terça-feira, 30 de setembro de 2008

Dinheiro x Democracia 8: a festa da crise

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Então veio, parece, um sábio astuto,
o primeiro inventor do medo aos deuses...
Forjou um conto, altamente sedutora doutrina,
em que a verdade se ocultava
sob os véus de mendaz sabedoria.

Disse onde moram os terríveis deuses das alturas,
em cúpulas gigantes, de onde ruge o trovão,
e aterradores relâmpagos do raio aos olhos cegam.
Cingiu assim os homens com seus atilhos de pavor,
rodeando-os de deuses em esplêndidos sólios,
encantou-os com seus feitiços, e os intimidou –
e a desordem mudou-se em lei e ordem.
CRÍTIAS, tio de PLATÃO, e líder dos Trinta Tiranos em Atenas, após
a guerra do Peloponeso; cit. POPPER, Karl M., 1998, Tomo I, p. 158
.
No primeiro quarto do XX, o aparecimento do fantasma bolchevique rendeu duas estupendas oportunidades. A primeira, no campo político, ensejou a ascenção dos governos totalitaristas. E a segunda, permitiu que esses governos, mercê da capacidade manipulatória, movimentassem toda a riqueza do mundo, representada pelo dinheiro, à contas redutos particulares. Tal proeza foi precedida de enorme recessão, justamente para preparar a enorme onda.
Em nosso quarto falta imaginação; talvez por isso haja tantos queridos para repetir a façanha. As chances são convidativas no cada vez mais acessível tabuleiro. Qualquer vilão pode chegar. O comparecimento é maciço. Não há Lenin, mas nem precisa tanta contundência: basta acenar com o etéreo, algum ente imaginário, qualquer binladen, uma chama-piloto seguida de algum efeito pirotécnico, para reacender o temor a todo o globo:
A atual crise americana
A crise americana é mais grave do que parecia há seis meses, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista, em Nova York. O presidente também afirmou que o crédito pode ser reduzido no mundo inteiro. 'Já há sinais de pouco crédito no mundo porque não há segurança e ninguém quer liberar seus dólares'.
Desta feita, a rebelião no cuore capitalista não é proveniente dos operários, tampouco é religiosa, mas produto da combinação dos malvados chefes-de-família: eles se negam a pagar as prestações de suas casas! Seria uma greve-geral soreliana? Fascismo & sindicalismo: o papel de Sorel Mas nem maestro obteria um movimento tão allegro. Quem sabe ficaram pobres de repente? Desempregados no decorrer do ano? Só os pais-de-família? E apenas os que detinham imóveis, porque com os possuidores dos cartões-de-crédito, por exemplo, vai tudo azul, todos são fortes na América do Norte? E que aconteceria se tal filme se abatesse sobre aqueles infelizes adquirentes da casa própria? Os financiadores enriqueceriam só assumindo os imóveis por apenas percentual do valor hipotecado, e sem precisar devolver as parcelas quitadas? Não; essa é dura demais. É de amargar! Espelho, espelho imundo!! Como um gringo pode superar o magnífico valor coberto pelo nosso maior golpe do mundo*?
* * *
Maquiavel propugnou pelo extermínio em massa; Napoleão, só pela vizinhança.
Para Hobbes, Rousseau, Hegel, Darwin, Fichte* e Freud, qualquer indivíduo contém maldade, e todos concordam. Marx foi taxado de exagerado por impingi-la apenas à classe dos patrões, assim livrando os proletários. Hitler foi acusado de megalomaníaco por ser contrário: a sub-raça é que era responsável pelos desvios. No Brasil, Getúlio, o suicida, deu o golpe por causa da grande ameaça. Um exército subversivo varava dentro do mato. Os vinte brancaleones do imprestável Prestes se alimentavam com capivaras. Era um terror só. Gegê defendeu a cidadela. Deve ter sido mesmo um herói... Casualmente hoje é aniversário da denúncia do Plano Cohen. Em 30 de setembro de 1937, o General Góes Monteiro alarmou o povo, em cadeia de rádio nacional: os comunistas iam comer todas as criancinhas! Getúlio fechou o Congresso e decretou a Polaca, uma constituição totalmente fascista. Lograda a façanha, o mesmo General voltou a público para confessar a histórica mentira, assim por todos tolerada, e até venerada pela "democrática" eleição do impostor, embora não poucos testemunhem o processo de fraude desenvolvido pelo assecla militar. Ora "neste país", contrário ao paraíso, o diabo virou anjo. Nos anos de chumbo, era chumbo grosso para ele. Agora, dinheiro grosso, por mensalão. Os diabos foram anistiados, e são assim aquinhoados.
* * *
Nietzsche se deu conta: a história ocidental produz uma permanente festa à fantasia, na qual os dogmas e as religiões do mundo comparecem vestidos de arlequim. Aderimos:
Contemporaneamente o mito vai se identificando com a ideologia política: é que o processo mitológico sempre coloca suas crenças a serviço de uma ideologia. Barthes, coincidindo com este entendimento, afirma que através do mito consegue-se transformar a história em ideologia.
(
WARAT, Luiz Alberto, Mitos e Teorias na Interpretação da Lei: 128)
A democracia, tal como vem sendo concebida, reduz-se a forma de governo. A artimanha consiste em induzir as pessoas a agirem de acordo com o feitor, sem perder a impressão de que suas ações estão em conformidade com suas aspirações:
"O mundo está cheio de injustiças, e aqueles que lucram com a injustiça estão numa posição de administrar as recompensas e os castigos." (RUSSELL, B., Ensaios céticos: 111)
O imposto de renda e o "direito" do trabalho, entre tantos, que não pararíamos mais de listar, foram instituídos, e assimilados depois de prévias e convincentes justificativas. Esses destaques foram conseqüências da perfídia marxista.Depois ficamos sabendo que E=Mc2, de modo que o materialismo não tem, sequer, objeto, mas o governo tem, e isso é o que interessa. O mito está edificado, e tudo fica como dantes, (ou até mais agigantado) no quartel dos dantes.
* * *
Os EUA são pródigos em perseguir belzebús, mas antes criam suas vestes, como todo mundo: eles precisam aparecer na TV. Na década de vinte, os demônios se apresentavam com roupas de comunistas, anarquistas e alcoólatras:
A capital do país, Washington, tinha trezentos bares licenciados antes da Lei Seca: agora havia setecentos bares clandestinos, supridos por quatro mil fornecedores. Tudo isso era possível em função da corrupção total em todos os níveis. Assim, em Detroit, havia vinte mil bares clandestinos.
JOHNSON, P. : 174
Os gangsters gostaram do grand prix; e dizimaram a população. Na de trinta, o país começou a enfrentar o ex-aliado, anjo revoltado. Na de quarenta, a Cortina de Ferro desceu sobre o palco. A platéia não pode mais enxergar. Quando o maligno perdeu a graça, e encerrou o entedioso show, logo apareceram dois novos clones: um largou a bebida pela droga; o outro, pelo islamismo. A droga é de fato produto altamente rentável. Rende votos aos caçadores; rende muito aos traficantes, aos jornais, e justifica as altas somas envolvidas. O islamismo também. Bush amealha astronômica cifra para caçá-los. Enquanto isso, saqueia o quinto dos infernos e lhe retira o petróleo, desse modo contemplando seus investidores de campanha.
* * *
Desde os primórdios do XX a maior parte dos investidores vem pelos meios de rodagem; pelo meio, entrou a rodagem da máquina de fabricar dinheiro, sem nada produzir. Isso quem ensinou foi Tio Sam, o da cartola; e quem tão bem implementa é o Brasil. Além de coelhos, abundam gatos, papagaios, tucanos, cobras, jacarés e macacos, por aqui.
* * *
Os investidores de campanha no Brasil foram listados na pasta-cor-de-rosa. Ao assumir o impostor, ele tornou o futuro da cor, mas seus eleitores até hoje vêem a coisa preta.
As arrecadações de campanha constituem lêdo engano, o mais crasso dos equívocos: não são as empresas que estão contribuindo; elas só estão investindo. Quem paga o pato, e muito mais caro, será o modesto chefe-de-família omisso, ocupado exclusivamente em manter de pé sua residência. Por paradoxo, quanto mais lhe preocupa sua cama, ao redor da casa, depois da eleição, e agora até um pouco antes, vem o redemoinho para levá-la de roldão. Do couro é que sai a correia, já prenunciava o filósofo de plantão.
* * *
No caso americano, parece haver rendimento instantâneo. O candidato republicano aos aposentos da Casa Branca já acusou Barack Obama de exorbitar na captação de recursos, mas parece que ele, sua grei e seus patrocinadores é que estão melhor se valendo do rateio; desta feita gigantesco, e de antemão.
Naquela década fatídica já havia assombração para justificar a magia, e assim as famílias americanas puderam nanar, embaladas em New Deal:
Estamos hoje no meio da maior catástrofe econômica – a maior catástrofe devida quase inteiramente a causas econômicas – do mundo moderno. Sustenta-se em Moscou a idéia de que é a crise final, culminante no capitalismo e que nossa ordem existente da sociedade não sobreviverá a ela.
KEYNES, John Maynard, cit. Strathern: 224

Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934.
GLEISER, I.: 211
Roosevelt e os investidores da campanha limparam os cofres repletos de ouro, colocando papel em seu lugar. Preocupados que a longo prazo tudo iria ruir alguns correligionários interpelaram o mágico britânico. A resposta foi enfática, numa frase inesquecível:
"A longo prazo estaremos todos mortos!" Sobre o caráter de Keynes
Coincidentemente, este que antecipara a catástrofe, soube aumentar seu patrimônio pessoal: de 16.315 libras, logrou 411.238 - equivalentes a 10 milhões de libras em valores atuais - quando morreu. (Idem: 35)
Estamos explicados?
* * *
A propalada crise americana é apenas fruto da ganância de alguns maiores banqueiros daquele país, e de resto espalhados pelo globo, em associação com os governos fascistas que tem se instalado da América Latina, àquela do norte; da Rússia à Itália, e alhures, mais ou menos maquiados. Não por acaso, os bancos envolvidos são os mesmos que especulam em mercados de capitais. Por lá tem aquela instituição com nome de pirata. Geralmente é ela quem agita o pano vermelho, para enfiar sua espada. Embora suas garras se estendam até ao fim-do-mundo, isto é, até no Brasil, sua interferência doméstica, contudo, é bastante restrita, encerrada na Wall Street. Como os valores daquele country são de tal magnitude que não cabem em nenhuma bolsa, fica óbvio e patente que tais anúncios visam, apenas, o estouro da boiada, para o cowboy laçar o boi que lhe apraz.
* * *
Tudo isso só acontece por um bizarro fator: em que pese a democracia repartir o poder político em três, e os EUA até pelas terras, divididas em vários estados, o poder financeiro, a capacidade de manipular a moeda é prerrogativa do jockey, em qualquer lugar do mundo. Tal privilégio tem ressonância não só na destinação dos impostos recolhidos, como do próprio aparelho produtivo, afinado por seu diapasão.
Especialmente depois de Keynes o dinheiro subverte qualquer tradição, e bem o sabemos: o poder absoluto corrompe absolutamente. Portanto, é trivial concluir: ou a civilização minimiza o quase irredutível tirano, ou ela própria acabará em maus lençóis.
___________
* Para Johan Gottlieb Fichte (1762-1814) a educação deveria ter por objetivo destruir o livre arbítrio, de modo que as crianças, depois de deixarem a escola, fossem incapazes, pelo resto de suas vidas, de pensar e agir de maneira diversa daquela que seus mestres teriam desejado.
* * *
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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dinheiro x Democracia 7 - o dilema americano II

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A Revolução Industrial tudo alterou, em curto EspaçoTempo.
As
instituições mecanicistas ainda permeiam a vida
econômica, social, cultural, política e demais áreas do conhecimento.
Na Revolução da Informação, a
estrutura hierarquizada não tem mais serventia. Destaco dois efeitos que me parecem mais salientes, no fito de aquilatar o grau do equívoco no qual permanecemos submetidos.
O primeiro efeito demonstrava que a força concentrada valia mais do que a individual, e isso parecia óbvio, fosse pela ascenção dos trusts e grandes indústrias, ou pelo flagrante exemplo alemão, antecedido pelo francês.
O segundo é que tudo era passível de planejamento. A Revolução colocou o Engenheiro Mecânico no patamar superior a todas as ciências. O homem havia saído em busca do conhecimento para suprir suas necessidades, e esta profissão passou a ser sua mais fiel expressão. Para completar, até o esteio jurídico escorregou pela verêda, através das proposições de Hegel, levadas à cabo na Alemanha bismarckiana, e em seguida pelo empurrão de Comte. Ambos contavam com a propositura legislativa para predispor o futuro conforme uma engrenagem. O nascimento do XX ratificava a esperança, e os grandes empreendimentos precisavam da cobertura do maior de todos, o Estado, até então ausente:
"É necessário que a ciência mostre por fim sua utilidade! Ela se tornou nutricionista a serviço do egoísmo: o Estado e a sociedade a tomaram a seu serviço para explorá-la segundo seus fins." (NIETZSCHE, F., O livro do filósofo: 30)
Nem era assim, tão novidade. O artista Da Vinci só foi admitido no Palácio porque sabia projetar máquinas de guerra, para não falar de Maquiavel e Bacon, se é que alguém pode admitir que esta dupla produziu algum tipo de ciência. Até Newton almejava, e conquistou cargo público, o mesmo se sucedendo com Hobbes, Bentham, Austin, Mill, Hegel, e Darwin, que fez um turismo espetacular, às custas dos súditos do Reino. Descartes e Rousseau, tofavia, em que pese a ambição, ficaram lambendo sabão.
* * *
O Leviathan precisa de veias e artérias. O Estado se imiscui de modo ainda mais acentuado. Assim é que paulatinamente o rendimento de cada cidadão é drenado a compor a montanha reservada aos grandes projetos.
O sistema de transportes foi tomado pela economia nacional, desde o comando direto, até aos subsídios concedidos à sua grande criação, a indústria automobilística. O taylorismo Frederick Winslow Taylor (1856-1915) pôs a gente no liquidificador. Produção em massa
O troféu produzido passou logo a símbolo de status, e maior apelo ao trabalho de cada cidadão. Não obstante, ratificava o novo (velho) papel do Estado, associado à produção. Renascia a corrida ao ouro, e desta feita mais à feição, porque guardado no cofre político. A liberdade poderia ser plenamente exercida, mas, por paradoxo, exige um regime quase escravocrata. Foi de posse dessa experiência, do consórcio entre essas empresas privadas e o poder público que a produção americana se instalou no seio de inúmeras nações. Os governantes de republiquetas se fartaram de auferir lucros pecuniários e eleitorais para solaparem quaisquer outros projetos ferroviários, fluviais e marítimos, fatos que se sucederam ao longo de todo o século. Ao povo resta rodar; e ao universo, a poluição tolerar.
* * *
Vivemos à base de idéias, de morais, de sociologias, de filosofias e de uma
psicologia que pertencem ao século XIX. Somos os nossos próprios bisavós.

