segunda-feira, 24 de março de 2008

Da Escola Austríaca de Economia

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A designação procede de seus fundadores - Carl M Eugen, Böhm-Bawerk e Ludwig von Mises  reconhecido líder da Escola. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia". Complementam-lhes Henry Hazlitt, Murray Rothbard e o premiado com Nobel Friedrich von Hayek. A escola enfatiza o poder de organização espontânea do mecanismo de preços e que detém a complexidade de escolhas subjetivas humanos torna a modelagem matemática do mercado em evolução extremamente difícil (ou impossível). Seus proponentes defendem uma abordagem laissez-faire da economia e à execução de acordos voluntários contratuais entre os agentes econômicos, mas por outro lado a menor imposição da força coercitiva (especialmente impostas pelo governo) sobre as transações comerciais À afamada escola o empresário se torna uma espécie de artista, um visionário, um tomador de risco, e um pioneiro. Para ser bem sucedido - ironia -  ele geralmente será encontrado correndo contra a multidão, ou pelo menos à sua frente.
Razões epistemológicas
O colapso do socialismo não foi mero acidente histórico, resultante da barbárie da União Soviética ou da perversão de carniceiros como Stalin e Mao Tsé-Tung. Era algo cientificamente previsível. Os aludidos cientistas sociais teriam certamente chegado a essa conclusão se, ao invés de treslerem a história, tivessem lido os grandes liberais austríacos. ROBERTO CAMPOS
Durante longo tempo o ideal do conhecimento científico foi aquele que Laplace havia formulado com sua idéia de universo totalmente determinista e mecanicista. Segundo ele, uma inteligência excepcional dotada de uma capacidade sensorial, intelectual e computacional suficiente poderia determinar qualquer momento do passado e qualquer momento do futuro. É essa visão pueril e talvez louca do mundo que está prestes a desmoronar, mas ela ainda reina, e efetivamente excluiu todo o problema da reflexividade. EDGAR MORIN
A parca suposição veio de longe. PLATÃO (Timeu. 26a) reivindicou, e atirou o Ocidente no delírio:  a ordem e a beleza que vemos no Cosmo resultava de uma intervenção racional, intencional e benigna de um divino artesão,o 'demiurgo' (gr. δημιουργός) que impôs a ordem matemática ao caos preexistente e, assim, produziu um Universo divinamente organizado, perfeito, eterno porquanto imutável. Destarte  a civilização devidamente comandada arranjou  radares, satélites,  microondas, câmeras, e viagens espaciais. Continuamos, todavia,  incapazes de prever a intensidade das cheias, como de resto de qualquer distúrbio da natureza. Se fatores sem alma perfazem comportamentos ininteligíveis, por ocorrência simultânea de milhares de incidentes, o que dizer das influências sofridas e expressadas pelos humanos? Que precisão daí pode advir? De que tipo de sociologia se pode dispor? Como prevenir tantas interferências? Que plano econômico pode ser exitoso, ou blindado? Como deter uma revolta metafísica? A Babel foi implodida no primeiro quarto do XX em fogo cruzado. . Caiu seu mirante.
O princípio da casualidade, antes considerado o fundamento incontestável de toda interpretação dos fenômenos naturais, revelou-se um referencial estreito demais para abarcar as regularidades singulares que regem os processos atômicos individuais BOHR, N., Física atômica e conhecimento humano: 30
Todas as coisas do Universo oscilam em diferentes freqüências. Essas oscilações geram campos de ondas. O material apreciado se reduz a mero movimento ondulatório, uma waveform, informado através do campo conector e da memória produtora. As partículas carregadas "excitam" o estado fundamental do vácuo gerando diminutos vórtices. O campo resultante é um sistema de pacotes de ondas giratórias de elétrons e pósitrons. Dessarte, os spins promovem a depressão necessária para a felicidade acorrer ao espaço em que se encontra o fenômeno, como uma espécie de magnetismo. "Isto faz dos seres vivos elementos numa vasta rede de inter-relações que abarca a bioesfera de nosso planeta – que em si mesma é um elemento interligado dentro das conexões mais amplas do campo psi que se estende pelo cosmos." (LASZLO: 198)
O conceito de um mundo sutilmente interligado, um oceano cósmico no qual estamos intimamente ligados uns aos outros e à natureza, assimilado por nosso intelecto e abraçado por nosso coração, poderá talvez inspirar novos modos de pensar e de agir que transformem o espectro de uma derrocada global no triunfo de uma renovação global – uma renovação para uma era mais humana e sustentável. (Idem: 205)
O cientismo do dirigismo
