terça-feira, 11 de março de 2008

A supremacia economista pela lei do galinheiro

Nessa e em outras questões, o papel da maioria dos economistas tem sido o de propagar servilmente o ideário dominante. Mutatis Mutandis, aplica-se a eles o que dizia Schopenhauer dos filósofos do seu tempo: submetidos a regra do primum vivere, estão sempre dispostos, e com o mais solene desprezo por realidades inconvenientes, a deduzir a priori absolutamente tudo o que lhes for pedido, o bom Deus, o diabo ou o que seja. (2)
Os especialistas sondaram nossos recônditos desejos e são os únicos capazes de continuar a prover nossas necessidades. Estes especialistas que 'realmente' sabem o que dizem, estão todos eles na folha de pagamento oficial da estrutura estatal e/ou empresarial. Os especialistas importantes são os autorizados. E os especialistas autorizados pertencem à matriz. Henry Hazlit (1)
“Economistas e outros especialistas estão quase sempre submetidos à pressão das 'verdades' e 'teorias' consagradas pelos interesses e preconceitos dominantes.” (3)
A lei do galinheiro
Schwartz mostra como a hierarquia positivista do Estado Interventor suplanta o arcabouço jurídico-constitucional do Estado Liberal:
Estudantes de política viram sua disciplina perder devido a presença nos programas dos chamados métodos quantitativos. Historiadores também sentiram oprimidos pelo aparecimento da história 'científica', em que a autonomia da ação humana é substituída por supostas leis quantitativas de movimento histórico. Economistas vem trabalhando há anos no deserto conceitual da 'econométrica' abandonando a análise séria da propriedade e controle em favor do prazer dúbio de manipular modelos matemáticos. Temos revistas acadêmicas de sociologia matemática, psicologia matemática, biologia matemática. A 'lei do galinheiro' que rege nosso meio acadêmico reflete a perpetuação da atitude elitista que faz da matemática um abrigo seguro para a física do século XVII. No poleiro mais alto estão os reis do pensamento abstrato, matemáticos puros. Depois, os matemáticos aplicados e físicos teóricos. Em seguida: químicos teóricos; físicos experimentais e químicos-físicos. Numa posição inferior: químicos orgânicos. Depois das ciências 'pesadas', as 'softs': geologia e biologia, no destaque, reagindo. A psicologia mal se qualifica como uma ciência e, juntamente com a antropologia, história, sociologia e outras chamadas ciências humanas ocupam os últimos postos da hierarquia acadêmica. A medicina encontra-se acima da psicologia e abaixo da biologia. Consideradas em sua totalidade, as ciências 'pesadas' imperam sobre as ciências 'leves' e toda essa árida hierarquia continua a bloquear o desenvolvimento de uma compreensão coerente dos complexos e multifacetados aspectos da experiência humana. (5)
Paul Ormerod critica a mentalidade dos ocupantes do poleiro mais alto, dos “encarregados” em calcular e fazer circular (ou estrangular) essas riquezas - nada além de desdobramento e extensão das premissas cartesianas e newtonianas:
Os economistas vêem o mundo como uma máquina. Uma máquina complicadíssima, talvez, cujo funcionamento pode ser entendido se juntarmos cuidadosa e meticulosamente as partes que a compõem. O comportamento do sistema como um todo pode ser deduzido de uma simples soma desses componentes. Uma alavanca puxada em certa parte da máquina, com uma certa força, provocará resultados regulares e previsíveis em outra parte da máquina. (6)
Harold Lasswell e Abraham Kaplan igualmente não aceitam o dogma, a auto-suficiência ou precedência incondicional da econometria sobre as demais disciplinas; citando Russel e Tawney, conjeturam a falácia que levou marxistas e positivistas a interpretarem a história e a política como caudatárias da Economia:
“Temos acostumado a aceitar o poder econômico sem análise, e isto levou, nos tempos modernos, a uma ênfase indevida sobre a economia, por oposição à guerra e à propaganda na interpretação causal da história.” (7)  O Economista Simpson (8) detona:
A teoria macroeconômica não tem procurado superar seus outros defeitos mais sérios. Inspirada na errada crença de que deveria imitar os métodos das ciências naturais, especialmente os da física, acabou abstraindo-se das variáveis essenciais mas não quantificáveis, tratando uma série de eventos históricos como se fosse repetitiva, determinística e reversível.
