” (CARDOSO, Pedro, ator, sobre a injustiça social vigente no país. 13/8/2009 - http://emkt.pavazine.com) .
A polis vem perdendo a característica de um conjunto de casas habitáveis, para servir de estádio ao ajuntamento civil, campo demarcado em prol do "serviço público". São centenas de milhares de trabalhadores convocados para preencher cargos estapafúrdios, isto apenas no último exercício, acompanhados por milhões de portadores de bolsas de variadas grifes.
"Mais de 40 mil candidatos às eleições de 2006 e 2008 eram beneficiários do programa Bolsa-Família, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União." (www.claudiohumberto.com.br - 5/5/2009)
O buraco-negro ocasionado por tal bolsão fatalmente embolsará o futuro da Nação.
"Todo gasto corrente que o Estado faz reduz a capacidade da economia de produzir bens e serviços. Em outros termos, se o gasto público não for eficiente, o mesmo está diminuindo o bem-estar de toda a sociedade." (WILHER, Vítor, Homens providenciais versus instituições, 12/2/2010)
"O governo não é capaz de tornar o homem mais rico, mas pode empobrecê-lo." (MISES, L., Uma Crítica ao Intervencionismo: 21)
O comissário quer tudo para si. Infelizmente:
Nunca o brasileiro deveu tanto. Entre cartões de crédito, cheque especial, financiamento bancário, crédito consignado, empréstimos para compra de veículos, imóveis - incluindo os recursos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) -, a dívida das famílias atingiu no fim do ano passado R$ 555 bilhões. O valor é quase 40% da renda anual da população, que engloba a massa nacional de rendimentos do trabalho e os benefícios pagos pela Previdência Social.
Estadão, 15/2/2010
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*Pessoal parece andar pegando carona na Nav's ALL. Bemvindos:
Pelo lado mais perigoso da política, há a flagrante tentativa de retomar um obsoleto 'estado forte' com seu fascismo disfarçado de pai dos pobres (e mãe dos ricos), sua absurda ineficiência e sua centralização que, governo após governo, inventa esses ladrões do nosso dinheiro que ficam — apesar do protesto hiperelegante da OAB — no comando da máquina que eles mostram não ter honra para gerenciar! A própria lei impede sua punição!
DAMATA, Roberto,A sina da coluna: fim de festa,19/2/2010