BERGIER, Jacques e PAWELS, Louis, O despertar dos mágicos: 31
A maior participação do Estado na composição dos capitais privados, contudo, seria mais substancial e evidente através do mercado financeiro, direto. De modo crescente, desde a década de 1920 ele vem permeando todas as instituições elencadas por Bergier e Pawells, e por incontáveis não citadas. Os Estados Unidos não foram compostos com esses fins, tampouco a ideologia liberal, puritana, ou protestante poderiam ser conformes, mas ideais filosóficos, de crenças e ou tradições pouco importam no momento em que a "ciência", e não meras expectativas, apontam o caminho indicado às grandes conquistas. Ademais, no exclusivo pensamento através de projeções, ao gáudio platônico, o darwinismo de novo se põe coberto de razão: a imagem mais forte sobrepuja a de menor importância. A atualidade suplanta a posteridade. O vulto cresce na medida em que se aproxima, e decresce no horizonte.
O eleitorado aquiesceu, e a Nação adoeceu. Cavada depressão
As responsabilidades assumidas pelos governos centrais, bem como o poder de que se investiram para desincumbirem-se delas, aumentaram significativamente em todo o mundo depois da II Guerra Mundial. Em quase todos os países, sucessivos governos lançaram ou expandiram programas de assistência social, garantindo com isso que populações inteiras recebessem proteção contra desemprego, doença e velhice. Com base em exemplos estabelecidos pela Alemanha e pela Inglaterra antes da I Guerra Mundial, as nações ocidentais instituíram programas nacionais de crescente abrangência nas áreas de saúde e segurança social. Também os países socialistas e os do Terceiro Mundo procuraram minorar, em certos casos com notável rapidez, os problemas de pessoas às quais, durante gerações, fora negada a possibilidade de uma vida saudável e segura. Esse movimento, no sentido da expansão dos sistemas de bem-estar social, resultaram numa crescente tendência por parte dos governos para controlar seus cidadãos. Quais os resultados disso? Alguns observadores têm afirmado que o aumento, em todo o mundo, da autoridade dos governos centrais constitui sintoma de um declínio da ideologia política e econômica.
BURNS, LERNER & STANDISH,: 760
A microimaginação da macroeconomia não tem mais serventia, exceto se os EUA participarem de mais uma Guerra Mundial, e forem vencedores. A julgar pela atual configuração geopolítica, todavia, ambas condições me parecem remotas*. A atual crise americana requer exclusivo tratamento financeiro, sim, mas de modo a modificar, inclusive, seu eixo de rotação, dimensionado em 4x4 para andar no barro, quanto muito no asfalto. Por isso a Águia não pode mais voar; e talvez também por isso é que encontramos na China o Ninho dos Pássaros, malgrado composto nas oficinas materialistas, e de certo modo ainda monitorado por aqueles toscos engenheiros de Mao. Ora ela tem andado bem, e seus pássaros voando, até mesmo no espaço sideral!
Qualquer terremoto tem seu epicentro; e no caso, é perfeitamente localizável. Todos vetores apontam em apenas uma direção, que é a mesma, nos Estados Unidos, ou onde quer que haja: é o poder do governo, necessariamente mal-gerido, porque não contempla a diversidade, a individualidade, a incerteza, e qualquer tipo de variação, o grande fulcro e difusor de todas as mazelas economicas, sociais, políticas, e jurídicas.
* * *
Logo após os deputados americanos barrarem o plano de resgate à economia de US$ 700 bilhões, o candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, fez um pronunciamento atribuindo o fenômeno aos "oito anos de irresponsabilidade" do governo Bush. Ora, jamais poderá uma pessoa assumir uma responsabilidade por milhões de pessoas. É inviável. Obama, se eleito, não poderá responder por tanto - faltar-lhe-á tempo até para proceder a chamada! Fica óbvio e patente, que concentrar o poder faz todo mundo sofrer. Ao ambicionar, ou pior, fingir querer a todos contentar, o Estado não contempla ninguém. E se for o caso de má-fé, como sói acontecer, embora num primeiro momento a farsa possa ser útil aos partícipes, convém sempre lembrar que o sádico Maquiavel: a "máquina de moer carne", programou-a sem variação, reservando um final melancólico, senão trágico, aos seus astros principais, justamente para seu deleite e o da platéia, que, afinal, é quem vem lhe garantindo o sucesso de bilheteria por todos esses séculos, e não suas estrelas, tais como Mussolini, Lenin, Stalin e Hitler, para não falar de nosso macaquito.
Quanto aos coadjuvantes, a história comercial é repleta em narrar os infortúnios, com exceções de um dígito, de modo que não cometerei a injustiça de ligar o atual desespero das grandes montadoras americanas ao hábito de subornar governos, para depois abiscoitarem vantagens, como nesta semana passada na qual lograram um aporte vultoso de Tio Sam. Não é prerrogativa dessas gigantes se fingirem de mortos para ganharem sapato novo. O mesmo diagnóstico pode ser aplicado à ascenção, mas igualmente razão dos dèbacles de grandes trustes bancários, securitários, etc.
A intervenção sem precedentes do Federal Reserve (o banco central americano) pode ser justificável ou não em termos estreitos, mas revela, mais uma vez, o caráter profundamente antidemocrático das instituições capitalistas, feitas em grande medida para socializar o custo e o risco e privatizar os lucros, sem uma voz pública.
(CHOMSKI, Noah,
do Massachusetts Institute of Technology, à BBC)
* * *
A concepção da divisão de poderes foi encetada primeiramente por Locke, e no aspecto econômico David Ricardo lhe emprestou a primeira guarida, complementada de modo luminar por Adam Smith. Contudo, Ricardo cuidou de asseverar que suas soluções se adequavam à grande ilha, e não seriam possíveis em vastidões territoriais. Montesquieu importou o método, "tropicalizando-lhe" com a adição do poder Judiciário, mas também bem realçou: a democracia e a divisão de poderes que a embasa só seriam viáveis em países de reduzida dimensão. De fato, a Grâ-Bretanha, em que pese a aristocracia, mantém a democracia incólume por todos esses séculos, enquanto a rica França ratificou a certeza antecipada, ao coroar Napoleão, levando junto a tonta Alemanha, a hibernada Rússia, a folclórica Itália, e los valientes espanholes, todos aquinhoados, desde então, com inúmeras perturbações, guerras civis e internacionais, ditaduras e constituições de toda índole:
Faça a conta dos regimes que nos levam a codificar com um gesto nossas paixões do momento. Compensamos nossa inconstância através de visões eternas logo gravadas no mármore. Nossas revoluções passam primeiro pelo tabelião. Conseqüência: quinze Constituições em cento e oitenta se sucederam na França depois da Convenção: Diretório, Consulado, Primeiro Império, Restauração, Cem Dias, Restauração, Monarquia de Julho, II República, Segundo Império, III República, Vichy, de Gaulle, IV República, V República, ufa! "
MITTERRAND, François,
Aqui e Agora, p. 90.
Os Estados Unidos contornaram magistralmente a restrição, retalhando o imenso country em inúmeros pequenos estados, fato que lhe gerou, inclusive, seu próprio nome, até mesmo meio anônimo.
Qual a razão, todavia, de que nem lá, nem em outro lugar tentado imitar, dá certo a genial fórmula?
A razão é trivial, ao mesmo tempo chocante, pela falta de discernimento.
Antigamente era o poder da força, depois das leis que comandavam todos os países. Hoje vivemos sob a égide do dinheiro. É banal a conclusão: quem detiver seu comando, comandará a nação. E se o comando for unilateral, absoluto, e irrestrito, teremos e veremos, sempre, o absolutismo se agigantar, independentemente de ser ou não estado de direito. Como sair da armadilha? Elementar, meu caro Watson: assim como o poder foi repartido em três; e o country dividido em vários, poderemos compor sistemas concorrentes à égide imperial monetarista, e dessa maneira os cidadãos poderão se livrar dos grilhões, para usufruir a plena liberdade, sempre almejada, e jamais alcançada. A catarse de certo modo já se ensaia, e pode ser prazerosa:
Economistas redescobrem o trabalho de Joseph Schumpeter, que falou da 'destruição criativa' como necessária ao progresso. Numa tempestade de tomadas de controle acionário, alienação de bens, reorganizações, falências, deslanches, joint ventures e reorganizações internas, toda a economia está adquirindo uma nova estrutura que é anos-luz mais diversa, ágil e complexa do que a antiga economia das chaminés.
TOFFLER, Alvin e TOFFLER, Heidi: 74
Desse modo poderemos atender a restrição marxista, sem necessidade de liquidar o vilão: basta-lhe diminuir a importância, ou desvalorizá-lo, pela presença de outros. Trata-se de proceder uma espécie de reforma-agrária no poder financeiro! Ou seja: à liberdade não basta um regime político ou jurídico democrático e federativo. Mister estendê-lo ao econômico:
A difusão de poder, nas esferas política e econômica, em lugar da sua concentração nas mãos de agentes governamentais e capitães de indústria, reduziria enormemente as oportunidades para adquirir-se o hábito do comando, de onde tende a originar-se o desejo de exercer a tirania.
RUSSELL, Bertrand,
Ideais Políticos: 24
A diversificação poderá render exatamente o produto buscado pela divisão dos poderes: o excesso de algum, poderá ser compensado pela atuação, ou correção, do outro. Tentarei desenhar algumas protótipos que poderão servir de inspiração a engenheiros mais bem capacitados do que este mero sonâmbulo que vos acorda.
Utópico? Nem tanto. "É no impossível que a humanidade se perpetua." ( NIETZSCHE, F., ob. cit.: 8)
Quiçá seja mais fácil do que conceber a democracia em meio à tirania; e infinitamente mais compreensível do que a revolucionária, porém singela fórmula de Einstein, até hoje ainda não assimilada, embora totalmente comprovada. O significado do corte epistemológico
Tal movimento não poderá ser propriamente de um golpe, mas processual, ainda que rápido, mercê da emergência e das possibilidades eletrônicas, em tempo real.
O que não estranharei, contudo, serão as reações dos que se sentirão prejudicados, especialmente a classe política e seus associados, se é que haverá alguma, aí sim, eu estranharia mesmo. Minha hipótese não entrará, sequer, em cogitação, taxada de inviável já no primeiro parágrafo em que se mostrasse, ou sequer seria conhecida. O destino provável é o descarte, seja por ignorância, por ceticismo, quiçá, se ainda fosse, por alguma atitude reativa. Nada disso me vem ao caso. Trabalho para o futuro, e nele tudo pode caber; e tudo deve mudar.
Diminuindo a proporção comparativa, Einstein não foi imediatamente contestado mercê das comprovações matemáticas, mas demorou uma geração até que o eclipse de Sobral o consagrasse. Caso sua hipótese se efetuasse nos campos das ciências humanas, maior tempo ainda seria necessário, e as previsões matemáticas, inóquas. No interregno ingleses e americanos teriam encontrado elementos subversivos e terroristas na teoria, os anti-semitas veriam uma conspiração sionista, os nacionalistas a taxariam comunista, demasiado pacifista, e mero álibi para escapar do serviço militar, aos comunistas pareceria ultracapitalista, por proliferar o capital, os professores retrógados chamariam a Receita para impedir a importação das idéias, e os que apoiassem seriam demitidos, os esquimós diriam que nada disso vinha ao caso, de forma que apenas esse périplo de imaginação me é suficiente para não me abalar com obstáculos, ou ceticismos. Aliás, o que me faltará é ceticismo, talvez muito blague, certamente, e até antecipado. Russell (Ensaios céticos: 132) por exemplo, de plano já manda eu tirar meu cavalinho-da-chuva:
"Uma política que não lese ninguém não atrai uma boa base de sustentação; por sua vez, uma política que conquiste demasiado apoio também provoca feroz oposição."
Vá lá, meu TriPulante. Mas se minhas alternativas em nada podem contribuir, até em função da magnitude da problemática, e da empreitada correspondente, que precisa ser rica em detalhes, por certo um simples delinear tampouco atrapalhará. No meio do mato a distância é a mesma; mas a lúdica instância per se me satisfaz. "Temos necessidade da arte" e "só precisamos de uma parte do saber." (NIETZSCHE, F., ob cit.: 27.)
Péra que vou ali, pegar um lápis.
________________
* 1/10/2008: BBC confirma nossa predisposição:
A crise econômica global deve abalar o status dos Estados Unidos como única superpotência da atualidade.Do ponto de vista prático, os Estados Unidos estão militarmente no limite, com operações no Iraque e no Afeganistão --e, agora, estão também financeiramente no limite. Do ponto de vista filosófico, vai ficar mais difícil para os americanos defenderem o livre mercado em um momento em que o seu próprio mercado entrou em colapso. Alguns já vêem o atual momento como crucial. O filósofo político John Gray, que recentemente se aposentou da prestigiada faculdade de ciências sociais
London School of Economics, em Londres, deu seu ponto de vista em um artigo no jornal britânico The Observer:
"Temos aqui uma histórica mudança geopolítica, na qual o balanço de poder do mundo está sendo alterado de forma irreversível". Paulo Reynolds
BBC News.
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sábado, 27 de setembro de 2008