Contra o ambiente intelectual então prevalecente, e dando provas de uma extraordinária coragem, Hayek defendeu em 'O Caminho para a Servidão' que os totalitarismos de esquerda e de direita têm uma origem intelectual comum, cuja principal característica é a rejeição da tradição liberal do Ocidente. Para Hayek, comunismo e nacional-socialismo são dois produtos de uma mesma atitude intelectual, que gradualmente levou ao abandono dos ideais liberais e da própria tradição assente no respeito pela esfera de autonomia individual que está na base da civilização ocidental. Numa altura em que muito poucos estavam dispostos a reconhecê-lo, Hayek afirmou explicitamente que a ascensão do fascismo e do nazismo, longe de serem reacções à difusão das ideias socialistas eram o seu corolário inevitável. André Azevedo Alves, www.causaliberal.net
Ao percorrer as profundezas do inferno da Divina Comédia Dante  testemunhava o castigo imposto para quem faz previsão: ser preso com uma corda no pescoço, com a cabeça voltada para trás. A civilização ainda corre o risco, levada por governos de insanos quiromantes. Acertar na loteria é um sonho constante, que empana qualquer realidade. Para consagrar o medieval, muita corda é espichada. Ao arrepio dos hóspedes de Belzebú, contudo, nem a natureza, tampouco a realidade são suscetíveis de doma:
Quando a mente toma a dianteira do espírito, constrói uma sociedade contra a natureza e persiste em seus conceitos até que apareça a Grande Complexidade proveniente de seus próprios processos. Ela percebe então que já não pode administrar essa realidade, nem quantativamente, nem qualitativamente. RANDOM: 208
Tanto os sistemas caóticos como os sistemas não-lineares mais gerais têm o potencial de propiciar insights mais profundos sobre o modo de funcionamento do mundo do que o modelo linear tradicional da ciência. Até dez ou quinze anos atrás, a maior parte da ciência – não só a teoria econômica, mas também a física e a engenharia – era dirigida por técnicas lineares de análise. (ORMEROD: 1996: 194).
Cosmos e Taxis
Cientistas se dedicam ao estudo do comportamento em sistemas turbulentos, como a ordem emerge dessa variedade incalculável de vetores incidentais, movimentos nucleares, e como os sistemas alcançam níveis mais elevados na diversidade. Abundam livros de 'como prosperar no caos'. Friedrich von HAYEK (The Confusion of Language in Polítical Thought; London, 1968; cit. MAKSOUD: 83) estabeleceu suas assertivas econômicas pelo molde:
Uma ordem existente, ou que se formou independentente de qualquer desejo humano, constitui uma ordem espontânea, ou um cosmos, denominação advinda do grego antigo que alguns filósofos políticos modernos recomendam para distinguir a ordem espontânea da ordem artificial, construída, projetada, sistemática ou não espontânea, que chamam taxis. Para formar um cosmos comum as pessoas só precisam, pois, concordar com regras abstratas (normas gerais de conduta aplicáveis em número incerto de casos futuros) enquanto que para formar uma organização elas precisam ou concordar ou serem forçadas a aceitar uma hierarquia de objetivos predeterminados. Portanto, somente um cosmos pode constituir uma sociedade aberta, enquanto que uma ordem política concebida como uma organização taxis será fechada, tribal.
Passado mais de meio século, a Escola permanece granjeando prestígio da comunidade científica internacional:"Um enfoque da economia que é mais compatível com um mundo caoticamente dinâmico é o da economia austríaca." (Parker, e Stacey: 104)
Economistas redescobrem o trabalho de Joseph Schumpeter, que falou da 'destruição criativa' como necessária ao progresso. Numa tempestade de tomadas de controle acionário, alienação de bens, reorganizações, falências, deslanches, joint ventures e reorganizações internas, toda a economia está adquirindo uma nova estrutura que é anos-luz mais diversa, ágil e complexa do que a antiga economia das chaminés. (Toffler e Toffler: 74).
Então, em setembro de 1987, 20 pessoas se reuniram no Instituto Santa Fé para discutir 'A Economia como Sistema Complexo Adaptativo'. Dez eram economistas teóricos, convidados por ninguém menos que Kenneth Arrow, um dos economistas mais importantes do século XX e que em 1972 dividiu o prêmio Nobel de economia com Sir John Hicks*. Além de sua contribuição com Debreu para a prova matemática da existência do equilíbrio geral, Arrow também provou que a escolha social, ou de decisão social, não é necessariamente racional por poder transgredir o princípio da transitividade. Arrow percebeu que, antes dele, economistas como Adam Smith, Schumpeter, Hicks, Marshall, Friederich Hayek e outros haviam entendido as implicações de fenômenos complexos para a economia, mas não possuíam o instrumental necessário para estudá-los formalmente.