Ela até pode e mesmo deve seguir os métodos da Física. Porém, cumpre informá-la que a própria mater se emendou, e justamente quando a Economia ascendia ao puleiro mais alto. 
Assim, a economia, a ciência social matemáticamente mais avançada, é também a ciência social e humanamente mais fechada, pois se abstrai das condições sociais, históricas, políticas, psicológicas, ecológicas, etc., inseparáveis das atividades econômicas. Por isso, os seus experts são cada vez mais incapazes de prever e de predizer o desenvolvimento econômico, mesmo a curto prazo. (9)
A política do mecânico
Eis a o perfil dessa máquina, importada de um passado longínquo, obsoleto, e equivocado
O triunfo da mecânica newtoniana nos séculos XVIII e XIX estabeleceu a física como protótipo de uma ciência 'pesada', pela qual todas as outras ciências eram medidas. Quanto mais perto os cientistas estiveram de emular os métodos da física e quanto mais capazes eles forem de usar os conceitos dessa ciência, mais elevado será o prestígio das disciplinas a que se dedicam, junto da comunidade científica. No nosso século, essa tendência para adotar a física newtoniana como modelo para teorias e conceitos científicos tornou-se uma séria desvantagem em muitas áreas, mas, mais do que em qualquer outra, na das ciências sociais. (10)
Não obstante, na faina ao tesouro, as "pesadas" souberam largar os pregos para não serem seguidas: “A linguagem matemática da ciência, que tanto causa desânimo ao leitor de outras áreas, implantou-se como resultado do conflito entre as visões de mundo eclesiástica e leiga, e seu propósito era justamente causar o afastamento do público comum.” (11) A Economia escorrega na vereda:
Durante a segunda metade do século XIX, a economia sofreu uma influência muito grande do avanço das ciências exatas. Invejosos de seu sucesso e prestígio e cônscios do poder das matemáticas e de sua importância para seu próprio progresso, os economistas voltaram sua análise para essa direção. (12)
O modelo keynesiano acabou sendo totalmente assimilado pela corrente principal do pensamento econômico. Em sua maioria, os economistas tentam hoje fazer uma 'sintonia fina' da economia, aplicando os remédios propostos por Keynes: imprimir dinheiro, aumentar ou baixar as taxas de juros, cortar ou aumentar impostos, e assim por diante. SORMAN, G.: 74
Do altar numeral, o famoso, mas completamente obsoleto economista John K. Galbraith, em conferência proferida na Paris do século XX, (13) desenvolvia duas proposições básicas inerentes ao que chamou de “tecno-estrutura”:
“a) O capitalismo já não é soberano na empresa. b) O consumidor já não é soberano no mercado. Por isto, a análise clássica do liberalismo econômico é anacrônica.” (14)
Repetindo o que já tinham dito alguns de seus antecessores, não imaginou o velhusco burocrata como estas mesmas assertivas estariam, em estreito tempo, completamente desmoralizadas.
Precisávamos de apenas uma teoria. Einstein a concebeu. O monumento concentrou a humildade que a tantos é escassa:
Por estas razões, devemos ter a precaução de não superestimar a ciência e os métodos científicos quando há problemas humanos em causa; e não devemos presumir que os especialistas sejam os únicos a ter direito de se expressar sobre as questões que afetam a organização da sociedade. (15)
O poleiro das aves bicudas
Ao disparar contra os manipuladores, o Embaixador Meira Penna, concorda:
Não sou economista. Sempre senti uma certa desconfiança com essa ciência, ou pseudociência, confusa e difusa que mais parece insistir numa linguagem hermética para enganar e deitar a perder incautos. Não estou longe de acompanhar Edmund Burke que, em suas Reflexões sobre a Revolução Francesa, lamentava o fim da idade da cavalaria, substituída pelos 'sofistas, economistas e calculadores'. (16)
Com espirituosidade, o imortal acadêmico Raimundo Faoro se coadunava: “Talvez seja mais fácil interpretar Nostradamus do que a linguagem dos economistas.” (17)
Darci Ribeiro, em sua última entrevista a TV, radicalizou: “Economista não presta; Economia não é ciência, é contabilidade.”
