segunda-feira, 10 de março de 2008

O nazismo americano


Os partidos de esquerda política - socialistas e comunistas - tiveram enorme influência sobre os padrões de cultura política que emergiram na Europa do século XIX. Pode-se observar o efeito dos partidos fascistas e comunistas na Europa, durante a depressão econômica mundial iniciada em 29, quando suas orientações monolíticas e seus poderosos símbolos políticos deram unidade e direção políticas a milhões de pessoas numa época de angústia e colapso social. (1)

Bismarck uniu e levou a Alemanha à desforra frente aos descendentes de Napoleão, e  calou as reivindicações marxistas. Seu êxito incentivou a “macaquice” geral:
A política do governo prussiano de reprimir ao invés de cooptar o movimento operário levou ao surgimento de um poderoso partido social-democrata revolucionário, que se tornou um modelo para os trabalhadores de toda a Europa. O PSD alemão foi imitado pelos franceses, belgas e italianos. Os movimentos trabalhistas holandês, escandinavo, suíço e americano seguiram os passos do movimento alemão. Oradores eram convidados de honra nos sindicatos que aconteciam em toda a Europa Ocidental e Estados Unidos. Os movimentos operários russo e eslavo também se inspiraram no alemão, e a segunda Internacional Comunista estava sob a liderança reconhecida do partido alemão. Suas filiações ultrapassavam 1 milhão em 1912; nos sindicatos, dois e meio milhões. (Schwartz, J., O Momento Criativo - Mito e Alienação na Ciência Moderna: 130)
O Estado alemão era, evidentemente, uma burocracia. E, embora outros Estados também o fossem, a burocracia alemã entrou para a história como um exemplo, enquanto mecanismo de controle e regulação da sociedade. O povo alemão lhe dispensava um respeito e uma obediência sem paralelo no resto da Europa. Comparando-se com outros impérios, somente na Rússia se incluia uma gama tão vasta de profissões e vocações nas categorias de serviço público como a que se registrava na Alemanha da época. (Amorim: 48)
O entusiasmado Eugene V. Debs (1855-1926) se encorajou, em pleno EUA, a oferecer um protótipo nazi-socialista, pretensão intitulada The Promise of American Life (1909). A “promessa” continha as vantagens do corporativismo e da intervenção deliberada do Estado, a fim de promover “uma democracia altamente socializada”.
Charles Van Hise colheu o ensejo e apresentou Concentration and Control: a Solution of the Trust Problem in the United States, nada menos do que o corporativismo positivista. O Leviathan ressurgia em Michigan. De Masi (p. 279.) entende como os destemidos e individualistas americanos passaram a aceitar o molde nacionalista extremado:
Quanto mais as pessoas são ricas, mais são cínicas e amedrontadas. Têm medo de perder os privilégios que, justamente, não merecem. Foi este o medo que serviu de base ao fascismo. Quem tem medo deseja um pai disposto a assumir a responsabilidade de todas as suas questões mais complicadas. Depois, acaba aceitando até palmadas do papai.
O novo nacionalismo deveria ser meio bosh, coletivista, mas os americanos passaram a amargar tarifas e impostos ainda mais altos do que o Reich aplicava. A confusão política entre economia e justiça pode ser reduzida ao imediatismo, vingando o sofisma numeral do novo formulador do “estado de direito”, modelo de primor maquiavélico, cartilha que irresponsáveis e incompetentes lançaram mão à conquista e permanência no poder.
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Teddy Boy
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A engenharia bismarckiana sensibilizou os americanos, impulsionando o New Nationalism de Theodore Roosevelt e, depois, o New Deal, do sobrinho Franklin Roosevelt! O sagaz Downs os aproxima também no comum desafeto - ambos se preocuparam com Tom Paine:
A hostilidade, as falsidades e as violentas prevenções dos últimos anos da vida de Paine perduraram até recentemente. Theodore Roosevelt se referiu a ele como 'um ateuzinho imundo', embora, como o Santo Império Romano, que não era santo, nem império, nem romano, Paine não fosse nem ateu, nem pequeno, nem imundo. Ainda em 1933, foi suspensa a transmissão de um programa a seu respeito numa estação de rádio de Nova Iorque. Somente em 1945 foi eleito para a Galeria da Fama dos Grandes Americanos, quarenta e cinco anos após a criação desta. (3)
Tanto quanto faria o sobrinho, Teddy soube como encher Washington de parentes. Sua política externa ficou conhecida como Big Stick (grande porrete) devido à frase Speak softly and carry a big stick (Fale com suavidade e tenha na mão um grande porrete), inspiração de provérbio africano,
Seu desejo de roubar, mandar e desmandar em repúblicas de banana vem de sua primeira ação militar, do tempo de cadete, penetrando no México sem vasilina e assaltando a três vezes heróica cidade de Vera Cruz - só o tonto do professor Girafales pra dizer isso, as tres vezes que foi assaltada, caiu e foi tomada pelo inimigo as tres vezes! depois que os EUA derrotaram o México e roubaram metade de seu território, Roosevelt resolve entrar para a política, pra isso ele vai atras dos maiores ladrões do país. Como presidente pos em prática todas as suas técnicas ninjas de estorsão. Primeiro acusou a Espanha de explodir um navio americano no porto de Havana, o que iniciou a Guerra Hispano Americana DE 1898. Mandou invadir: Haiti, Nicaragua, Colombia, Guatemala, e uma ação louvável! Mandou saquear Buenos Aires! http://desciclo.pedia.ws
A truculência lhe grangeou os apelidos – “Teddy Roosevelt, o cowboy de punhos cerrados“ (4), ou, como H.L. Mencken o descreveu, “um estivador glorioso, sempre engajado em descarregar os bares.” (5)  Convém mencionar que o intrépido Teddy só assumiu o governo americano porque McKinley, em 1901, fora, “misteriosamente”, assassinado, este sim, um ato ateu e imundo. Lindon Johnson provavelmente conheceu esta história.
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Os descendentes
