domingo, 2 de março de 2008

Fascismo & positivismo gaúcho


O comtismo serve então de fundamentação doutrinária a uma facção política conservadora e anti-democrática, que durante quarenta anos dominou o Rio Grande do Sul, e daí se irradiou para todo o país. SILVA, Prof. Nady Moreira da, Universidade Federal do Maranhão, Positivismo no Brasil
O Distrito Federal RJ ergueu a matriz da Igreja Positivista do Brasil, primeira edificação construída no mundo para difundir a Religião da HumanidadeA capital gaúcha tratou da sucursal proselitista, “um dos únicos prédios do mundo erguidos com o exclusivo propósito de abrigar o culto e as obras de Comte.¹ 
Você deve ter ficado impressionado com o número de alegorias que viu. Na fachada da prefeitura, da Biblioteca Pública, nos vitrais do Banco Meridional, na fachada da Federação (também não viu? Azar o seu. Aquela senhora bem no meio da fachada é a Federação em pessoa), na Igreja das Dores. Muitas delas são alegorias positivistas que, na visão dos seguidores dessa doutrina, tinham o objetivo de 'educar o povo' e 'enaltecer os nobres valores' . www.riogrande.com.br/turismo/capital8.htm
O espetacular talhado da praça é obra-prima da arte, mas em todas cidades do rincão gaudério pelêgos e bois-de-botas denominam praças, ruas, avenidas, até colégios, imagine, coitados desses alunos, e mis logradouros com os nomes dos pastores da santa grei. Embora o método contenha inequívoca eficácia, trata-se de uma falácia. Nos acordes dessa banda marcial, quem marcha é o povo, embretado...
Apesar da escravidão ter sido menor aqui,
o Rio Grande do Sul nunca foi um estado democrático.