O próprio sociólogo chamado doutor, Fernando Henrique Cardoso, professor Honoris Causa da Universidade de Bologna, dentre outras incautas, embora não observasse suas próprias ponderações e entregasse o barco Brasil à desgraça, soube bem afirmar: “A Economia não é uma ciência exata. É uma espécie de navegação. O importante é não encalhar nos bancos de areia.” (18)
Infelizmente, depois que tal eminência assumiu o timão, estamos encalhados, não em banco de areia, mas num mar de lama alastrada, e com o casco furado.
A inconsciência
Nosso Chefe-de-Equipe Max Planck chegou a afirmar que havia começado seus estudos com a Economia mas, percebendo-a 'difícil', optou pela Física, daí desenvolvendo a Ciência Quântica. Herbert Simon, Nobel de Economia de 78, não poupou críticas aos pressupostos “racionais” dos economistas ao expor o fracasso da disciplina em lidar com valores e expectativas em constante transformação. (19)
O mundo, todavia, que sofrera o impacto acumulado das contundentes porém parciais teorias de Malthus, Rousseau, Newton, David Ricardo no século XVIII, e de Hegel, Comte, Sorel, e Darwin, no século XIX, encontrou, nas “teorias econômicas" marxistas e keynesianas, o par de esqui apropriado para despencar pelas pirambeiras das (mal) arranjadas relações sociais, ao lamento de um Dalai Lama:
A sociedade industrial moderna às vezes me dá a impressão de ser uma imensa máquina autopropulsionada. Ao invés de os seres humanos acionarem a máquina, cada indivíduo torna-se um pequeno componente insignificante sem outra opção a não ser mover-se quando a máquina se move. (20)
No Brasil, venerável Lama, nem isso. Há mais de década o povo permanece estático, abismado, olhando ao céu, rumo no qual aprecia as aves em seus formidáveis vôos, e os macacos realizando peripécias pelos cipós.
_____________
Notas
1. Economia numa unica lição, p. 4.
2. Roszac, Theodore, p. 62
3. Batista Jr., Paulo Nogueira, Professor da Fundação Getúlio Vargas, Economia e Ideologia, Folha de São Paulo, 3/4/97, p. 2.
4. Campos, Roberto, O liberalismo e a pobreza. - Zero Hora de 1/11/1996.
5. Schwartz, Joseph, p. 60.
6. Ormerod, Paul, p. 48.
7. Lasswell, Harold e Kaplan, Abraham, Poder e Sociedade, p. 128 e 129.
8. Simpson, David, O Fim da Macroeconomia?, p. 6
9. Morin, Edgar, Compreender não é preciso. - Para Navegar no Século XXI, pg. 30
10. Capra, Fritjof, O ponto de mutação, p. 180.
11. Schwartz, Joseph, p. 18.
12. Ormerod, Paul, p. 50.
13. Galbraith, John K., Conferência de 2 de fevereiro de 1971. - Le Nouvel Observateur, Paris, 8/2/71.
14. Idem, ibidem.
15. Einstein, Albert, Escritos da maturidade: artigos sobre ciência, educação, relações sociais, racismo, ciências sociais e religião, p. 130.
16. Penna, José Oswaldo de Meira, Decência Já, p. 154.
17. Faoro, Raimundo, autor de Os donos do poder. - Zero Hora, Cultura, 25/11/2000, p. 5.
18. Cardoso, Fernando Henrique. - O Pioneiro, Caxias do Sul, 9/1/1997, p. 18.
19. Simon, Herbert, cit. Ferguson, Marilyn, , p 310.
20. Dalai Lama, Ética para um novo milênio, p. 18.

Nenhum comentário:

Postar um comentário