Dinheiro x Democracia 5 - esta tística

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Todo homem possui sua finalidade particular, de modo que mil direções correm, umas ao lado das outras, em linhas curvas e retas; elas se entrecruzam, se favorecem ou se entravam, avançam ou recuam e assumem desse modo, umas com relação às outras, o caráter do acaso, tornando assim impossível, abstração feita das influências dos fenômenos da natureza, a demonstraçãode uma finalidade decisiva que abrangeria nos acontecimentos a humanidade inteira. NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, Da utilidade e do inconveniente da História para a vida; 74

Onde o homem nada encontra para ver e pegar, nada tem para fazer.
Idem.
QUANDO MORREU o Tirano de Siracusa, Platão nada mais pode pegar. Na Grécia, porém, morava Academus, dono de belo rincão. No frontespício da pioneira escola, o ladino ergueu seu veredicto:
"Que aqui não adentre quem não souber geometria". (http://www.consciencia.org/platao.shtml)
O cortejador prescrevia (Epinomis):
"A ciência dos números, dentre todas as artes liberais (?!) e ciências contemplativas, (ou seja, apenas especulações, isentas de responsabilidade porque improváveis) é a mais nobre e excelsamente divina."
Ao ser questionado porque o homem se diferenciava doa animais, a sapiência foi categórica:
"Porque sabe lidar com números."
Eles possibilitariam mais segurança, tornam as atividades concretas, lógicas e práticas, e poderiam melhor compor os elos da ciência. A matemática se tornou cimento, segura vedação contra qualquer tentativa de acolher, “com distorções de palavras”, proposições de variadas e incompatíveis procedências. Sequer O Inferno, de Dante (Palestra na Academia Florentina, A Geografia do Inferno de Dante Tratada Matematicamente, 1588) escapou ileso. O longo eclipse das ciências humanas se iniciou, justamente, na singela premissa:
A tradição filosófica do Ocidente, em todo caso desde o século XVII, foi profundamente influenciada pelo desenvolvimento da física matemática e das ciências naturais fundamentadas na experiência, na medição, na pesagem e no cálculo. Tudo quanto não era redutível a grandezas quantificáveis foi, por isso mesmo, considerado vago e confuso, alheio ao conhecimento claro e distinto.
PERELMAN, Chaïm, Ética e Direito: 672
A má tese, ou a má temática, a "quantofrenia", conforme Sorokin, ou a "aritmomania", como diz Georgescu-Roegens, coroou o homo faber tal homo mathematicus. Pela hábil dialética, aquela que faz da sombra realidade, a simples projeção numérica trouxe a perfeição à vista, e o imaginário concretizável. Ela garantia coerência, a certeza, e por ela todos se quedaram pautados. No século XVII os matemáticos e astrônomos jesuítas do Collegio Romano eram reconhecidos entre as mais altas autoridades científicas. Essa “verdadeira ciência”, lambuzada de preconceitos, se constituia em guia e fim, razão e justificativa, até à metafísica:
Pitágoras apreciava a tal ponto a teologia órfica que dela fez modelo
para plasmar a própria filosofia. Em decorrência disso, as sentenças
de Pitágoras passam a ser chamadas sacras na medida em que são
derivadas dos esquemas órficos.
MIRANDULLA, Pico della, A dignidade do homem, p. 73.
O resultado ora podemos aquilatar:
A ciência ocidental tornou-se matematizada. A linguagem matemática da ciência, que causa tanto desânimo ao leitor de outras áreas, implantou- se como resultado do conflito entre as visões de mundo eclesiástica e leiga e seu propósito era justamente causar o afastamento do público comum.
Os números ainda sustentam a ciência, de modo que se para tornear uma personalidade, o melhor é demonstrá-los em profusão:
O que a ciência faz é precisamente mascarar, por detrás da racionalidade,
sua função ideológica de justificar o poder, deformar o irracionalismo das
relações humanas e dissimular a heteronomia dessas mesmas relações.
A racionalidade, como ideologia, ocasiona uma cegueira parcial da
inteligência humana, entorpecida pela propaganda dos que a forjam.
COELHO, Luiz Fernando, Teoria Crítica do Direito: 340.
A própria Nav's ALL pode provar: na proporção em que é prestigiada, aceleram-se as visitas. Se ninguém gostar, ninguém volta, mas o sulco lavrado precipita cada dia maior contingente. A todos agradecemos, mas convém mencionar, por oportuno: nossa satisfação se completa na medida do retorno dos passageiros.
Se o restaurante está vazio, dificilmente alguém entrará. Se tiver fila, ela se estenderá.
A promoção eficaz mostra o produto popular. Se todos compram, é porque deve ser bom.
A fila da segunda sessão é maior; se lá dentro houve frustração, não vem ao caso. A bilheteria está garantida.
Conheci um dono de posto de gasolina que aplicava exitosa estratégia. Quando demorava o freguês, ele colocava dois ou três carros da frota na frente das bombas. Pronto. Lá vinham as moscas no mel.
As agências de publicidade desenvolvem esses efeitos gravitacionais, no fito de atrair a freguesia aos seus clientes. Abundam depoimentos, de tal modo que a vítima é conduzida a acreditar na veracidade. Para todos, é a quantidade de adesões que lhe garante a certeza da opção, ao tempo em que lhes coloca em dúvida o que antes supunham. E onde passa um boi, passa a boiada.
* * *
Os políticos, vazios de conteúdo, e desprovidos de conhecimento, ao eleitor se apresentam como produto de consumo. Como tais, são as agências de publicidade que formulam os apelos à "clientela". A técnica é a mesma, mas no caso de servirem aos aspirantes, ou aos titulares de cargos elas ainda podem contar com entidades oficiais a amparar qualquer arranjo. Dessa maneira, formulam estatísticas , e contabilidades, que provam o acerto de suas designações:
Os domínios mais explorados serão aqueles em que os dados quantitativos ou quantificáveis são mais abundantes. Daí todos os estudos compreendidos em matéria de voto, de participação eleitoral e de opinião publica. Daí a amplidão das pesquisas sobre os partidos políticos, os grupos de interesse e os processos de tomadas de decisões (decision-marketing).
SCHWARTZENGERG, Roger-Gérard, Sociologia Política: 26
Na falta de mais adequada designação, mantém-se convencionada coleção de dados como "pesquisa". Neste caso, apenas contadores e economistas poderiam receber títulos de doutor! O pacto com o diabo Não obstante, elas formam a modalidade mais fácil de conduzir quem quer que seja, na quantidade que se deseja:
Grande parte da moderna sociologia, da pedagogia e toda a psicologia da pessoa derivam desta linha de pensamento, assim como nossa violência característica do século XX, uma reação natural diante de tamanha impotência. Foi igualmente afetada nossa atitude em relação à natureza e ao mundo material. Se nossa mente, nosso consciente é totalmente diferente de nosso ser material, como argumentou Descartes, e se a consciência não tem nenhum papel a desempenhar no Universo, como sugere a física de Newton, que relacionamento podemos ter com a natureza ou com a matéria? Somos alienígenas num mundo alienígena, situados à parte dele e em oposição a ele, nosso ambiente material.
ZOHAR
, Danah: 191
Estatísticas são improváveis, porque relatam um passado, com vistas a projetar o futuro. Portanto, estão fora da realidade. Elas variam no corte, no momento, e no local que são aplicadas, requerem uma formulação de perguntas que podem ser traiçoeiras ou tendenciosas, e interpretações favoráveis, naturalmente, aos próprios agentes, mais preocupados em demonstrar sua eficiência, e salvar seu interesse. O professor Jean L. Benson, professor em ciências econômicas da Universidade de Grenoble, elaborou conceituada obra, justamente intitulada A Ilusão das Estatísticas (SP :UNESP,1996) , ondeaponta a democracia como uma superstição daí advinda. Já no raiar do XIX era aplicada a perfídia. Tocqueville (Democracia na América: 254) pode reparar:
Quando a estatística não se funda em cálculos rigorosamente verdadeiros, ela confunde em vez de orientar.O espírito se deixa enganar facilmente pelos falsos ares de exatidão que ela conserva até mesmo em seus desacertos, e repousa sossegado em erros que lhes são revestidos com as formas matemáticas da verdade. Abandonemos, pois os números e tentemos procurar nossas provas em outro domínio.
É boa-vontade. Nenhuma estatística pode obter "cálculos rigorosamente verdadeiros", pelo prosaico motivo: como o próprio nome que a designa, ela provém de status, ou seja, de estado, daquele instante, como se qualquer tempo pudesse ser assim congelado. Para se desculparem da errônea informação que tem consciência oferecer é que seus autores a propalam como uma fotografia do momento. Portanto, ela jamais espelhará o real. Nunca será passível de comprovação. A realidade é cinética, mutante a cada instante, e por isso o compromisso estatístico com a verdade é absolutamente nulo, ainda que possa oferecer alguma pista ao navegante. Porém, se navegar tem que ser preciso, e a escolha democrática também isso pretende, ao pressupor que o resultado das urnas seja a mais exata expressão, convém lembrar-lhes que ao excesso de precisão no reino da quantidade corresponde exatamente o excesso do pitoresco no reino da qualidade. O mais importante, contudo, nem se trata de honestidade científica, mas de propósitos : os índices de popularidade que medem tem o fito da propagação, de modo que se algum número não satisfizer, ele não será divulgado. Não obstante, esses chamados institutos são como seus congêneres de cabelos: como o cliente sempre tem razão, eles ajeitam o corte, e formulam o penteado conforme o gosto do freguês.
O tema de todas as ciências históricas é o passado. Elas não podem ensinar algo que seja aplicável a todas as ações humanas, ou seja, aplicado também ao futuro. As ciências naturais também lidam com eventos passados. Toda experiência é uma experiência de algo que já passou; não há experiência de acontecimentos futuros. A informação proporcionada pela experiência histórica não pode ser usada como material para a construção de novas teorias ou para a previsão de acontecimentos futuros. Toda a experiência histórica está aberta a várias interpretações e, de fato, é interpretada de várias maneiras. É impossível reformar as ciências da ação humana obedecendo a padrões de física ou de outras ciências naturais. Não há possibilidade de estabelecer a posteriori uma teoria de conduta humana e dos eventos sociais. Os postulados do positivismo e escolas metafísicas congêneres são, portanto, ilusórios.
MISES, Ludwig von, Ação Humana - Um Tratado de Economia: 72
Variações do PIB são medidas por estatísticas. (Diz o filósofo popular: estatísticas são quase como biquínis - mostram tudo, mas não o essencial). Os artífices supoem possível uma equalização. O número aproximado, todavia, só traduz mero palpite.
Oferta de emprego, mão de obra disponível (como se trabalhadores fossem peças de estoque/reposição), capitais financeiros de estado, gigantescas, por isto incomensuráveis taxas de retorno, medições de renda, poupança, consumo, investimento, só faltando medir também o QI de inteligência de toda a população, lastreado na fria e dura, porém “científica” fórmula estatístico-matemática, servem a balizar pari passu os maquinistas dos rolos compressores.
Metros, litros, quilogramas, quantidades, as quatro operações presumem-se suficientes, mas os dados aferidos jamais correspondem à realidade:
"Em nenhum outro campo da investigação empírica foram usados tantos mecanismos estatísticos de forma tão massiva e sofisticada e com resultados tão nulos." ( WASALY, cit. GLEICK, J.: 120)
Os coletores juram que fazem tudo dentro das normas técnicas, e por certo não estarão mentindo. Contudo, pode haver ciência impossibilitada de comprovação?
* * *
Tratar a gente como número bem demonstra a redução submetida. Ao nos tornarmos objeto, somos inseridos no mercado como mercadorias. Foi esta conceituação literal que ouvi nesta semana, na rádio CBN, sempre ávida em divulgar tudo que é estatística a todos os quadrantes do Brasil. Aliás, coincidentemente com eleições aqui e acolá, desaba uma enxurrada de percentuais para lá e para cá impressionante. Preocupada com os índices de casamento na terceira idade, a fundação que leva o nome do maior ditador que o Brasil já conheceu enviou sua coletoria para precisar quem seria o maior privilegiado. Veio douta porta-voz para dar o veredicto. A conclusão foi brilhante. Para o homem é mais fácil casar com mulher mais nova. As mais velhas tinham mais dificuldades "no mercado" do casamento.
Para mim essa fundação, e suas congêneres, de fato cavam no fundo. Na cova poderão alojar todo mundo.
* * *