FONSECA, Ana Julieta, Professora de História do Colégio
Juúlio de Castilhos
Porto Alegre, nunca esteve tão triste, repleta de mendigos, camelôs, vigaristas, e bandidos. Indigentes dormem ao relento. Menores abandonados quase são atropelados. Esperanças se vão no vento. É certo que esses lamentáveis fatos não são exclusivos dos pampas. O golpe perpetrado precisamente na noite de 15 de novembro de 1995 contra os correntistas dos bancos Nacional, Bamerindus, Banespa, Banrisul, Banerj, Banestado, BB, de modo simultâneo, expatriou do país aproximadamente 30% de todo o dinheiro que por aqui circulava. A partir de então, mergulhamos num misto de deflação e estagflação capaz de reduzir violentamente  produção e consumo. Como não houve carnificina, pouco se noticiou. E tudo foi olimpicamente esquecido. Seus efeitos, todavia, são atômicos, e não se dissipam como memória de bêbado. O crime aumenta, aqui e acolá, em proporção geométrica, exatamente desde aquela fatídica operação, dizem, sociológica. Só podia ser coisa daquela Bobbone. E portanto, de Comte. As narrativas das peripécias policiais carreiam ibope às rádios; então os loucutores propugnam por mais arrocho. O big-bang do Pro(m)er não vem ao caso. O que garante lotação em qualquer cine é o velho bang-bang. ´
À esquina democrática acorrem pedintes e ambulantes de todo gênero, enquanto o bar é fechado, por falta de movimento.
No bairro mais finesse da outrora leal e valerosa um coronel tomou o microfone coberto pelos fuzis. Exigia a identificação de todos os presentes. Na rua o pelotão se colocava em linha, impedindo a passagem de veículos e de pessoas. No interior, os clientes foram colocados contra a parede, e mãos-ao-alto! Não ficou aí. A tosca peça foi reapresentada na Cidade-Baixa, nas ruas José do Patrocínio, República e João Alfredo; em seguida, passou na Avenida Independência, na Voluntários e nos chamados inferninhos da rua Marechal Floriano, no centro. "Na Cidade-Baixa, PMs evacuaram três casas noturnas." (Correio do Povo, 23/3/2008, p.17)
Dizem que a epopéia se deve ao zêlo do governo sobre os gaúchos; contudo, no caminho os zeladores passaram por cima de milhares de moradores de rua.
Roberto Campos gostava de advertir: "O governo é perigoso, e anda armado." ** Vero, mas a ação da CruzCredo não é fascista. A Gestapo era nazista!
* * *
A monumental corrupção deixa o monumento da foto anão. No cenário da Assembléia Legislativa quem encena são os integrantes do DETRAN. A outrora honrada Casa do Povo virou de tolerância. Uma fraude com selos selou o destino dos recursos extraídos da produção aos endereços pessoais de seleto grupelho. O gaúcho não leva dólares nas cuecas, como sói acontecer alhures. Como o dinheiro originalmente privado se torna público, ninguém se importa que ele retorne à privada. E a festa continua, anos a fio na mesma lenga-lenga: 
Descontrole na Assembleia 10/07/2012 | 16h06 MP de Contas vai apurar supostas irregularidades no parlamento estadual 
A corrupção, naturalmente, para ter pleno êxito, tem que contar com o Executivo, que anda correndo feito avestruz, junto com seus de puta dos, e apaniguados. Pela ex-autarquia do DETRAN, ora anarquia, havia uma caixinha das seguradoras. (Se é que se pode chamar tramposa de seguradora. Conheço uma, a Burlamérica, para mim a campeã.). Pobre da gente. Imagine para que lado pende o laudo do acidente!
Féliz WC  sorri com dossiês, e a madame foi aos EUA, pedir dinheiro emprestado. Há quem afirme que por ser economista, a professora bem sabe zelar pelas contas públicas, isto é, pelo dinheiro tomado de quem produz, dos assalariados, através dos escorchantes impostos sobre o arroz e o remédio que ele compra.. Maior disparate sequer o fascismo teve coragem  Dia desses a excelência logrou  notável feito, fartamente divulgado: propugnou e ganhou a prerrogativa de estabelecer um teto máximo de salários dos funcionários públicos  - R$22 mil. O RS deixará de pagar R$ 30 mil a dez privilegiados. Diz-se que o esforço, o qual demandou ano de pelejas jurídicas, e altos honorários, economiza cerca de cem mil reais por mês. Não sei o custo de honorários e processo, além do tempo gasto pela própria governadora numa questão tão significante, a ponto de catalizá-la em detrimento do formidável rol de reinvindicações citadinas que diariamente fazem plantão para obter as fichas de atendimento do Piratini. Porém, enquanto a intrépida causídica se distraia (ou melhor, distraia o povo com esta decisiva pendenga), o arrecadador de sua  campanha, em conjunto com a companheirada, servia-se da módica quantia de quase cincoenta milhões de reais. Deste modo, será necessário meio século para os recursos da ridícula vitória empatarem com o buraco-negro que sua grei provocou apenas na arapuca do departamento de trânsito, de fato expert em grande trânsito, especialmente o financeiro.
Nas estradas de rodagem roda dinheiro também, às pencas. O DAER festejava com semelhante quinhão. A tomografia do Daer No Banrisul as denúncias são estarrecedoras, Os acionistas em pânico exigem a demissão do presidente, mas algum acerto, ou chantagem de bastidor impede que se acalme a dor..

