sábado, 8 de março de 2008

Sobre o "dinheiro público"

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NESTE CASO vou direto: não existe dinheiro público!
Toda riqueza provém da produção, nunca do Estado.
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Tal denominação visa minimizar sua importância, sob o velcro da comunidade, da vulgaridade. Ou seja: se é publico, não é de ninguém; portanto, nem tem tanta importância assim ser gasto com aberrações, algumas das quais facilmente lembramos: compra de porta-aviões; de aerolulas e aeromulas, sivans e sivais, negociações de submarinos nucleares, obras faraônicas superfaturadas, ambulâncias, mesas de snooker, milionárias lixeiras, estupendos mensalões, milionárias verbas publicitárias exclusivas aos sócios do poder, compras de votos de todos matizes, demagogias, festas nos arraiás. Com o dinheiro alheio é barbada a cortesia. Rosinhas e Rocinhas, muito agradecem.
Do Mensalão ninguém mais fala. Foram demitidos alguns capitães, e pronto. Os capitães agora gozam de férias por demais remuneradas, e longes dos flashes. Deitam e rolam.
Por causa da enormidade do Cartão Corporativo, alguns articulistas de periódicos nacionais criticam, muito de leve, a malversação do "dinheiro público". Para eles, nem é necessária maior contundência, pois o Brasil desperdiça reservas desde antes da invasão portuguesa.
Infelizmente, na pilotagem dos jatos temos motoristas de táxis.
Socialismo de pilantras
Todo socialismo é de pilantras, mas alguns sempre foram declarados, como os bolcheviques, os castristas e os asseclas de Mao. O nosso é escamoteado, à la Gramsci, no parfum de "partido social".
É trivial demonstrar o estupendo sofisma a que estamos submetidos. Focalizemos alguém que tenha fixado a quantia de cem mil reais por ano como fruto de seu trabalho:
1) Ao passar no guichet, receberá ao redor de sessenta mil reais, ou seja, quase a metade do que supunha ganhar. Confesso que, por não ser contador, não saiba exatamente as decimais; porém, ser-lhe-ão descontados uns trinta mil só do tal imposto de renda, na verdade imposto sobre os frutos de seu trabalho, os quais, evidentemente, não poderiam ser incluídos como "renda", exceto se confundirmos completamente capital e trabalho já no nascedouro deste. Ademais, a "vítima" tem que socorrer os desmandos da "insegurança social", e para tanto ser-lhe-á exigido outro desconto de proporção gigantesca.
2) Depois de resgatar o salvado do sinistro, a vítima sonha e agora pode adquirir um bem. Escolhe um automóvel, o qual exigirá a metade do que lhe restou. Pagará o dobro do que custa no país de maior renda do mundo, por causa das nobres finalidades públicas. Informa a defensora do consumidor, a jornalista Maria Ines Dolci*, que tal nobreza importa em cerca de 40% do valor do veículo. Portanto, seu "salvado de sinistro" que antes valia sessenta mil reais, ora vale apenas quarenta e oito mil.
3) Para rodar com o troféu, ser-lhe-á exigido a carteira de motorista, que em alguns estados está na promoção; porém, o incauto ainda arcará com IPVA, de modo que lhe retiram, no vapt vupt, mais uns tres mil reais, dando por baixo.
4) Pronto, lá se vai o feliz, mas terá que passar no posto. Ali levará uma mordidinha de uns 30% sobre o que compra, de modo que podemos calcular em mais mil reais/ano o mínimo de sua contribuição.
5) Para passar, deverá arcar com mais ágio - o ágio de passagem, cognominado por Féliz de pedágio.
6) Se vacilar, toma uma multinha, maior do que muitos recebem por um mês de trabalho.
7) Já estou cansando. Não quero falar sobre os demais descontos que incidirão sobre qualquer movimento que o infeliz fará, até para comprar um leitinho às suas crianças. Ficarei por aqui. O cidadão também. Os cem mil reais que supunha ter abiscoitado não valem, no mercado, nem a metade, talvez nem um terço. Restar-lhe-á rezar, mas contando os dedos. Os anéis já se foram.
Pois nem na Suécia, a mais socialista das chamadas democracias, em algum momento foi assim. O cidadão é um sócio, e minoritário, da Glasnot que se assenhorou do poder, já há mais de década.
O "dinheiro público", meu caro, é formado às custas de seu sacrifício; portanto, não é nada público.
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* http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br/

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