Schumpeter formou-se na Universidade de Viena e foi aluno de Eugen Böhm-Bawerk, precursor da escola econômica austríaca. Schumpeter seguiu, ainda que de maneira incompleta, a teoria austríaca, dando ênfase às ações inovadoras dos empresários no mercado, criadoras de novos bens e novas tecnologias, num de scarte dos bens e processos antigos, denominado por ele de “destruição criadora”, essenciais ao desenvolvimento econômico sustentado (Teoria do Desenvolvimento Econômico).
Hayek, de tradição austríaca e aluno de Menger, possuía sério conhecimento e interesse em teorias de sistemas e cibernética, campos de estudo relacionados com complexidade." (Gleiser, I: 187).
As utopias coletivistas nos reduzem a uma condição de absoluta servidão, ainda mais submissos do que animais inferiores.
A referida concepção de 'direitos sociais' só é compreensível se a sociedade for entendida como uma organização dirigida centralmente, com fins específicos e com o necessário domínio sobre os seus membros para prosseguir os seus objectivos colectivos. No entanto, uma sociedade assim concebida impossibilita necessariamente o respeito pelos direitos individuais 'tradicionais' ou negativos. (André Azevedo Alves, www.causaliberal.net/documentosAAA/hayek1.htm)
Isso não se verifica, sequer, em formigueiros:
Consideremos uma colônia de formigas cujo movimento, aparentemente browniano, vai aparecer agora, após longo tempo, ordenado na construção de um formigueiro. Esse último é uma obra gigante com relação a dimensão dos indivíduos, e uma obra bastante regular com relação a desordem do vaivém deles.
(Michel Serres, cit. Descamps, C., p. 101.)
A Escola teve o mérito de sinalizar as más intenções dos pastores-do-pasto-verde. Seu brilhantismo, contudo foi ofuscado pelas estúpidas engrenagens sociais vigentes durante o século das maiores barbáries políticas. Passadas as tempestades nazistas, fascistas e marxistas, mister vasculhar o rescaldo e, humildemente, reconhecer a incapacidade do homem em programar os destinos da humanidade. Felizmente.
Existem, atualmente, programas de doutorando em Economia Austríaca na New York University, na Auburn University (Alabama) e na George Mason University (Fairfax, Virginia). Mises Institute foi fundado em Auburn, concentrando-se, no momento, no desenvolvimento da compreensão do livre mercado. O Mises Institute planeja publicar um Journal of Austrian Economics (Revista de Economia Austríaca), editado por Murray Rothbard e Walter Block. A George Mason University tem um Centro de Estudos de Processos de Mercado (além do Centro de Escolha Pública, que se transferiu da Virginia Polytechnic Institute). Ele publica um informativo a cada dois anos, contendo notícias de publicações e críticas de livros e de conferências.

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* Economista britânico nascido em Leamington Spa, Warwickshire, England, ganhador do Prêmio Nobel de Economia (1972) por suas contribuições pioneiras na teoria do equilíbrio econômico geral e a teoria do bem estar social, dividido com Kenneth Joseph Arrow. Filho de um jornalista, foi educado no Clifton College (1917-1922) e no Balliol College, Oxford (1922-1926), onde estudou essencialmente matemática, mas também literatura e história. Casou-se (1935) com Ursula Webb, e tornou-se university lecturership em Cambridge (1935-1938) e fellowship de Gonville e do Caius College. Foi professor na University of Manchester (1938-1946), retornou para Oxford (1946), inicialmente com um research fellow do Nuffield College (1946-1952), depois como Drummond Professor de Political Economy (1952-1965) e finalmente como um research fellow do All Souls College (1965-1971). Foi o autor de várias obras importantes, dentre as quais se destacam Value and Capital (1938), Capital and Growth (1965) e A Theory of Economic History (1969). De um modo geral, pesquisou os seguintes assuntos em sua profícua carreira: a) expectativas, equilíbrio e desequilíbrio; b) preços fixados e a teoria dos mercados; c) dinâmica: mudanças, flutuações e crescimento; d) trabalho, produção e substituição; e) capital e acumulação; f) moedas, finanças e liquidez; g) Keynes e economia keynesiana; h) causalidade econômica: circunstâncias e explicações; e i) história econômica. Entre suas muitas honrarias foi Fellow da British Academy (1942), membro estrangeiro da Royal Swedish Academy (1948) e da Accademia dei Lincei, Itália (1952) e da American Academy (1958). Foi President of the Royal Economic Society (1960-1962) e tornou-se cavaleiro (1964). Recebeu também vários títulos honorários e morreu em Blockley, Gloucestershire. http://nobelprize.org/

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