Para calar o Tribunal de Contas, nada melhor que mensalões, esta vitoriosa prática política instituída no Brasil justamente pelo partido da governadora, através do socio logo da Bobonne. Marcos Valério foi o grande articulador, comprando a preço promocional, por duzentos a cabeça, a alteração constitucional que beneficiou o patrão, ávido em permanecer para limpar as digitais..A imprensa chapa-branca mantinha em sua folha de pagamento ex-ministro de FHC, e saudava a concessão do vultoso empréstimo internacional contratado com o estado (lastimável) do RS, o qual excede o bilhão de reais. Diz-se que isto prova que a gestora pratica um governo de reconhecida capacidade e visão empresarial. Assim, as verbas publicitárias vão se multiplicando, já por conta do "Grande Prêmio". Para mim, qualquer empreendimento que necessite de aportes financeiros é sinal de mau negócio, ou péssimo gerenciamento. Ademais, não se trata de loteria - os gaúchos herdarão a dívida, a qual, naturalmente lhes caberá honrá-la. Por último, sendo um financiamento de longo prazo, a Exa. demonstra total irresponsabilidade, posto que a responsabilidade decorrente da ousadia recairá sobre os ombros dos próximos governadores, e, claro, aos nossos filhos, quando estiverem com suas costas mais largas. Onde ela estará nesta ocasião, ninguém poderá supor. A técnica que usa, pela cartilha de Maquiavel, não pode lhe assegurar um final muito melhor do que obtiveram Mussolini, Hitler, Goebbels, Napoleão, Salazar, e nosso venerado Getúlio, embora ultimamente sejam seus clones aquinhoados com liberdade total. Normalmente pela batuta maquiavélica a subida ao poder sobre um povo tonto e pusilânime é bastante trivial, e seu deleite prazeiroso, mas olvida o incauto que aquele também e originalmente maquiavélico diretor programou-a sem variação, reservando um final melancólico, não poucas vezes trágico, ao seu astro principal, justamente para a alegria da platéia, a qual, no fim das contas, é a que lhe garante a bilheteria. Aguardemos, pois.
O Forum ao entardecer recebe uma massa de gente espremida pelos saguões, na expectativa de receber de volta o que lhe é de direito, e que geralmente está nas mãos de empresas "concessionárias" dos serviços públicos, (vê se pode um serviço público ser concedido - ou seja o estado renuncia a sua razão de existir) de seguradores e de grupos de consórcio. As causas são sempre as mesmas, e julgadas do mesmo modo, de maneira que antes de serem questões jurídicas, sujeitas à controvérsias, são reinvindicações sociais, pelas quais, neste caso, como em quase todos, o governo faz ouvidos de mercador, omisso posto nada lucrar, tampouco pela renúncia explicar.
O forum mais elevado também está abarrotado de petições, não poucas escabrosas, enquanto os tribunais se ocupam em vetar a divulgação dos fatos que se sucedem na casa, ora casebre, que era do povo. Os togados também se ocupam de concursos por eles arquitetados, especialmente às "concessões" mais polpudas, como são as mega-senas dos cartórios extra-judiciais. Nunca entendi o lloby da classe junto aos constituintes para se arvorar de fiscal desses afazeres. Não lhe é pertinente qualquer tarefa policialesca, ou mesmo ordenativa. A própria designação já lhe excluiria: os atraentes estabelecimentos são privados, e EXTRA-judiciais, portanto fora do restrito âmbito dialético pelo qual se equilibra a douta função jurisdicional, ou seja, de "dizer o direito", não de impô-lo, ou pior, de constituí-lo. Há quem suspeite que os gabaritos são antecipadamente ofertados - coisa de urso, é claro. A julgar pelo número de parentes e amigos que ingressam em tão rentável atividade, os quais de ética ou de etiqueta só conhecem a dos seus ternos, não tenho dúvidas que tais arranjos são eivados de forças ocultas:

Nos colégios do Rio Grande do Sul as salas permanecem vazias, por inadimplências e falta de professores. Os esquálidos mestres reclamavam na frente do magestoso palácio, arquitetura francesa, claro. Como prêmio, foram algemados, e presos, verdade, justo por este pessoal avesso a repressão, da tchurma das diretas já. O mesmo se sucedeu com alguns caras-pintadas, enquanto agricultores eram recepcionados pela borracha dos batalhões.
'As profecias científicas não mentem',
dizia há tempos o venerando cidadão Miguel Lemos,

'e os sinais certos da vitória estão por toda parte'.