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Dinheiro x Democracia 4 - na ca bine

-
=
Nossos contemporâneos imaginaram um poder único, tutelar, onipotente,
mas eleito pelos cidadãos; combinam centralização e soberania popular.
Isso lhes dá um pouco de alívio. Consolam-se do fato de estarem sob a tutela
pensando que eles mesmo escolheram os tutores. Num sistema desse gênero,
os cidadãos saem por um momento da dependência, para designar o seu patrão,
e depois nela reingressam.

CONSTANT, Benjamin 1767-1830, cit. BOBBIO N., 1993:59


ADENTRANDO NA CABINE, o eleitor pressupõe privilegiar seu favorito, ao tempo em que julga castigar a quem rejeita. Sua certeza vem robustecida porque observou os conselhos advindos pela farta publicidade da Justiça Eleitoral, que ora se arvora responsável não apenas pelas sentenças. Dessarte, o esperançoso se habilita de antemão enganado.
Há competidores que ingressam apenas para servir de
coelho, aqueles que puxam as votações colhidas pelos tais institutos de pesquisas, vindo paulatinamente a ceder o terreno ao cavalo-do-comissário, de modo que seu objetivo é justamente perder. Particracias - O leitmotiv dos partidos
Outros, entram apenas para atrapalhar um adversário, tirar os votos de uma determinada classe ou região, enquanto alguns buscam projetar mísera evidência para uma futura eleição, mais de acordo com sua classe, ou melhor, com sua falta de classe. Todos terão assento no banquete de posse. O próprio rejeitado, mercê da instituição do segundo turno, criado na pretensa questão aritmética, retorna flamante na carona do vencedor.
Alarma o consentimento do espúrio acordo suprapartidário, na verdade
supraeleitoral, ou seja, fora do alcance do eleitorado.
Não obstante, pode acontecer, especialmente em eleições legislativas, a eleição de um, para gáudio de outro, o chamado suplente. O titular é guindado a uma posição executiva, e a vaga fica ocupada por alguém que jamais alguém ouviu falar, mas geralmente é algum parente do espertalhão. Mais de vinte por cento dos senadores exerce o mandato através desse escoadouro.
Há outros que entram no páreo fitando resolver o próprio dilema financeiro. É a maioria. O procedimento é semelhante. Antecede-lhe alguma pesquisa elaborada em um momento propício, no qual ele aparece com chances. A propósito, o professor Jean L. Benson, professor em ciências econômicas da Universidade de Grenoble, elaborou conceituada obra, justamente intitulada A Ilusão das Estatísticas (SP :UNESP,1996), onde aponta a democracia como uma superstição daí advinda. Já no raiar do XIX era aplicada a perfídia. Tocqueville (Democracia na América: 254) pode reparar:
Quando a estatística não se funda em cálculos rigorosamente verdadeiros, ela confunde em vez de orientar.O espírito se deixa enganar facilmente pelos falsos ares de exatidão que ela conserva até mesmo em seus desacertos, e repousa sossegado em erros que lhes são revestidos com as formas matemáticas da verdade. Abandonemos, pois os números e tentemos procurar nossas provas em outro domínio.
É boa-vontade. Nenhuma estatística pode obter "cálculos rigorosamente verdadeiros", pelo prosaico motivo: como o próprio nome que a designa, ela provém de status, ou seja, de estado, daquele instante, como se qualquer tempo pudesse ser assim congelado. Para se desculparem da errônea informação que tem consciência oferecer é que seus autores a propalam como uma fotografia do momento. Portanto, ela jamais espelhará o real. Nunca será passível de comprovação. A realidade é cinética, mutante a cada instante, e por isso o compromisso estatístico com a verdade é absolutamente nulo, ainda que possa oferecer alguma pista ao navegante. Porém, se navegar tem que ser preciso, e a escolha democrática também isso pretende, ao pressupor que o resultado das urnas seja a mais exata expressão, convém lembrar-lhes que ao excesso de precisão no reino da quantidade corresponde exatamente o excesso do pitoresco no reino da qualidade. O mais importante, contudo, nem se trata de honestidade científica, mas de propósitos : os índices de popularidade que medem tem o fito da propagação, de modo que se algum número não satisfizer, ele não será divulgado. Não obstante, esses chamados institutos são como seus congêneres de cabelos: como o cliente sempre tem razão, eles ajeitam o corte, e formulam o penteado conforme o gosto do freguês.
E tudo isso é importante, porque sobre o cabelo paira o chapéu que passará de casa em casa, às vezes pedindo, não poucas chantageando investidores. Sobre o financiamento de campanha Esta é a verdade que interessa. De posse do montante, o que ele mais quer é se livrar dos compromissos, e curtir a fortuna amealhada. Portanto, o voto lhe prejudicará.
Pode ser que nos últimos cem metros haja de fato alguma competição, porém, igualmente, não se estranhe se já não estiverem bem combinados, ora em moda por aqui. Todavia, seja qual for o vencedor, ele estará compromissado, antes de tudo, com o valor em dinheiro que nele se tenha investido, o qual é inifinitamente superior aos papéis que o elegeram, ainda mais que, passada a glória do dia do pleito, ninguém mais se lembra em quem votou.
Se eleito, ele não irá cuidar da pólis, mas do produto que ela proporciona. Para governar as pessoas, ele manipulará os bens. Com o dinheiro, ele dominará o povo inteiro. O desenvolvimento de Keynes no Brasil - II
Propugnará pela redução da desigualdade social. A impossibilidade da Igualdade Contudo, não haverá maior disparidade de arrecadação entre ele próprio e o cidadão; jamais haverá uma instituição privada que renda tanto*. Apenas a produção de todos os habitantes do sítio, reunida, poderá empatar com sua riqueza!
O desenvolvimento de Keynes no Brasil - I
Dessarte, do alto da aeronave, curtindo estupenda circunavegação, manda ajeitar a mansão conquistada, cuja exuberância não lhe cabia sequer no melhor sonho, enquanto aponta para os miseráveis para lhes dizer que está ombreando com eles.
* * *

