sábado, 15 de março de 2008

A dialética da manipulação monetária

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Foi o próprio Estado que criou a necessidade política
do estado de bem-estar. Quanto mais bem-estar é criado
por tributação (em parte rebatizada como contribuições de
seguridade social), mais se enfraquece o financiamento privado.
Quanto mais o bem-estar privado foi inibido, tanto mais bem-estar
público foi necessário criar.
Arthur Seldon

A repartição do virtual
O bem-estar sem produção exige ficção. Eis uma franchising de Platão.
Os novos cadetes da (“de”) ocasião passaram a combater abertamente o lastro em ouro:
Por algum tempo a ascendência do padrão-ouro - e a crença daí decorrente de que mantê-lo era uma importante questão não só de princípio, mas também para que se pudesse evitar uma desgraça nacional - constituiu uma efetiva restrição a este poder. Deu ao mundo um longo período de relativa estabilidade - 200 anos ou mais -, durante a qual o moderno industrialismo pôde desenvolver-se, é verdade que sofrendo crises periódicas. Mas, quando ficou amplamente evidenciado, há cerca de 50 anos, que a convertibilidade em ouro era apenas um método de controlar a quantidade de uma moeda, sendo este fator que realmente determina seu valor, os governos logo ficaram ansiosos para escapar a essa disciplina, e o dinheiro tornou-se, mais do que nunca, um joguete na mão dos políticos.
(Mises, L., cit. Bichir: 82)
Keynes (cit. Hugon: 475) alcunhava o tradicional padrão como “relíquia bárbara”:
“O desemprego é um mal. Se quiser que desapareça, inflacione o meio circulante”. (2)
Eis o total conhecimento da causa da depressão; mas sua receita se equivale ao bizarro:
Um outro exemplo médico talvez deixe clara a diferença entre uma cura e um efeito colateral. Você sofre de apendicite aguda. Seu médico recomenda uma apendicectomia, mas avisa que depois da operação você ficará de cama durante determinado tempo. Você recusa a operação, mas se recolhe ao leito, onde fica durante o tempo indicado, por ser uma cura menos dolorosa. Tolice, sim, mas fiel, em todos os detalhes, à confusão entre desemprego como efeito colateral e como cura.
(Friedman: 204)
A repartir o virtual, o falsário (1) recomendava: emissões de papel-moeda à vontade, com ou sem lastro; bastavam bons planos. O futuro cobriria o cheque pré-datado.
A venerada casa da moeda se transformou em venéria casa de tolerância, de alta rotatividade.
O investimento adicional, dessa má forma “auferido” (investimento fictício, como vimos, à custa da aceleração das máquinas de fabricar o papel-moeda) faria aumentar a quantidade de emprego e, portanto, o nível de renda, o que, por sua vez, levaria a uma maior demanda de bens de consumo aumentando a produção, e assim sucessivamente. O governante, a cada ciclo, teria o meio de cobrir a emissão antecipada. O pleno emprego seria uma questão de tempo: o investimento estimularia o crescimento econômico e aumentaria a riqueza, fazendo-a “escorregar aos poucos” para os pobres, em dúbio sentido “liberal-capitalista”.
Medidas "corretivas", "provisórias", entretanto, se fizeram mister, e foram acionadas de modo crescente:
Em Como Pagar pela Guerra Keynes apresentou o projeto para poupança compulsória, ou ‘pagamento diferido’. O excesso de poder de compra seria enxugado por imposto progressivo sobre todos os rendimentos (com compensações para os pobres em forma de subsídios familiares), parte do qual seria devolvido em prestações depois da guerra.
(Skidelsky: 45)
A esterelidade da manipulação
Os Toffler condenam as artimanhas monetárias pelo singelo motivo:
Para combater a grande depressão, John Maynard Keynes, como nos recordamos, sugeriu ao governo deficitário que pusesse dinheiro no bolso dos consumidores. Com os bolsos forrados, os consumidores passariam a comprar coisas. Por sua vez, isso levaria os fabricantes a expandir suas fábricas e a admitir mais trabalhadores. Adeus desemprego. Os monetaristas, ao contrário, receitaram a manipulação de taxas de juros ou do suprimento do dinheiro, a fim de aumentar ou diminuir o poder aquisitivo de acordo com as necessidades. Mas há uma falha muito mais fundamental nas velhas estratégias: elas ainda se concentram na circulação de dinheiro, em vez do conhecimento.
(Toffler e Toffler: 64)
O staff keynesiano, entretanto, sói dispensar o detalhe, pelo detalhe:
"Por que as hierarquias rígidas e burocráticas não podem gerar um comportamento criativo? Porque elas nada têm a ver com inteligência." (Nobrega, 1996: 325)
O poderoso gosta de adquirir porta-aviões. De que serve alguma cátedra?
Neste caso vale lembrar Nietzsche (p.51):
"Mas o Estado mente em todas as línguas do bem e do mal, e em tudo quanto diz mente, tudo quanto tem roubou-o."
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Notas
1. Milton Friedman (p. 215) insiste na lição já por demais sabida:
“1. A inflação é um fenômeno monetário que nasce de um aumento mais rápido da quantidade de moeda do que da produção (embora, é claro, as razões para o aumento da moeda possam ser várias). 2. No mundo de hoje, o governo determina – ou pode determinar – a quantidade de moeda.”
2.“Fabricar" ou emitir cédulas monetárias sem o lastro correspondente, embora por elaboração oficial, praticamente se equivale ao falsário e sua máquina particular de fazer dinheiro; sumir com as cédulas, retirá-las do mercado, todavia, é ainda mais letal.

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