quinta-feira, 6 de março de 2008

Psicologia de pentear macacos

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Um pequeno número de idéias simplistas e ingênuas orientam este modo de pensamento. Conhecidas as cadeias causais próprias dessa coisa que é o homem, poderíamos então submetê-lo a uma manipulação racional e científica (métodos pedagógicos, higiênicos, eugênicos, reflexológicos, etc.) em analogia com os processos usados na criação de animais domésticos.
HORKEIMER, Filosofia e Teoria Crítica, 1937
A psicologia possui franca cunhagem dialético-cartesiana. Ela .exige a separação do "objeto" a ser esmiuçado, para analisar as parcelas com através de de eixo condutor à metafísica positivista. Sua extensão à psicanálise engloba  o corpo, e a consciência;  esta por sua vez subdividida em vários deparamentos, todos  hierarquicamente sobrepostos - egos, superegos, tataraegos, inconscientes, planos, teses e antíteses - tudo inserido no mecanicista e reduzido universo cerebral. Dessarte a mente é apreciada tal qual eterno ringue de combate. Haja revoltas. Também para Karl Jaspers (1) o método de constatação desqualifica a hipótese observada :-

A ênfase excessiva na análise (na parte) conduz ao reducionismo escotomizante, enquanto a focalização unilateral na síntese conduz ao globarismo obscurecedor. Existe uma polaridade onde a totalidade é vista pelos elementos, e vice-versa, formando um círculo que determina a reciprocidade da parte e da totalidade.
Ferguson reforça: “O conhecimento do cérebro na sua totalidade é muito mais do que a soma de suas partes, é diferente de ambas." (2)
P. Feyerabend (Contra o Método. Rio de Janeiro: F. Alves Ed,, 1985) elenca semelhante relação epistemológica:
...a história da ciência não consiste apenas de fatos. Contém idéias, interpretações de fatos, problemas criados por interpretações conflitantes, erros.Análise mais profunda mostra que a ciência não conhece `fatos nus', pois os fatos de que tomamos conhecimento já são vistos sob certos ângulos essencialmente ideativos.
René Dubos diagnostica o que já pode ser considerado de domínio popular:  “Sejam quais forem suas causas precipitantes e suas manifestações, quase todas as doenças envolvem o corpo e a mente e esses dois aspectos estão de tal modo inter-relacionados que não podem ser separados um do outro.” (3)
Para Freud, contudo, o movimento da libido deveria ser o único elemento capaz de gerar (ou gerir) nossas construções. A imaginativa argumentação, até hoje por muitos tomada como científica, é do próprio criador do mito:

Os animais, incluindo os seres humanos, têm seu comportamento movido pelos inseparáveis instintos do sexo e da agressão. Nos humanos, estes instintos controlam as forças escuras e hidráulicas do id, e são a causa subjacente, inconsciente de tudo o que fazemos.
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Nietzsche antecipou a tática: "Para falar em termos fisiológicos: na luta com o animal, torná-lo doente é talvez o único meio de enfraquecê-lo." (5)
Freud, certamente, julgava seus pares depois de olhar para si, mas onde estariam as forças claras? Donde vem? Será que sabia Freud a composição etmológica de “hidráulico”? Será que ele sabia o que estava dizendo? (O preço pago por Einstein) Retrucamos na carona de Bachelard:
A imagem poética não está submetida a um impulso, Não é o eco do passado. É antes o inverso: pela explosão de uma imagem, o passado longínquo ressoa em ecos a imagem poética existe sob o signo de um ser novo. Esse ser novo é o homem feliz. Feliz na palavra, portanto infeliz no fato, objetará imediatamente o psicanalista. Para ele a sublimação não passa de uma compensação vertical, de uma fuga para o alto, exatamente como a compensação é uma fuga lateral. E logo o psicanalista deixa o estudo ontológico da imagem; aprofunda a história de um homem; vê, mostra os sofrimentos secretos do poeta. Explica a flor pelo estrume. (6)
Na esteira de Bacon, esqueceu o austríaco (ou desprezou), qualquer compromisso com a natureza, ou com valores espirituais:
Sua 'psicologia científica' procura uma compreensão do ser como entidade biológica semelhante a plantas e animais, mas sua interpretação mecanicista da própria biologia empresta um aspecto determinista e algo brutal, tanto para nós mesmos quanto para nossos camaradas biológicos. (7) -
A tez da morbidez
Carlos Lacerda explica e estabelece a comparação:
A visão de Freud, da qual necessariamente participam seus descendentes espirituais, é essencialmente uma visão pessimista da natureza humana. A concepção de Sigmund Freud é aparentada a de Nietzsche, do homem naturalmente agressivo, inexoravelmente condenado a viver sob o aguilhão de instintos básicos da caça à prêsa* e da competição, aí está para documentar o que ninguém pode negar, a saber, o pessimismo existencial da vida freudiana. Entre Rousseau e Nietzsche, Freud ficou com o mais neurótico - tão neurótico que morreu psicótico. Como Rousseau era neurótico (ler Confissões) e Nietzsche psicótico, a visão que Freud tinha do homem, sendo essencialmente nietzschiana, é psicótica. É uma visão negativa e até niilista. Em, suma, o homem freudiano é uma porcaria. Mas não se reconhece como tal. É uma porcaria porque, no fundo, a vida para ele é uma porcaria; e o mundo considerado uma pocilga. Eis a essência, caricaturada mas real, da visão freudiana do mundo.(9)
O pessimismo e a morbidez acompanhavam Freud desde o berço. O professor da UFPr, Dr. Jacob Bettoni, informa: “Existem relatos históricos escabrosos sobre violência sexual contra crianças. Sigmund Freud não apenas tinha amplo conhecimento dos fatos, como sabia que seu próprio pai, Jacob, violentava regularmente seu irmão e sua irmã.” (10)
Abraham Maslow contabiliza: “Freud forneceu-nos a metade doente da psicologia e devemos agora preencher a metade saudável”. (11)
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O cabelereiro dos símios
A psicologia freudiana é basicamente uma psicologia de conflito. Em sua luta existencial, Freud foi indubitavelmente influenciado por Darwin e os darwinistas sociais, mas para a dinâmica detalhada de “colisões” psicológicas ele recorreu a Newton. No sistema freudiano, todos os mecanismos da mente são impulsionados por forças semelhantes as do modelo da mecânica clássica. (12)
Darwin fora, de fato, competente. Arrumou vários apóstolos., em todas academias. POr esta ele foi incisivo: "No futuro distante, vejo campos abertos para pesquisas muito mais importantes. A psicologia será baseada num novo fundamento, baseado na necessária aquisição de cada poder e capacidade mental via gradação. Luz será lançada sobre a origem do homem e sua história." (Charles Darwin, A Origem das Espécies, 1859.)  Freud  embarcou na postulação: “Em seus primeiros anos, (Freud) achou-se fortemente atraído pelas teorias de Darwin, pois sentia que “elas ofereciam esperanças de um avanço extraordinário em nosso conhecimento do mundo.” (13)
Ficamos embotados. E o crime, justificado: “Freud nota que matar o inimigo é uma tendência compulsiva. Mesmo no reino animal os conflitos de interesse são decididos pela força.” (14)
Kelsen confirma o rastro darwinista e complementa a idéia cerne, de caráter nitidamente hobbesiano: “A partir da conjetura de Darwin, Freud supõe que a forma primitiva da sociedade humana era a horda submetida ao domínio absoluto de um macho poderoso.” (15)
Hitler deu razão a Hobbes, Darwin, e Freud. Na A.L. ora temos uma fauna.

O grave dano social cartesiano
O preço pago por Einstein à psicanálise
Veja, ainda:
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O papelão behaviorista
Darwinismo à caminho do fim
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Notas
1. Jaspers, Karl, Psicopatologia Geral, Ed. Atheneu, 1987, Vol I, p. 40; cit. Araújo, Bohmila, A Voz da Harmoniae, A Tarde, Salvador, 7/10/1995.
2. Ferguson, Marilyn, p. 77.
3. Dubos, Renè, Man, medicine e environment, p. 64.
4. Freud, Sigmund, cit. Zohar, Danah, p. 194.
5. Crepúsculo dos ìdolos, ou como filosofar a marteladas, p. 54.

6. Bachelard, Gaston, La Poétique de l'espace, cit. José Américo Motta Pessanha, O Direito de Sonhar, p. xxix.
7. Freud, Sigmund, cit. Zohar, Danah, p. 194.
9. P. 71.
10. Freud, S., cit. Bettoni, Jacob, Pedofilia, Freud explica? . - Kronika, Porto Alegre, edição 24, p. 4.
11. Maslow, Abraham, Toward a Psycology of Being, Van Nostrand, Reinhold, 1962, p. 5.
12. Freud, S., cit. Capra, F., O Ponto de Mutação, p. 173.
13. Freud, S. e Darwin, C., cits. Downs, R. Bingham, p. 211.
14. Freud, S., cit. Pais, Abraham, Einstein viveu aqui, p. 222.
15. Kelsen, Hans, A Democracia, p. 321.


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