O que chamamos "democracia" consiste tão somente numa enquete de opinião pública, na qual se pede aos coadjuvantes que digam sim ou balancem a cauda em resposta a um conjunto de alternativas pré-fabricadas, geralmente relacionadas a fatos consumados. A turba supõe comandar por simples botões, mas as eletrônicas se encarregam do resto.
Na mosca:
Hackers dizem que o desafio lançado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pediu a piratas da internet de todo o País para que tentem fraudar o sistema de urnas eletrônicas é, na verdade, apenas uma forma de "provar" que o mecanismo eletrônico é inviolável. Eles, do TSE, não querem correr o risco. Por isso escolhem os softwares a serem usados. Os softwares que o governo vai disponibilizar, nem em computadores domésticos conseguem ser explorados. No mundo da informática não existe sistema seguro. Somos nós, seres humanos, que estamos atrás dessas máquinas e somos cheios de falhas. Para haver voto seguro essas urnas eletrônicas também não poderiam passar pelo mesário. Hoje o mesário libera a urna (por meio de um dispositivo na mesa de votação) para a pessoa votar. Já imaginou se o mesário fosse um hacker?
Terra. 25/10/2009
Criada para ser do povo, pelo povo e para o povo, é a que menos o povo vê. Ele fica totalmente dependente do governo, e passa a gravitar em seu entorno:
"Submeter as províncias à capital consiste em entregar o destino de todo Império nas mãos de uma porção do povo, o que é injusto." (TOCQUEVILLE, Alexis, A democracia na América, Livro II, cap. 9: 265.)
Nem se trata de porção, mas de uma partícula de zero, vírgula zero zero zero um, no máximo uns mil aquinhoados, para cada cem milhões de seres.
A razão fundamental não é mesmo novidade. Exceto os pseudodigladiantes, todos podem concordar com as premissas que ora levanto. Contudo, ninguém sabe como suplantá-las.
Há quem propugne a participação de fundos públicos. Em nada alterará; pelo contrário, agravará a importância do pleito, e atrairá ainda mais gente disposta a enriquecer sem precisar trabalhar. Não obstante, não elidirá a subversão democrática pelo suborno antecipado, que sói acontecer em todas as democracias vigentes no mundo.
Vislumbro apenas uma estratégia para tentar arrefecer a possibilidade da corrupção: cercear, ou minimizar ao máximo, a capacidade do Executivo em manipular o sistema financeiro do país. Depois do gatuno atuar, prendê-lo de nada adiantará. Aliás, trata-se, apenas, de um consôlo, movido por um ideal de justiça que se quer serve de norte: como castigo, o meliante é destituído do cargo, e assim pode gozar livremente o produto logrado.
* * *
Nenhuma outra hipótese além da vigente, foi jamais tentada, pelo menos em nosso país. Ao contrário, a moeda nacional reina única e soberana, e completamente à feição do regulador, fato que agrava a escravatura.
A coexistência de outras moedas é possível, e subsiste na maior parte dos países civilizados. Não é pela falta de praticidade, ou de viabilidade, tampouco pelo desconhecimento que a economia permanece enfeixada nas mãos de um único feitor.
Ela se mantém engarrafada apenas pelo prosaico motivo: quem faz as leis, nunca as produzirá contra si.
Banco Central, agente comercial?
Todavia, bem o sabemos: quem elaborava as leis antes do advento da democracia eram os reis divinos; ao cair o véu, eles se foram ao beleléu.
O modo de proceder tamanha aventura?
Antes de tudo cabe a questão: ela per se merece debate? A julgar pela atual convulsão, a resposta parece óbvia. Percebido o foco, ele poderia sofrer alguma intervenção? Poderíamos trocá-lo por outro, encostar-lhe alguns reforços, mudar um pouco a orientação, ou seria mais pertinente dispormos de vários condutos concomitantes?
* * *
Depois de esmiuçá-lo, em suas entranhas e ramificações, bem como escolher o método e os intrumentos da operação, e a quantidade de injeções necessárias, podemos calibrar o tamanho do corte. Diante da emergência, encorajo-me apresentar algumas alternativas, visando a melhor circulação do sangue à produção, no fito de atingir maior desenvoltura, até mesmo àqueles que ora usufruem da comodidade de se alimentar, sem nada produzir. De algum modo haveremos de encontrar um meio para subverter o regime subversivo pelo qual estamos submetidos. Se nada disso prosperar, como é evidentemente provável, diante da fortaleza mitológica do Brucutú, pelo menos assinalá-lo já me parece oportuno. O renomado professor Wanderley Gulherme dos Santos (Não ao fracasso, in Veja 25 anos - Reflexoes para o futuro) de modo antecipado já expressou sua concordância:
Hoje o país vive dificuldades de outra sorte. Com um presidente constitucionalmente legítimo e politicamente trõpego, o acelerado crescimento do hiato entre ricos e pobres (sem mencionar miseráveis e desempregados) e a exacerbação do corporativismo como forma privilegiada de associar participação e distribuição. Naturalmente espera-se que o Brasil e a América Latina consigam associar progresso e liberdade, recuperando, sem traumas, parte do atraso civilizatório em que se encontram. Mas é de toda conveniência examinar prognósticos que, pelo contrário, antecipam para a região uma permanente subalternidade, numa civilização de segunda classe.
A lei do galinheiro
Todas as ciências, especialmente aquelas onde o ser humano é Alfa e Omega, tem obrigações recíprocas,
e multidimensionais. Encerro o capítulo com o recente prêmio Nobel de Economia:

Uma concepção adequada de desenvolvimento deve ir muito além da acumulação
de riqueza e do crescimento do Produto Nacional Bruto e de outras variáveis
relacionadas à renda. Sem desconsiderar a importância do desenvolvimento
econômico, precisamos enxergar muito além dele.
SEN, Amartya: 28
___________
* Em meio ano
o dinheiro tomado dos cidadãos atinge a impressionante cifra de R$ 400 bilhões, 10,33% acima do registrado no mesmo período de 2007. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi o campeão da arrecadação. "Essa calibragem quem faz é o ministro (da Fazenda, Guido Mantega). Se não houver fatores adversos é possível que ele venha a rever isso, mas isso é da competência do ministro. (A eventual revisão) Uma justificativa econômica para o aumento eu não posso dar', afirmou Otacílio Cartaxo.
Ou seja: desprovida dos recursos, a produção ainda paga o maior imposto por isso,
e de acordo com a vontade do mero contador, jamais do eleitor, por óbvio.


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Dinheiro x Democracia 3 - o comando financeiro