Joaquim José Felizardo Júnior (A Federação, 18-19 out., 1898)
As profecias vingaram pela força bruta, e somente em prol de sua felizarda grei. Na Praça da Matriz, ao lado da catedral, ergue-se a fronte gloriosa do Palácio do Governo, no estilo francês, é claro, como convinha ao esnobe gosto positivista. Na diagonal, por entre árvores, além do patamar pouco usado, há um obscuro portal. A subterrânea abertura dá acesso à Assembléia, que mais parece um ninho de ratos, de modo que a entrada é de acordo. Pelo contraste com a arquitetura francesa, a Casa do Povo também parece salão de festas de arrabalde. Não por acaso "entregadores de pizza" são vistos aos borbotões.
Na famosa praça, na frente do Palácio e da Igreja, mas não da Assembléia, resplandece o monumento cuja foto estampa o post: a espada sobrepujando a balança. Ali foi talhado o mito, cercado de outros símbolos, “vencendo o dragão da anarquia, inimigo maior do progresso, pois este nasce da ordem” (2)
Não conheço nenhuma religião que tenha gerado mais vigaristas do que essa que se diz da "Humanidade."
No monumento da praça, sentado no trono fulgura S. Exa., Júlio de Castilhos.***  O herói subjugou o Rio Grande do Sul por 30 anos, a partir de 1893, portanto, surfando na onda da República enfiada goela-abaixo à tonta população! É de se considerar, por oportuno, que aquele outro herói Marechal Deodoro também era oriundo dos pampas. Seu sucessor, o bigodudo Floriano Peixoto, o tal Marechal-de-Ferro, e seus fardados obtinham o tratamento que julgavam condizente com suas altas capacidades intelectuais: “Os militares estavam contentes; para a maioria a satisfação vinha da convicção de que iam estender a sua autoridade sobre o pelotão e a companhia, a todo este rebanho de civis” (BARRETO, Lima, Triste Fim de Policarpo Quaresma).
A Constituição riograndense foi pioneira em valorizar "família, pátria e humanidade", mas, naturalmente, e antes de tudo, a companheirada apostólica. Os médicos que não eram positivistas chegaram a defender a tese da incompatibilidade entre a doutrina francesa e o exercício da medicina, como foi o caso do Dr. Olímpio Olinto de Oliveira, fundador da Faculdade de Medicina. (Almeida, 1964, p.237). Dr. Júlio, contudo, mantinha a porteira cerrada. A gauchada continuou facilmente embretada, como o gado, que tanto lidam, à mercê dos profetas do pasto-verde. Júlio morreu em outubro de 1903, de câncer na garganta, durante uma operação, realizada em sua residência, e justamente pelas mãos de seu secretário positivista Protásio Alves.(Rosa, 1928: 322)
A disseminação 
A ciência é o que há de mais sublime no mundo. Ela é a nossa última instância. Nada há acima da ciência. Para os espíritos populares, ela é a mais elevada das deusas. Felizmente, para o gênero humano, o prestígio da ciência aumenta todos os dias. E, certamente, quanto mais avançar a civilização, mais ela avançará. Em primeiro lugar, porque a ciência fará descobertas sempre mais numerosas, mais profundas e mais surpreendentes; em seguida, porque os homens, libertados das concepções mitológicas e infantis, terão os espíritos melhor preparados para receber os ensinamentos provenientes de pesquisas positivas, precisas, exatas. Em breve, certamente, daremos o último passo, e a autoridade da ciência se imporá de modo completo no domínio dos conhecimentos sociais. Então, chegaremos a fazer uma política racional, como já fazemos máquinas elétricas racionais, porque construídas unicamente sobre dados positivos, e não sobre tendências subjetivas. A autoridade sem apelo da ciência já não é mais contestada pelo grande público em tudo o que diz respeito aos fatos físicos e biológicos. NOVICOW, 1910. 
Nietzsche (cit. Matos, O., A polifonia da razão, 1997: 134) não viveu para se divertir com o advento da Quântica, da Relatividade, da Covariança, mas inspirado nos já positivados teve tempo de advertir sobre a falta de humildade que assolaria o desavisado Novikow. 
Em algum ponto perdido deste universo cujo clarão se estende a inúmeros sistemas solares, houve uma vez um astro sobre o qual animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o instante da maior mentira e da suprema arrogância da história universal.
Nietzsche morreu como louco; e os sensatos estenderam a ilusão.
Houve Augusto Comte. Pensava conhecer o futuro que estava reservado à humanidade. E, portanto, considerava-se o supremo legislador. Pretendia proibir certos estudos astronômicos por considerá-los inúteis. Planejava substituir o cristianismo por uma nova religião e chegou a escolher uma mulher para ocupar o lugar da Virgem. Comte pode ser desculpado, já que era louco, no sentido mesmo com que a patologia emprega este vocábulo. Mas como desculpar seus seguidores? VON MISES, Ludwig: 31