Os americanos saíam vitoriosos da I Guerra, mas o horror perpetrado pelos bolcheviques suplantava qualquer comemoração. O receio da moda cruzar o Alaska fazia tremer até esquimó. O esperto Keynes vislumbrou a freeway:
Estamos hoje no meio da maior catástrofe econômica – a maior catástrofe devida quase inteiramente a causas econômicas – do mundo moderno. Sustenta-se em Moscou a idéia de que é a crise final, culminante no capitalismo e que nossa ordem existente da sociedade não sobreviverá a ela." (Cit. Strathern: 224)
Naquela década fatídica os americanos se submeteram a duas ondas entrecruzadas, mas ambas oriundas do transatlântico governamental: a primeira, de origem legislativa, positivista, coibia uma série de atividades comerciais e industriais, em nome de uma falsa moralidade. A Lei Sêca consagrou a prepotência oficial, para proveitos pessoais:
A capital do país, Washington, tinha trezentos bares licenciados antes da Lei Seca: agora havia setecentos bares clandestinos, supridos por quatro mil fornecedores. Tudo isso era possível em função da corrupção total em todos os níveis. Assim, em Detroit, havia vinte mil bares clandestinos. (Johnson,: 174)
Era o que buscava a politicalha da ocasião: uma forte recessão para justificar o golpe fascista, que tanto venerava, e que seria perpetrado por Roosevelt, a suprimir até o padrão-ouro, em nome de um novo sonho, na verdade um pesadelo, só aliviado com a chegada dos despojos alemães e japoneses.
Então, o New Deal não seria uma revolução. Seu programa coletivista tivera antecedentes - recentes - com Herbert Hoover, durante a depressão; mais remotos, no coletivismo de guerra e no planejamento central que governaram os EUA durante a Primeira Guerra Mundial. (Rothbard: 41).
Ao Current History Magazine (cit. idem, ibidem) a manobra era flagrante, e culminaria, como de fato se sucedeu, na ascendência do Estado, frente ao cidadão:
A nova América não será capitalista no velho sentido, e tampouco será socialista. Se a tendência atual é para o fascismo, será um fascismo americano, que incorporara a experiência, as traições e as aspirações de uma grande nação de classe média. Quando o New Deal é despido de sua camuflagem progressista, social reformista, o que fica é a realidade do novo modelo fascista de sistema de capitalismo de Estado concentrado e servidão industrial, envolvendo um implícito ‘avanço rumo à guerra’.
Mesmo Galbraith (1989: 197) se espantou: "O poder nos EUA foi mais concentrado do que se costuma imaginar. Quem controlava o Pentágono, a Cia, o Departamento de Estado, o Tesouro e o homem que coordena estes órgãos na Casa Branca, controlava tudo, e tudo isso o sistema controlava." Havia, muito mais, aquém da bu(r)la ideológica:
Os grandes banqueiros e industriais emergiram nessa época. Firmas de Wall Street - como Belmont, Lazard e Morgan - com apenas 15 anos de existência, ocupavam lugar de destaque na economia. Os tempos modernos da legislação para as práticas de comércio começaram em 1934. (Gleiser, I.: 211)
As portas de Wall Street foram cerradas; dentro se dividiram os despojos: "A grande depressão reduziu as poupanças pessoais de US$4,2 bilhões em 1929 a uma descapitalização líquida de US$600 milhões em 1932 e reduziu os ganhos retidos das firmas de negócios de US$16,2 bilhões para menos de um bilhão." (Pipes, 2001: 183).
Bertrand Russel conheceu a história do descendente de Teddy:
Gastou bilhões, criou uma enorme dívida pública, mas reanimou a produção e tirou seu país da depressão. Os homens de negócios, que ainda acreditavam na economia tradicional apesar de tão clara lição, ficaram infinitamente escandalizados e, mesmo tendo sido salvo da ruína pela sua política, o amaldiçoaram e o chamaram de 'o louco da Casa Branca'. (6)
O Estado de bem-estar era um ardil político: uma criação artificial do Estado, pelo Estado, para o Estado e seus funcionários. É um eco irônico da democracia de Lincoln de, por e para ‘o povo’. Quando seus bem escondidos, porém crescentes, excessos e abusos no governo central e local foram revelados recentemente, havia se passado um século de defesa falaciosa. Seldon: 60
JOSEPH ALOIS SCHUMPETER (Triesch, 8 de Fevereiro de 1883Taconic, 8 de Janeiro de 1950, - p. 201) estranhava a inércia do cidadão americano, engolido pelos crescentes encargos de rubrica social: "Nos Estados Unidos, por exemplo, jamais houve resistência real contra a imposição de esmagadores fardos financeiros durante a última década ou contra uma legislação trabalhista que é incompatível com uma administração eficiente da indústria."
No prefácio, escrito em 1929, portanto exatamente no ano do colapso econômico, Von Mises bem alertou. Se ouvido, não teríamos nem a Grande Depressão e, arrisco a dizer, talvez nem a II Guerra:
Estão procurando um sistema de propriedade que seja contido, regulado e dirigido pela intervenção governamental e por outras forças sociais, tais como os sindicatos. Denominamos uma tal política econômica de intervencionismo, que vem a ser o próprio sistema de mercado controlado. O comunismo e o fascismo estão de acordo no que diz respeito a tal programa, assim como as igrejas e várias seitas cristãs agem da mesma forma que os maometanos do Oriente Médio e da Índia, os hindus, budistas e seguidores de outras culturas asiáticas. E qualquer um que analise os programas e ações dos partidos políticos da Alemanha, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, deve concluir que existem diferenças apenas nos métodos de intervencionismo, não na sua lógica. (7)
Todavia, informa-nos Brian: “O Führer era idolatrado não sòmente em sua terra natal; tinha adeptos em número considerável de americanos barulhentos e vociferantes.” (8)
O grande Henry Ford era um de seus maioers entusiastas. Antisemita par excellence, já em 1920 elaborara uma obra de grande penetraao, intitulada The international Jew, onde aponta as mazelas provocadas pelos judeus nediante monopólios de fluxos monetários. Os nazistas publicaram e agradeceram a colaboração.
Outro grande admirador do debilóide chanceler era o famoso e influente aviador Charles Lindberg.