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É esse o ponto crucial da questão. O controle econômico não é apenas o controle de um setor da vida humana, distinto dos demais. É o controle dos meios que contribuirão para a realização de nossos fins. Pois quem detém o controle exclusivo dos meios, também determinará a que fins nos dedicaremos, a que valores atribuiremos maior ou menos importância - em suma, determinará aquilo que os homens deverão crer e por cuja obtenção deverão esforçar-se. HAYEK, Friedrich Von, O caminho da servidão: 111.
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Houve época na qual os homens perceberam que os campos talados de canhões só produziam cadáveres. Então se reuniram em busca de uma alternativa que elidisse a vontade do feitor. A desobediência ocasionaria mais vítimas, a morte do feitor era o nascimento de outro, de modo que a solução deveria ser mais abrangente, capaz de varar os tempos incólume. Embora a forte propaganda da vida eterna, eles resolveram tentar estabelecer a paz ainda antes de chegar aos sete-palmos. Os tiranos foram desprovidos de poder, e os homens puderam utilizar os campos para plantar e colher. "Balão Mágico" Todavia, eles precisavam de um trilho para escoar a produção. O tirano reapareceu com razoável solução, e a humanidade ainda se vai, de novo, de roldão:
A teoria econômica veio a ser uma ampla empresa de terrorismo intelectual, cujo aspecto pseudo-científico serve, na realidade, de correção para excluir os verdadeiros problemas da sociedade contemporânea. Seu exagerado profissionalismo, herdado de sua mitologia científica, e todo aparato matemático que a rodeia, servem para mascarar seu objetivo ideológico, que transforma sua disciplina numa máquina de estabelecer as leis das relações de força que existem na sociedade, numa civilização materialista e produtivista, orientada totalmente para a produção de bens materiais. Seu dinamismo serve, na realidade, para legitimar a posse do poder em mãos daqueles que dominam o aparato produtivo...
GUILLAUME, Marc & ATTALI, Jacques, cits. GOYTISOLLO, J.V.: 94.
À mercê dos "engenheiros sociais", como queria Roscoe Pond (Interpretations of legal History; cit. COELHO, Luiz Fernando: Teoria crítica do Direito: 128), A lei do galinheiro o Direito foi simplesmente apeado do pedestal, para servir de instrumento, ao gosto da Teoria do Fim, de Rudolf von Ihering (cit. NADER, P. 200).:
A instalação da república positivista no Brasil - I -
Outros - como a maioria dos legisladores, políticos, advogados, ministros e funcionários públicos servem ao Estado principalmente com seu intelecto e, como raramente fazem qualquer distinção moral, estão igualmente propensos a servir tanto ao diabo, sem intenção de fazê-lo, quanto a Deus.
THOUREAU, Henry David, Desobediência civil: 11
* * *
Para ultrapassar aquela primeira época não foi nada fácil. A partir do pontapé-inicial, a humanidade ainda utilizaria largo EspaçoTempo, precisamente três séculos, e um exército de intelectuais, artistas, cientistas, políticos, e muita gente do povo para ser convencida, e convertida de pleno.
Para a segunda, apresentou-se apenas um, retransmitido por incontáveis papagaios. Ela vige, soberba.
Ele conclamava à perda do handicap, e ainda por cima requeria o sacrifício de milhões de vidas, ou seja, recrudescendo o mal que alardeava exorcizar. A miséria do Capital
Depois de século e de metade da terra vitimada, tudo ficou pior, e o ventilador foi sepultado embaixo do muro que deu causa. O imenso prego empanava a sutileza maligna que invadia o corpo da humanidade, de modo que no alívio da dor ela se julgou sanada, e ao relaxar, o vírus mortífero se agigantou.
A Escola Austríaca de Economia em tempo denunciara. Entretanto, diante do avassalador sucesso keynesiano, os prudentes preceitos sequer integram algum currículo cognitivo O espanto de Schumpeter. Eles são apenas meio utilizados, e de modo empírico, na medida do interesse de investidos neo-liberais.
Não mais a força bruta, tampouco a ideologia ou uma avalanche de leis mantém o povo no garrote. O instrumento financeiro, apenas, muito mais simples, de fácil aplicação, que não requer prática nem habilidade, torna tudo à feição, e ainda glorifica o feitor. Ora vivemos nesta armadilha muito mais dantesca do que todas reunidas até então. O mais curioso é a leniência geral, mas até isso pode ser explicado: a arma é química pela capacidade de tudo alterar, e atômica pelo poder de tudo devastar. Os tiranos mantém os povos anestesiados, fazendo os burros percorrerem os bretes apenas colocando bananas nos visores, ou ameaçando recolhê-las.
A atual crise americana
* * *
A pergunta que se impõe: tirante os debilóides marxistas, os utópicos e por isso pouco práticos anarquistas, e os desprezados austríacos, haveria ainda alguma plêiade capaz de livrar pelo menos nossos filhos de tão parcos ideais? Será preciso um ocaso mundial para surgir uma nova estrela? Desta feita o custo pode falir o agente. No entanto, nada de novo aparece no front, exceto o tirano, cada vez mais revigorado, ávido pela desgraça, para se impor como salvador.
A civilização queda frustrada; e com a patologia, entregue. Jamais cultivei o heroísmo, mas a distração nos cruzeiros siderais levou-me para fora do alcance da mazela, de maneira que mantenho pelo menos um olho, e disposição para tentar reduzir a cegueira geral, uma vez que rumamos a flagrante precipício.
* * *
A razão primordial do poder é sua concentração. A do dinheiro, também. Se houver apenas um lago, eis o leito pelo qual surge, flamante, o monstro de Lock Ness!
Não adianda a revolta, porque a vítima é o revoltado; tampouco adianta liquidá-lo, porque virá outro em seu lugar. Onde encontrar a solução?
* * *
Miremos aquele velho horizonte, firme por séculos. O que fizeram? Tiraram o poder dos tiranos, e o povo se libertou. Poderíamos cogitar de nova prosaica solução? Seria difícil supor algo que em vez de andar apenas sob trilhos pudesse voar, usando apenas a energia aeólica, por exemplo, farta e abundante, ao alcance de todos, e sem a menor poluição?
Pois se não temos ainda conhecimento para tanto, mercê de nenhuma experiência similar efetivada, contamos com aquilo que o maior cientista bem assinalou: a imaginação é mais importante que o conhecimento! Não por acaso, este também era o pleito dos acadêmicos daquela Sorbonne. A Gloriosa Revolução Ademais, quiçá nem precise assim, tanta imaginação, tantos planos mirabolantes; e algum conhecimento sempre pode ser aproveitado.
A proliferação dos valores pode esvaziar o poder, sem estabelecer confusão. No início ele foi tripartido, mas também fracionado de modo espacial. Agora tratamos do núcleo, o furo é quase impenetrável, mas, perfeitamente identificável. Eis a primeira condição para tentar extirpá-lo, ou pelo menos, arrefecê-lo. Esta segunda hipótese parece mais viável, a mais plausível, por isso a mais sensata, pelo menos por ora.
"Limitar o real apenas ao quantificável não é científico, é cientístico - uma perversão da ciência." (HUSTON, Smith, cit. LEMKOW, Anna: 5 )
Supondo que talvez ainda necessite tornar o monstro mais aparente, para tanto buscarei ampliar um pouco mais o imenso negativo, o lago negro por demais impregnado, de onde resplandece a força imensa do ofuscante brilho. Em seguida, traçarei alguns rabiscos iniciais, na esperança de que outras ainda mais capacitadas mãos se sensibilizem com o colorido de nossa primária demão, e imprimam, também, suas digitais.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

SP festeja memórias de Einstein e do Futebol

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Exposição sobre Einstein apresenta
objetos pessoais,
fotos e manuscritos.



Coincidente com
o primeiro aniversário da
Nav's ALL, o Parque do Ibirapuera recebe a energia cósmica
de nosso mais insígne
TriPulante
,
Dr. Albert
Einstein.

A antiga sede do Prodam tem tem o privilégio de abrigar a cortesia do American Museum of Natural History, de Nova York. Ela fica em cartaz até 14 de dezembro, e oferece equipamentos, instalações e atividades que ajudam o visitante a compreender melhor a consagrada Teoria da Relatividade. A exposição já foi apreciada por mais de 2 milhões de pessoas em Nova York, Chicago, Boston, Los Angeles, Jerusalém, Birmingham, Dallas, Ottawa, Columbus, Istambul e Cleveland. Ora ainda vem com ampliação especial. O Brasil é o primeiro país da América do Sul a recebê-la. As peças estão divididas em dez seções, entre as quais despontam
Vida e Tempo
,( A Loja do Tempo) Luz, Tempo, Energia, Gravidade, (O "espanto" da Gravidade)
Guerra e Pa
z, Cidadão Global, Átomos e Einstein no Brasil. (Einstein e os positivistas do Brasil)
Estarão expostos objetos pessoais do cientista e fotos. Está também prevista uma projeção de filmes em 3-D explicando a Teoria da Relatividade. Há ainda uma seção com trabalhos de artistas plásticos brasileiros relacionados ao físico.
Escolas e grupos podem agendar visitas para terem a monitoria de educadores especializados. Além disso, há um curso gratuito para os professores em que são fornecidos subsídios teóricos e práticos para a preparação do trabalho em sala de aula.
Ninguém pode perder essa magnífica oportunidade de compreender não só o caminho desbravado pelo gênio, como também toda a filosofia que procede desse paradigma, forte para embasar todas as ciências de nosso EspaçoTempo.
Serviço:
24/09 a 14/12
Pavilhão Engenheiro Armando de Arruda Pereira
Parque do Ibirapuera, portão 10 - próximo ao Planetário
De terça a sexta: das 09h às 21h
Sábados, domingos e feriados: das 10h às 21h (a bilheteria fecha às 20h)
Ingressos: R$15,00 (inteira) e R$ 7,00 (estudantes e professores)
Visitas monitoradas: R$ 10,00 por aluno (grátis para o professor acompanhante)
Agendamento para grupos: Tel: (11) 3468 7400 - de segunda a sexta: das 08h às 18h
Gratuito para menores de 7 anos, maiores de 60 e grupos de escolas públicas previamente agendados

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MUSEU DO FUTEBOL BRASILEIRO
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,
Inaugura com ingressos populares.
Os esportistas pagarão R$ 6,00.
(Meia-entrada: R$ 3,00.)
O espaço se instala entre as arquibancadas
do estádio do Pacaembu, capital de São Paulo.
A abertura será no dia 29 de setembro.
O público terá acesso a partir de 1º de
outubro .
Museu do Futebol Brasileiro