Para suceder Júlio de Castilhos só mesmo outro com igual viés. Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863 -1961) se adonou do poder por 25 anos.
Num primeiro momento, à transição, Borges escolheu um nome de segunda linha, para ocupar o espaço, até sua reinvestidura. O governo de Carlos Barbosa permaneceu sob seu chicote. Condizendo com a perspectiva positivista que orientava esses "políticos", não cabia a um subordinado questionar as decisões tomadas pelo superior. O principal argumento positivista - a espada - além de vencer o dragãozinho liberal, garantir a “eleição” do marechal Hermes, e a permanência do ditador estadual Borges de Medeiros, abriu alas para a transferir o Piratini para o comando fascista de Getúlio Vargas. E com a revolução de 1930, Gegê levou o castilhismo ao plano nacional. Antônio Paim estabelece o liame:
A evolução da elite política brasileira no sentido de uma tendência abertamente fascista, com o Estado Novo, não poderia ter ocorrido sem trabalho prévio, ao longo de várias décadas, seja do castilhismo, no meio político, seja do positivismo, no meio militar. A base comum que possibilitou o trânsito de uma a outra das posições pode ser apreendida na análise de uma obra que expressa melhor que qualquer outra essa evolução: o Estado Nacional de Francisco Campos (1891/1968).
A elaboração ideológica do autoritarismo nas obras de Torres, Viana e Amaral, produzidas no essencial entre 1914 e 1940, para citar apenas alguns dos nomes mais significativos, pode ser entendida como descendência da linhagem cientificista comtiana e denominada de 'autoritarismo instrumental', como sugere Wanderley Guilherme dos Santos (1978). Os eixos dessa elaboração, que estariam já presentes nas críticas de Torres e Viana ao funcionamento e à ideologia da Primeira República, baseiam-se na pretensão de realizarem uma análise científica, que permitisse a crítica das propostas 'liberais' como ilusórias. LOVISOLO, Hugo, Positivismo na Argentina e no Brasil. - www.anpocs.org.br
Formado pelo Colégio Militar, na tradição da ditadura republicana, de origem organicista-positivista, e “gosto irresistível pelo poder, de origem caudilhesca”, (Lacerda, Carlos, Rosas e Pedras do Meu Caminho, Revista Manchete, Rio de Janeiro, 16/9/1995: 45) o fronteiriço fazendeiro assumiu as rédeas na sela de Comte, não sem antes explicar à grande maioria católica:“Tomo de Comte a filosofia e deixo a religião, que é a caricatura do positivismo.” (Getúlio Vargas, Acad. Brasileira de Letras, p. 123) Jorge (p. 266) acrescenta: “Getúlio foi de fato um seguidor de Augusto Comte, inclusive no conceito de Comte sobre a liberdade individual - à maneira hegeliana - liberdade relativa e não absoluta”. (Getúlio Vargas, Acad. Brasileira de Letras, p. 123)
Brasilianistas que se detiveram sobre a performance de Gegê informam:
“Ele fez uma poderosa e adaptável mistura política. Atuou dentro do lema positivista do Brasil: 'Ordem e Progresso'." (Bourne, Richard, Getúlio Vargas of Brazil (Sphinx of the Pampas) p. 91)
O domínio fascistóide logo foi admitido, e readmitido, através da convocação nacional para o aniquilamento das forças paulistas, na revolta constitucionalista de 1932, traição gaúcha às próprias hostes, mas principalmente à brava gente paulista, com quem tinha previamente combinado o levante.
Destarte, este primeiro grande caudilho brasileiro, fascista declarado, mas antes ainda, e pior, maquiavélico, pode impor um governo ultracentralizador, provadamente criminoso, acobertado pela mais retrógrada legislação, ardilosamente construída a partir das arranjadas e até hoje inacreditavelmente incólumes dialéticas e positivismos que soube copiar, especialmente do grande mentecapto italiano, na última moda: “Mussolini, Hitler, Mustafá Kemal Pacha, Roosevelt e Salazar... Todos eles para mim são grandes homens, porque querem realizar uma idéia nacional em acordo com as aspirações das coletividades a que pertencem.” (Vargas, Getúlio, cit. Monteiro, Gois, A Revolução de 30 e a Finalidade Política do Exército, p. 187)
A personalidade de Getúlio, evidentemente, só podia ser reflexo dos seus ídolos: “Imagem viva da deslealdade, dominado pela idéia de imitar Mussolini ou outro ditador do momento, infligiu terrível choque aos que tinham tido a candura de nele acreditar e a suma prudência de ajudá-lo”. (Jorge, Fernando, Getulio Vargas, um retrato à luz e sombra, p. 16)
Miguel Reale identifica o viés alongado da epistemologia da bestialidade:“Getúlio Vargas foi uma projeção do castilhismo positivista no Rio Grande do Sul.” (3) O historiador Pedro Fonseca retrata como a ação positivista se imiscuiu na produção, nas vidas privadas do sul do Brasil:
Mas acabou vingando a intervenção do Estado em negócios particulares. O Rio Grande do Sul teve maior influência do positivismo, mais do que Santa Catarina e Paraná. Conquistou base social bastante ampla: desde os proprietários de terras da campanha aos comerciantes, exportadores e industriais, sem contar os setores atrelados ou dependentes do próprio Estado, como os funcionários públicos, os colonos e agricultores da região serrana e do Norte e Nordeste do Estado. (4)
Peões em funções destacadas, naturalmente de olho na reserva de mercado, se acotovelavam no trem: "Essa perspectiva cresceu em meio a conflitos e com dilemas entre médicos, positivistas e médicos-positivistas, numa conjuntura política diversa da que prevalecia no restante do Brasil." (5)
Estava inaugurada, agora no Brasil, a ditadura militar, graças aos militares, óbvio, mas também aos pelêgos de classe, engenheiros e médicos em primeiro plano, para em seguida contarem com o batalhão de juristas, depois de economistas, e por fim de sociólogos, viés criado pelo próprio Auguste Comte, o Pai do Positivismo, às custas de dez mil federalistas mortos, degolados, fuzilados, mutilados, aleijados, fora os posteriores ingênuos paulistas, numa repressão jamais vista, nem mesmo nos tempos dos imperadores. A Introdução do Positivismo no Brasil-