Os bancos norteamericanos detinham cerca de 40% da dívida externa a longo prazo da Alemanha, escorando o nazismo justamente quando sua prórpia economia ia à bancarrota.
Para recuperar a economia, Roosevelt criou a portentosa NRA - Administração de Recursos Nacionais, entregando a batuta para um general reformado - Hugh Johnson, com poderes ilimitados: "Era um administrador do sistema corporativista nacional de Mussolini na Itália e se inspiou na experiência italiana para formular o New Deal." (PARKER, S., O crash de 1929: 357)
Roosevelt em seguida ainda colocou o almirante francês Jean Darlan como govemador-geral de toda África do Norte francesa. Darlan era um dos principais colaboradores nazistas e autor de leis anti-semitas, promulgadas no governo de Vichy.
Em 1938 se descobriu a enorme quantidade de fraudes na Bolsa de Valores, perpetradas por Whitney, seu célebre Presidente. A regulação havia colocado o bebê ( investidor) numa gaiola com um tigre, para controlar o tigre.
Não obstante, o cartel corria solto. Ford, GM, e Chrysler faziam a "reforma agrária" do mercado, partilhando os fregueses antes de oferecer seus produto. muitos conquistados corrompendo governichos semelhantes pelo mundo afora.
Onde se meteu o fã-clube, ninguém sabe; mas muitos vestígios nazistas ainda contaminam as relações doméstivcas e internacionais norteamericanas. Inúmeras quinquilharias permanecem impregnadas na roupa de Tio Sam, à mercê dos jockeys..
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Notas
* Hoover era sinônimo de engenharia. Ex-diretor do FBI, Edgar Hoover planejava prender 12 mil americanos por suposta "deslealdade". A tanto, juntou os documentos confidenciais e tornou-os públicos, através do Departamento de Estado. Posteriormente, Hoover exigiu famosa perseguição contra inventados comunistas junto ao presidente Harry Truman, no dia 7 de julho de 1950, pouco depois do início da Guerra da Coréia. (New York Times, em 23/12/ 2007) Assim fazia côro ao venerado General Mc Cartey e àquele já conhecido pilantra, Richard Nixon, o futuro presidente-vilão.
1. Almond, Gabriel A. e Powell Jr, G.Bingham, , p. 82.
3. Paine, Thomas, cit. Downs, Robert Bingham, p. 40.
4. Roosevelt, T., cit. Diggins, J.P., p 110
5. Mencken, H. L., “Roosevelt: An Autopsy - Prejudices: A Selection, Nova York, Vintage, 1955: 47; cit. Diggins, J.P.: 55
6. Russel, Bertrand, p. 95.
7. Von Mises, Ludwig, Uma Crítica ao Intervencionismo:11.
8. Brian, Denis, p. 329



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