domingo, 16 de março de 2008

Sobre o caráter de Keynes

Não me oferecem comida nem bebida – nem consolo intelectual nem espiritual... [o conservadorismo] não leva a lugar. KEYNES, John Maynard, cit. SKIDELSKI: 60
Neste 1941 o “gênio” já estava nos EUA, portanto longe do horror das trincheiras e daquelas bombas V-1 e V-2 que despencariam sobre as casas de seus ex-conterrâneos. Assim distante, em que pese "contrário ao conservadorismo britânico", Keynes festejava a Guerra como “emissária de bons frutos!” Tal qual Darwin e Malthus, o gay de Bloombury vislumbrava um handicap a seu novo país, um meio de "seleção natural” que demonstraria a consistência do povo que o acolhera.
E como Platão, Maquiavel e Hegel, Keynes não se furtou em demonstrar o peleguismo ao seu novo governante, tampouco o grau de “apego” à vida dos conterrâneos, ou dos que ora estavam à sua mercê:
"A guerra certamente há de servir como uma peneira e levará as pessoas certas para o alto. Temos gente boa em Londres, mas nada que se compare com a quantidade produzida aqui." (Carta a Walter Salant, do Brookings Institution, a elogiar a juventude americana; cit. Galbraith, 1989: 317).
Só se o alto referido fosse o destino do céu, estação mais próxima da sua mais famosa assertiva:
"Temos que pensar a curto prazo, porque a longo prazo estaremos todos mortos." (Strathern: 229)
Enquanto não morria, tampouco participava da idolatrada Guerra, a grande figura da politicalha internacional circulava pintando e bordando, à procura de um Príncipe Encantado. O excentrismo propiciava indecorosas conquistas. O festejado Lord, conclamado, seguido e admirado nos universos da economia, e de resto na política mundial, buscava inspiração em festas de gosto no mínimo duvidoso: (1)
Para ele, e a maior parte de seus amigos Apóstolos, ‘o amor significava o amor homossexual, inicialmente de um tipo um tanto espiritualizado’. O amante de Keynes de 1908 a 1911 foi o pintor Duncan Grant, primo de Lytton Strachey, que ele ‘roubou’ deste, para grande agitação em Bloomsbury.
(Skidelsky: 29).
É verdade que o grupo de Bloomsbury tende ao anárquico, se pensarmos na sua ideologia da criatividade lúdica e sem regras; e também é verdade que não possui nenhum freio ou tabu sexual. Isso que para os londrinos é imoral ou indecente, e hoje pode-se constituir em objeto de mexerico histórico, para os 'bloomsburyanos' é um estilo de vida. De resto, continuam a se comportar, mesmo na maturidade, com a consciência dos próprios comportamentos, convicções estéticas, políticas e internacionais, como no caso de Keynes.
(Emma Gory, Um Lobby Pacifista e Elitista: o Grupo de Bloomsbury; cit. De Masi, 2000: 159)
De Masi ainda informa que não foram poucas as críticas dirigidas aos dedicados amorais, "definindo-os como membros de uma sociedade de mútua admiração, um clã, uma camarilha”.
Avaliemos o grau da promiscuidade consciente que assolava Keynes, a “camarilha”, e a cúpula da ocasião:
Ele também era um acadêmico, um esteta, um homossexual e um membro da sociedade secreta de Cambridge. Quando Duncan Grant, com quem Keynes estava tendo um caso, apresentou-se ao tribunal de Ipswich, Keynes defendeu-o, exibindo a pasta do Ministério com o selo real, a fim de intimidar os membros do tribunal que não passavam de peixinhos do interior. Mas ele se envergonhava de sua posição. Em dezembro de 1917, Keynes mantinha o relacionamento com Grant. Escreveu-lhe: ‘Eu trabalho para um governo desprezível por razões que acho criminosas’. (Johnson: 23)
Escrúpulo para tal "gênio" jamais teve serventia:
"E acrescentava modestamente que, aos cinqüenta e cinco anos, estava velho demais para mudar e continuaria um imoral." (Keynes, cit. Hayek, 1995: 84).
No retrospecto de Buchanan (Democracy in Deficit, Academic Press, New York, 1977; Public Debt and Capital Formation; Liberty, Market and State; cit. Iorio: 184), Keynes introduziu “a era moderna de libertinagem pública e privada”. O estereotipado caprichou na performance:
Em conversa, Keynes era freqüentemente brilhante e não raramente indelicado. Não resistia à oportunidade de lavrar um tento e olhava em volta do círculo de ouvintes para ver se outros haviam percebido seu sucesso. Alguns de seus ditos mais espirituosos eram dirigidos aos que não podiam defender-se facilmente, e até contra os ausentes.
(Skidelsky: 20).
O alcance da trama
Russel (cit. Galbraith, 1989: 315) chegou a comentar que Keynes fazia “coisas demais”.
Fazia mesmo. Keynes estendia um trilho sobre uma fogueira. Indo para o norte, ou vindo ao sul, todos ficamos queimados:
"O período em que o welfare state se fortaleceu, de meados da década de 1970 até o presente, também foi aquele durante o qual os níveis de pobreza (relativa) aumentaram na maioria das sociedades industrializadas." (Giddens, 1996: 164).
A progressão manipulatória só contempla a corrupção:
Desde que a guerra contra a pobreza começou em 1965, os governos federal, estaduais e locais gastaram mais de 5,4 trilhões lutando contra a pobreza neste país. Quanto dinheiro vem a ser US$5,4 trilhões? São 70 por cento a mais que o valor do custo da II Guerra Mundial. Com US$5,4 trilhões você pode comprar todas as 500 empresas mais bem-sucedidas, Fortune e todas as terras cultiváveis dos Estados Unidos. Já a taxa de pobreza está realmente mais alta hoje [1996] do que em 1965.
(Pipes, 2001: 328).
O que mais surpreende é tão torpe personalidade, elemento execrável sobre incontáveis aspectos, ser capaz de orientar academias e governantes, por sei-lá-quantas gerações, e por dezenas de nações, ao descompasso da ilusão. A explicação só pode ser a seguinte: esses governos foram ou completamente ignorantes, na melhor das hipóteses, ou corruptos, tanto quanto o corrompido gurú, ou ambas, a pior hipótese, também a mais provável, chicana proselitista que sói se precipitar, até hoje.
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Nota
1. Lord John M. Keynes começou enrustido, mas teve seus amores consagrados publicamente, primeiro por homens, especialmente do circuito Bloomsbury-Cambridge; depois, casou com Lydia Lopokova, uma farsa na tentativa de livrar-se da fama que incitara. (Galbraith: 1989, 315).

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