O ilustre e conceituado professor de História, Décio Freitas, conheceu a “filosofia” e suplicou:

A doutrina do mal-inspirado profeta (Comte) teve escassa influência na França. Sua maior influência foi no Brasil, e, aqui, só teve integral aplicação no Rio Grande do Sul, através de uma impiedosa e sanguinária ditadura que durou quase 40 anos. Para se consolidar no poder, a ditadura usou da fraude sistemática e do terror jacobino. Provocou guerras civis que alagaram em sangue o RS. Matou-se mais do que na Revolução Francesa: o facão da degola foi a guilhotina dos pampas. Criou-se um regime totalitário de partido único avant la lettre. O modelo de ditadura gaúcha adotado em âmbito nacional em 1930 teve apoio militar, mas foi exercida por civis. A história das ditaduras brasileiras na República é, afinal, a história das ditaduras gaúchas. Temos que reescrever a história das nossas patologias autoritárias: será uma catarse salutar. (6)
Ramiro Barcelos  satirizou a tal República, fulgurante no RS. Colhemos a passagem:

E tudo o mais em São Pedro
Vai morrendo, pouco a pouco,
A manotaços e a sôco
Rolando pelo abismo;
Pois com o tal positivismo,
O home inda acaba louco.
(7)
Antes de Borges de Medeiros, louco foi o próprio Júlio de Castilhos. O venerado impostor chegou ao ápice de planejar o tão pretensioso quanto impressionante epitáfio: “Cada vez mais o mundo será governado pelos mortos”. (8)
Embora Ramiro tivesse razão - muitos escutam vozes e terminam mesmo enlouquecendo - Júlio também tinha: o Brasil continua sendo governado por assombração.(
Einstein e os positivistas do Brasil) "Quem anda por nossas ruas, com medo até de crianças pequenas, e depois se espanta com a descontração das pessoas em outros países pode sentir o preço que pagamos por não vivermos numa república --por termos um regime republicano só de nome Renato Janine Ribeiro - Folha Explica a República
Apregoados instrutores científicos, uma pena que as sumidades não tivessem a menor instrução, e sequer por ela se interessassem:
A vaidade e a presunção de governar além da sepultura é a mais ridícula e insolente de todas as tiranias. Cada geração é, e deve ser, competente em todos os propósitos que as circunstâncias exigirem. São os vivos e não os mortos, que devem ser obrigados. As circunstâncias do mundo estão continuamente mudando e as opiniões dos homens também mudam. Como o governo é para os vivos e não para os mortos, apenas os vivos tem algum direito sobre ele. O que pode ser pensado certo numa situação é achado inconveniente noutra. Em tais casos, quem decide, os vivos ou os mortos?
PAINE,Thomas,
Os Direitos do Homem: 34
Malgrado o desabamento do andaime já no raiar do XX, com a Teoria da Relatividade aferida curiosamente em Sobral, no Ceará, Augusto Comte ainda consegue ditar o futuro, pelo presente:

Pesquisa dá respostas ao atraso do Brasil - O positivismo não foi apenas o primeiro movimento filosófico moderno a influenciar as autoridades brasileiras, já no século passado, mas também conduziu a supervalorização da ciência, a ponto de considerá-la perfeita e acabada, simplesmente pronta a ser ensinada, mas não a ser pesquisada. E desta vez, mais do que nunca, o responsável pelo atraso não é o estrangeiro. Mas deliberadamente local. (9)
Ora revivemos a marmelada de Getúlio, pai dos pobres e mãe dos ricos, levada a efeito pelos partidos que inventou - PTB e PSD. Nada muda de lugar, exceto o prosaico "B".
A Itália dos Césares, de Cavour, de Mussolini, das medidas provisórias, melhor conhece a estupidez da espada. Seu maior mestre contemporâneo, por isso, recomendou "A liberdade é sempre ameaçada e ofendida, e deve encontrar sempre quem a reconquiste, defenda-a e proclame-a virilmente diante de todos." (BOBBIO, N., , 2001: 154).
Alisto-me voluntário.
________

*** O monumento central da Praça da Matriz de Porto Alegre homenageia Júlio de Castilhos, governador do Estado do RS no final do século XIX (1893 a 1899), e líder do positivismo no RS.
O monumento em bronze (construído em 1913, na gestão do governador Carlos Barbosa) mas o Palácio já vinha sendo erguido há décadas. A sumidade que empana a praça foi desenvolvida pelo escultor Décio Villares, que também fez o desenho da atual bandeira do Brasil, contendo a inscrição positivista Ordem e Progresso, da faixa que obstaculiza o brilho das estrelas, os estados. à ditaduras, convém o poder enfeixado, jamais repartido. Porisso Getúlio fez mais: mandou queimar todas as bandeiras dos estados, num espetáculo tão dantesco quanto deprimente, tão ignorante quanto covarde, chaga que até hoje sofremos, inclusive governadores, sujeitos a levarem seus chapéus a Brasília, em busca de uma esmolinha junto à guaiaca de quem nada produz! Uma beleza este tal positivismo.
Júlio de Castilhos nasceu em 1860, no município que tomou seu nome: Júlio de Castilhos. Diplomou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde tomou contato com as idéias positivistas do filósofo francês Augusto Comte. Em 1893, na revolução federalista, derrotou os maragatos (federalistas e monarquistas, liderados por Gaspar Silveira Martins, que usavam lenços vermelhos) como líder dos pica-paus republicanos (adeptos do Estado local forte e autônomo, que usavam lenços brancos).
-

1. 1889.

2. Na Praca da Matriz.
3. Reale, Miguel, cit. em Jorge, Fernando, p. 258.
4. Fonseca, Pedro, Jornal do Comércio, Porto Alegre, 23 /12/1996, p. 2.
5. Weber, B. T. www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59701999000100003

6. Freitas, Décio, As ditaduras gaúchas, Zero Hora, 1/11/1996, p. 27.
7. Barcelos, Ramiro, Antônio Chimango. Correio do Povo - Antônio Chimango faz 80 anos e desnuda o mito do gaúcho rei. - Porto Alegre, 26/11/1995, p. 19. Já beirando o século, nem assim tem adiantado.
8. Cemitério da Santa Casa, ala central, próximo ao túmulo de Pinheiro Machado, Porto Alegre, RS.
9. Makiyama, Marina R., O Estado de São Paulo, 21/5/1995, p. D14.

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