quinta-feira, 27 de março de 2008

Para a redistribuição de renda

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"As teorias macroeconômicas divorciadas de uma infra-estrutura microeconômica estão fadadas a apoiar-se em bases destituídas de conteúdo.”
Ludwig Lachmann*
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“Ninguém escreveu sobre o dinheiro tendo tão pouco no bolso.”
Francis Wheen, biógrafo de Marx. **

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ANTES, MAS MUITO antes da redistribuição de renda, todavia, é preciso fazer renda. A tanto, não é mister o poeta. Basta difundir o desenvolvimento; portanto, espraiar o poder. O regime federativo se faz imperativo:
“O exercício do poder está mudando do estado para o indivíduo. De vertical para horizontal. Da hierarquia para as redes.” (Naisbitt: 50).
Lawrence Harrison manifesta a esperança:
“Acredito que a globalização da democracia e da economia liberal terminará por levar todos os países à modernidade” (The Pan-American Dream; cit. Toledo, J. R., O Pesadelo Americano; Folha de S.Paulo, 10/8/1997).
O setor privado, mais sensível, já produz a reversão:
Festa do interior – TVs locais crescem com anunciantes que passam a investir mais nos mercados regionais – ‘Publicitários e anunciantes estão percebendo que é importante considerar as diferenças regionais da audiência. O crescimento da TV principalmente, assim como do Brasil, virá dos mercados regionais, menos ligados às bolsas e mais focados na produção’ diz Daniel Barbará, diretor comercial da agência DPZ. Em emissoras de vários países, a programação está se tornando mais local, em movimento semelhante ao que ocorre nas afiliadas brasileiras.
(Mattos, Laura, Folha de S.Paulo, 14/1/2003: E1).
As vocações só emergem pela descentralização espacial, política e econômica do poder:
O terceiro princípio vital para a política do amanhã visa a quebrar o bloqueio decisório e colocar as decisões no lugar a que pertencem. Isso, que não é simplesmente um remanejamento de líderes, e o antídoto para a paralisia política. É o que chamamos de ‘divisão de decisão’.
(Teilhard de Chardin, cit. Ferguson: 48)
Não por acaso o diplomata francês Jean-Marie Guèhenno já anunciou até O Fim da Democracia, a sucumbência do acordo geral de vontades enfeixadas, como apregoavam Rousseau e Hegel, para deleite de Napoleão, Lenin, Stálin, Hitler e afins:
Guèhenno argumenta que o enfraquecimento dos poderes nacionais em proveito de aglomerados supranacionais coloca em risco os contratos sociais que estão baseados na homogeneidade territorial e cultural. Para evitar a dissolução da democracia, o autor propõe a reformulação global do conceito de comunidade e prevê o surgimento de um império unificado e sem centro.
(Folha de S.Paulo, 11 de maio de 1997: 5/X)
Aos pesquisadores F. Fukuyama e J. C. Pereira (O Fim da História e O Último Homem; cit. Pereira, 1993: 129) não ocorrem dúvidas:
"A atividade científica, enquanto referência inescapável de uma História que não pode ser mais cíclica aponta para a desestruturação de sociedades que se pretendem hierarquizar essencialmente."
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Mudando de conversa,
Expressões brotam de todo canto, cada vez com maior densidade, em pluralidade de reversões. Das pioneiras cumpriu um Ludwig Josef Johan Wittgenstein (1889-1951) (cit. Hacker: 8) outro expoente arrependido do positivismo lógico:
Após terminar de escrever o Tractatus, Wittgenstein abandonou a filosofia durante uma década. Em 1929 voltou para Cambridge e retomou o trabalho. Dedicou-se inicialmente à desmontagem da filosofia do Tratactus, na qual passara a ver falhas graves, substituindo-a por um ponto de vista diametralmente oposto.
Cambridge também era domicílio de Keynes. Tivesse este artista um pingo de honestidade, teria se emendado.
A mais espetacular reforma encetou outro privilegiado cérebro, residente da encantadora Viena, de Hitler. Para se tornar artilheiro-de-proa da Nav's ALL, ele primeiro teve que conhecer o patrício nazista, para reconhecer:
“A democracia moderna não pode estar desvinculada do liberalismo político” (Kelsen: 183).
Tampouco do liberalismo econômico:
"A visão keynesiana dos governos como benignos maximizadores de benefícios sociais está hoje desacreditada irremediavelmente” (Skidelski: 148).
A evolução burocrata só conduz ao bizarro:
"Quando Marx diz que o Estado é um aparato permanente de funcionários públicos, burocracia, exército, polícia, dos quais a classe dominante se utiliza para conservar o próprio poder, exprime com a máxima clareza a fórmula do Estado técnico." (Bobbio, 2001: 82).
Aprisionado por um sistema totalitário em que o Estado regularia sua vida e atividade dia por dia, o ser humano iria perdendo pouco a pouco o gosto pelo risco, o espírito de iniciativa, o sentido e a necessidade de independência pessoal. Ao perpetuar-se este sistema, produziria por força dos acontecimentos uma atrofia do cérebro que, por sua vez, atuaria sobre a anatomia; e, ao cabo desta evolução regressiva, chegar-se-ia a obter um tipo humano degenerado: de tipo bestial.
(Pierre Fourner, cit. Goytisolo: 211).
Reiterá-lo é recurso de alienado:
“Tal ação tocaria as raias da loucura, que tem sido definida como fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes.” (Pipes, 2002: 185).
A razão se encontra publicada desde o século XVIII:
As grandes nações não são jamais arruinadas pela prodigalidade e mau emprego dos capitais privados, embora, às vezes, o sejam pelos públicos. Na maior parte dos países, a totalidade ou a quase totalidade das receitas públicas é empregada na manutenção de indivíduos não produtivos [...] Toda essa gente, dado que nada produz, tem de ser mantida pelo produto do trabalho de outros homens.
(Smith, Adam, Inquérito Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações vol.I, 1999: 599).
Se no EspaçoTempo do escocês tivesse, proer, mensalão, cartão-que-vale-milhão, justiças de trabalho, e incontáveis agências reguladoras, o que mais diria, então?
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Nota
* Cit. , Simpson: 9.
** * Entrevista para TV - GNT/outubro de 2000.

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